11 de dezembro de 2021
19:12
Nauzila Campos – Da Revista Cenarium
O empreendedorismo feminino no Amazonas guarda, além do lucro, muitas histórias. Desde quem largou toda a formação para começar do zero, até quem procurou apenas uma renda extra durante a gravidez e acabou encontrando o trabalho da vida.
“Dispa-se de tabu”, diz a página inicial do site Tabu Lingeries e Sexshop, empresa administrada por Viktória Martins. A ideia é que clientes se sintam bem à vontade – bem mesmo, já que a intenção da loja e-commerce é desmistificar a vergonha em comprar produtos eróticos. Viktória faz as compras, o controle de estoque, pesquisa novidades no mercado e tudo mais, sozinha, desde fevereiro. “Em agosto, expandi inserindo a aba de produtos eróticos, dividindo entre cosméticos e acessórios. A Tabu vem da ideia de desmistificar. Comprar lingerie não é só para sair com alguém! É para todo ser que quer se sentir livre e desejado”, declara a empresária.
Já a história da Aila Queiroz com o empreendedorismo começou na maternidade. A Balance Smell, que vende cosméticos artesanais e sabonetes, nasceu junto com a filha Saori, de um ano. “Comecei o autocuidado comigo e pensei em outras pessoas, dentro e fora da maternidade, que precisavam de produtos acessíveis, com facilidade para uso e eficazes”. Ela se refere à linha diferenciada que produziu: o kit autocuidado. A ideia é proporcionar um momento “seu com você mesmo”, como diz o perfil do Instagram da loja. Um sabonete de argila, um esfoliante e um hidratante clareador artesanalmente preparados são o pacote para o carinho consigo.
Um pedacinho da maternidade está em tudo. “Como o intuito da loja era trabalhar em casa para ficar próximo da minha filha, a ‘BS’ prega muito forte a bandeira do empreendedorismo feminino e materno”, disse Aila.
Também existem as empreendedoras “old school”, que se modernizaram com a ajuda dos filhos. É o caso de Márcia Mara da Silva, de 46 anos, que sempre se dedicou ao segmento da alimentação, mas se encontrou na confeitaria, há 5 anos – e a filha ensinou a fazer e a administrar um perfil no Instagram. A lojinha Açúcar e Afeto Bolos e Doces “é um trabalho que me relaxa e eu posso mostrar minha criatividade. Além de ser uma coisa prazerosa, é também de onde eu tiro meu sustento. É trabalhoso, mas é gratificante”, conta a confeiteira que agrada a todos os tipos de público, dos mais novos aos mais velhos que querem reviver a infância no dia do aniversário.
Começando do zero
Márcia se reinventou sem sair da cozinha, mas Flávia Bentes largou a profissão de enfermeira para se dedicar integralmente à especialização em cachos e colorimetria de cabelos (Flávia Bentes Hair). A cabeleireira pintava os próprios cabelos e dos amigos, há anos, até se dar conta de seu talento na área. Assim, começou a ganhar dinheiro no ramo. “Eu estou completamente apaixonada por esse mundo. Sou especialista em cabelos ondulados, cacheados e crespos, e estou me especializando em ruivos e coloridos. Entrei nesse mundo de empreendedora com muito medo, porque eu não tinha nada no bolso, continuo com medo, mas agora eu aprendi que se eu não tentar, eu nunca vou saber o resultado”.
Além de ganhar dinheiro, Ana quer passar uma mensagem como empreendedora: “quero mostrar para as mulheres que elas podem deixar para trás a ditadura de que só o cabelo liso é bonito, que elas podem ter o cabelo liso, cacheado, crespo e do jeito que elas quiserem. Mostrar que frizz é algo normal, ensiná-las a cuidar do cabelo natural delas, pois eu nunca tive isso, eu nunca fui a um cabeleireiro que soubesse cortar o meu cabelo. Eu tive que ensinar meu primo a cortar cabelos ondulados, cacheados e crespos para poder ter um corte que valorizasse as minhas ondas. Tive que aprender sozinha que creme comprar, que produtos usar, como pintar meu cabelo sem perder as ondas e, hoje, estou aqui para fazer isso por elas”.
Dicas para o Natal? Temos. Nathalie Corado fundou a nati.sserie, loja virtual de doces, em um momento financeiro difícil. Depois de uma demissão, o que restou para pagar os boletos aplicou em um curso de panetones, para relembrar a prática de confeitaria da mãe. “Eu sempre tive muito contato e facilidade com a confeitaria porque minha mãe fazia doces desde que eu era bem pequena. Sou formada em Direito, mas não cheguei a exercer a profissão, ainda. Atualmente, faço cookies e, para o Natal, chocotones recheados”, disse a empreendedora. Os doces são de dar água na boca. Vai um chocotone aí?
Talento e criatividade
“Amigurumi” é o nome da arte que Tácylla Araújo produz. São bonecos e bichinhos de pelúcia feitos por encomenda em crochê. A técnica japonesa é bastante complexa, mas Tácylla aprendeu tudo sozinha e ainda criou a Patas de Aranha para vender o que produz. “Eu sou arquiteta, mas graduei já grávida. Daí veio a pandemia e então não pude exercer a profissão estando formada ainda. O amigurumi foi uma válvula de escape para a gravidez não planejada e para esse confinamento que estamos vivendo. Acabou se tornando minha principal fonte de renda”, conta a crocheteira paraibana que mora em Manaus há 19 anos.
Empreender na comunicação em Manaus – um grande desafio
Outra mulher que escolheu Manaus como casa e local para empreender foi a paraense de Porto Trombetas Hélida Tavares, jornalista experiente em reportagem e assessoria de imprensa. Em Manaus, há 20 anos, depois de muita história com o jornalismo, apostou no mundo empresarial, em 2014, com a agência que teve como primeiro nome ‘Porto Comunicação’. “Abri a empresa pela demanda de assessorias de comunicação que estavam acontecendo e todo mundo perguntava se eu já tinha empresa. E, depois que abri, as coisas realmente começaram a acontecer”, disse.
Atualmente chamada ‘Agência Porto’, a firma atende, atualmente, quase que na sua totalidade os serviços de publicidade de governos municipais e estaduais. “Tem três anos que mudamos nossa atuação quase que 100% para publicidade, pela demanda de mercado, e foi uma paixão instantânea para mim e a equipe”, afirmou Hélida. Ela conta ainda que, mesmo sendo dona, gosta de estar trabalhando diretamente com seus produtos finais. “Se você não colocar a mão, você, proprietária, as coisas não saem 100%. Eu meto a mão na massa mesmo. A gente assessora prefeituras do interior. No interior eu vou lá, meto o pé na lama, saio da zona de conforto, porque é necessário você estar nos projetos que você coordena”.
Hélida é a única sócia da Agência Porto (também tem uma produtora) – e sempre é questionada em reuniões com a pergunta “quem é o seu sócio?”. “Eles nem perguntam se eu tenho sócia, mulher. Eles sempre se assustam quando eu falo. Eu sou a sócia proprietária, sou a única, sou a dona. (…) E para o futuro, eu quero que as pessoas se comuniquem bem, alcancem o público que elas querem. Que nós tenhamos infinitos projetos para tocar e cuidar”, relata a empresária.