23 de agosto de 2024
13:08
Gabriel Abreu – Da Cenarium
MANAUS (AM) – O Ministério Público do Amazonas (MP-AM) deu parecer favorável para que Ademar Cardoso, irmão da ex-item do Boi Garantido Djidja Cardoso, seja solto e cumpra quatro medidas cautelares. Ademar, investigado no âmbito das apurações da seita “Pai, Mãe, Vida”, foi indiciado pela Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) por tráfico de drogas, associação para o tráfico e estupro. Ele usava as redes sociais para compartilhar teorias da conspiração sobre alienígenas e dimensões alternativas, que estariam conectadas às crenças da seita. A PC-AM apontou que ele era um dos líderes da organização.
O promotor de Justiça André Virgílio Belota Seffair defendeu que Ademar Cardoso não poderá ter contato com as testemunhas do caso, terá que se recolher no período noturno, comparecer em juízo e está proibido de deixar Manaus. A decisão caberá ao juiz Celso Souza de Paula, do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), da 3ª Vara Especializada em Crimes de Uso e Tráfico de Entorpecentes da Comarca de Manaus. As primeiras audiências do Caso Djidja Cardoso estão marcadas para o dia 4 de setembro.
“Requer a revogação da prisão preventiva decretada contra o Requerente, sendo-lhe aplicadas QUAISQUER medidas cautelares diversa da prisão, entre as insculpidas no art. 319 do CPP, permitindo àquele que responda ao processo em liberdade, por ser medida de Justiça, permitindo ao Requerente que mediante compromisso responda a todos os atos da ação penal contra si ajuizada pelo Ministério Público do Estado do Amazonas, comprometendo-se a comparecer a todos os atos processuais para os quais for solicitado, bem como de informar as suas atividades laborativas, acatando ademais regras que lhe for imposta por Vossa Excelência [juiz do caso”, alega a defesa em pedido feito à justiça do Amazonas.
Leia também: Justiça decreta prisão de família de Djidja Cardoso e funcionários de salão
Dois dias após a morte da ex-item do Garantido, em 30 de maio, a CENARIUM revelou, com exclusividade, cinco mandados de prisão e de busca e apreensão contra familiares de Djidja e funcionários do salão Belle Feme. O irmão e a mãe da ex-item do Boi Garantido, Ademar Cardoso e Cleusimar Cardoso, respectivamente, foram presos tentando fugir da polícia.
Também havia a determinação para prender os funcionários do Belle Femme identificados como Verônica da Costa Seixas, Claudiele Santos e Marlisson Dantas. Apenas a gerente do estabelecimento continua presa. Marlisson e Claudiele estão liberdade sendo monitorados por tornozeleira eletrônica.
O abuso de cetamina, uma substância de uso veterinário, pode ter sido a causa da morte de Djidja Cardoso, em 28 de maio, na residência onde morava em Manaus. Antes da morte da empresária, a polícia já investigava a criação da seita religiosa “Pai, Mãe, Vida”, liderada por Ademar Cardoso, que cooptava funcionários da rede de salões administrada pela família Cardoso a fazer o abuso da substância ilícita cetamina nos rituais.
Conspirações no Instagram
Ao se descrever como “observador” em seu perfil no Instagram, Ademar realizava diferentes publicações de imagens acompanhadas de longos textos sobre reencarnação, origens estelares, eletromagnetismo cósmico e planetas fora do Sistema Solar.
Em outras postagens, Ademar mescla elementos do budismo com informações distorcidas sobre civilizações antigas e aspectos de realidades paralelas. Além disso, ele escrevia sobre o mundo ficcional criado pelas irmãs Wachowski no filme Matrix (1999), como se de fato fosse algo real e palpável à humanidade fora das telas.
Caso de estupro
A ex-companheira de Ademar afirmou, em depoimento à polícia, que era forçada pelo ex-noivo a fazer uso de drogas na casa da sua família e que, enquanto estava sob efeito de drogas, Ademar estuprava a jovem enquanto ela estava inconsciente. A vítima chegou a sofrer um aborto pelas circunstâncias que se encontrava.
(*) O nome não será divulgado porque a mesma é considerada uma das vítimas de Ademar, incluindo estupro.
Justiça aceita denúncia
O juiz de direito titular da 3.ª Vara Especializada em Crimes de Uso e Tráfico de Entorpecentes (3.ª VECUTE), Celso Souza de Paula, aceitou a denúncia oferecida pelo MPAM, que tem dez pessoas acusadas de tráfico de substâncias entorpecentes. As dez pessoas foram indiciadas pela PC-AM a partir da morte da jovem Djidja Cardoso.
Dos dez acusados, quatro respondem ao processo em liberdade e seis estão presos. Na mesma decisão em que aceitou a denúncia do MPAM, o magistrado negou o pedido apresentado pelas defesas de quatro deles para relaxamento da prisão.
Com o recebimento da denúncia, a Vara também pautou a audiência de instrução inaugural para 4 de setembro deste ano. Na ocasião, serão ouvidas as testemunhas de acusação, depois as de defesa e, por último, os acusados. Devido ao número de testemunhas e acusados, a tendência é que até o encerramento da instrução sejam utilizadas outras datas para a conclusão dessa fase processual. O processo tramita em segredo de justiça.
Trajetória
Djidja Cardoso, tinha 32 anos, morreu na terça-feira, 28 de maio, na residência onde morava, no bairro Cidade Nova, Zona Norte de Manaus. Segundo a polícia, a “causa da morte ainda não foi determinada e só poderá ser confirmada após a realização do exame necroscópico“.
Relatório preliminar do Instituto Médico Legal (IML), no entanto, indica que a causa da morte é considerada “indeterminada”, ocasionada por “depressão dos centros cardiorrespiratórios centrais bulbares; congestão e edema cerebral“.
A morte da empresária trouxe à tona conflitos familiares que, até então, só eram conhecidas nos “bastidores”. No Facebook, a também empresária Cleomar Cardoso, tia de Djidja Cardoso, responsabilizou a mãe da ex-sinhazinha, Cleusimar Cardoso, e funcionários do salão de beleza Belle Femme de Manaus por omissão de socorro por impedirem familiares de internarem a vítima, que era dependente química. Djidja Cardoso era proprietária da unidade do empreendimento em Manaus.