Amazonas tem maior mortalidade da pandemia no Brasil; desrespeito ao isolamento contribui

Pico da contaminação do estado ainda será em maio, com previsão de maior infectados e mortes, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde. Foto: Ione Moreno / Semcom

30 de abril de 2020

19:04

Nícolas Marreco – Da Revista Cenarium

A alta contaminação pelo novo Coronavírus no Amazonas é posta, principalmente, pela não adesão correta ao distanciamento e isolamento social. Nesta quinta-feira, 30, o índice de isolamento no estado estava em 51,6%, conforme dados divulgados pela empresa Inloco, do setor de segurança da informação e antifraude. 

Na região Norte, o Amazonas é terceiro entre os sete nos que mais cumprem os decretos de distanciamento, segundo a plataforma. O estado possui a maior taxa de mortalidade do País por 1 milhão de habitantes, de 103, segundo o Ministério da Saúde. Também entrou, hoje, para a segunda maior taxa de contagem de casos da pasta quando passou dos 5 mil infectados.  

A média de isolamento da região Norte, que é a terceira mais impactada pela pandemia, é de aproximadamente 50%, conforme o Inloco. Pará está em primeiro lugar, com 53,9% de adesão, seguido pelo Amapá (52,8%) e Amazonas. Em seguida, vem Acre (47,3%), Roraima (43,6%), Rondônia (43,1%) e Tocantins (41,6%).  

A base de cálculo conta 60 milhões de dispositivos móveis para prover as estatísticas. A empresa afirma que coleta apenas a localidade dos dispositivos, a partir de um software integrado a aplicativos de terceiros e contagem de visitas de estabelecimentos. Isso, segundo a empresa, torna o rastreamento 30 vezes mais preciso do que o GPS. O índice criptografa os dados e observa apenas a movimentação das pessoas nos bairros e regiões. 

Amazonas é o que mais padece 

Contrastando com os números do MS, o risco ao qual o estado está exposto é muito maior se comparado aos outros estados do Norte, o que mostra preocupação com a taxa atual de isolamento dos amazonenses. Nos índices de incidência e letalidade da Covid-19, por 1 milhão de habitantes, Pará, no topo do isolamento, segue com 334 e 24, respectivamente. 

O índice de incidência no Amazonas é de 1.268. Já Tocantins, com a menor taxa de isolamento conforme a Inloco, possui incidência de 87 e mortalidade de 2. Nesse cenário, a adesão ao isolamento no Amazonas ainda está em queda nos últimos dias. A taxa que já alcançou 60%, passou para 53,6% no último 18 de abril. 

O assessor da sala de situação de saúde da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), Daniel Barros, indicou que o registro de casos aponta que o estado está na fase de aumento da contaminação, com tendência de elevação diária. “De acordo com os modelos epidemiológicos, a estimativa é que o pico [da contaminação] ocorre em maio. É possível que os casos sejam ainda maiores que abril”, alertou. 

Ele diz que as previsões podem ser diferentes no caso da população atender às recomendações de permanência em isolamento, reduzindo o risco de propagação da doença.  

Medidas de restrição 

Nesta semana, o governador Wilson Lima (PSC) encaminhou ofício ao general do Exército Estevam Gaspar de Oliveira, chefe do Comando Militar da Amazônia (CMA), no reforço ao isolamento da população. Para além da ajuda no assistencialismo, incluindo logística no transporte de corpos, a fiscalização nas ruas e no distanciamento em filas de bancos foram pontos frisados pelo governador.  

Também pediu continuidade de apoio nos planos de contingências dos distritos indígenas em regiões de fronteira. O governo prorrogou até 13 de maio as medidas de restrição, e montou um comitê para a flexibilização do isolamento, conforme a curva de contaminação. O decreto que estabelecia o funcionamento apenas de serviços essenciais foi assinado com data até hoje, 30, sendo já postergado uma vez.