Após criança indígena ser morta e abusada sexualmente por cinco homens, lideranças pedem justiça

Menina foi jogada de um penhasco; tio da vítima participou do estupro (Arte: Marte Moura/@garotasmare)

12 de agosto de 2021

18:08

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS (AM) – Ativistas e lideranças indígenas imploraram nas redes sociais por justiça no caso de feminicídio da criança Raissa Guarani Kaiowá, da etnia Guarani Kaiowá, de apenas 11 anos idade, encontrada morta e sem as roupas, na manhã de 9 de agosto, em uma pedreira desativada na aldeia Bororó, comunidade onde morava na reserva indígena federal de Dourados, em Mato Grosso do Sul. Segundo a Polícia Civil (PC), a jovem foi vítima de um estupro coletivo e foi a óbito ao ser jogada de um penhasco de, aproximadamente, 20 metros de altura. Na terça-feira, 10, cinco homens confessaram ter praticado o crime e foram presos.

Penhasco em que a menina foi jogada (Reprodução)

A líder indígena Sonia Guajajara ao falar do caso, em uma publicação no Twitter, lembrou ainda o assassinado da adolescente Daiane Griá Sales, de 14 anos, também encontrada morta no dia 4 de agosto nas proximidades da Terra Indígena Guarita, no município de Redentora, noroeste do Rio Grande do Sul. Daiane estava com a parte inferior do corpo dilacerada, provavelmente por ação de animais, segundo o delegado responsável pelo caso, Vilmar Alaídes Schaefer.

“Hoje, Dia Internacional dos Povos Indígenas, recebemos mais uma notícia triste que mata parte de nós. Semana passada foi Daiana Kaingang brutalmente assassinada esquartejada, hoje Raissa Guarani Kaiowá, parem de matar o corpo e futuro de nossas crianças e jovens. Exigimos justiça”, escreveu Sonia, no Twitter.

A Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), em nota pública, classificou os casos como atrocidade e afirmou que não deixará os crimes passarem impune. Para a entidade, quem comete violações como essas contra mulheres indígenas, mata igualmente a si mesmo e também o Brasil.

“A Articulação Nacional das Mulheres Indígenas reivindica justiça! Não deixaremos passar impune e nem nos silenciarão. Lutamos pela dignidade humana, combatendo a violência de gênero e tantas outras violência de gênero e tantas outras violações de direitos. As violências praticadas por uma sociedade doente não podem continuar sendo banalizadas, repleta de homens sem respeito e compostura humana, selvageria, repugnância e macabrismo. Quem comete uma atrocidade desta com mulheres filhas da terra, mata igualmente a si mesmo, mata também o Brasil”, diz trecho da nota.

O caso

O abuso sexual foi confirmado após o exame necroscópico. Entre os cinco homens que confessaram o crime, três eram adolescentes de 16, 14 e 13 anos, e dois adultos, sendo um desses tio da vítima. Os suspeitos disseram à polícia que quando a menina desmaiou e retomou a consciência, começou o plano do homicídio. Nesse momento, após a vítima ameaçar denunciar os suspeitos, ela foi arrastada pelos cabelos até a pedreira.

“A princípio, eles combinaram e levaram essa menina lá para cometer crime sexual contra ela e, após violentarem ela durante a noite toda, eles acabaram arremessando ela do penhasco com a ideia de tirar a vida dela, porque ela teria recobrado a consciência, começou a gritar, pedir socorro dizendo que ia denunciá-los e eles acabaram arremessando ela”, disse o delegado Erasmo Cubas, responsável pelo caso.

Ao retomar a consciência, a menina foi jogada do penhasco (Reprodução)

O corpo de Raissa foi achado por familiares na pedreira desativada. As roupas da menina, que estava nua, foram encontradas no topo do penhasco de pedras.

Segundo o delegado, durante o período da noite em que a menina estava sendo violentada, os suspeitos obrigaram a vítima a ingerir bebida alcoólica e iniciaram o abuso sexual coletivo, quando o tio da criança teria chegado ao local, presenciou a situação e também ajudou a violentar a sobrinha.

“É um crime brutal. É até difícil de falar e ouvir da forma que foi dito por eles”, afirmou o delegado. Ainda conforme Cubas, o tio de Raissa também confessou que estuprava a menina desde que ela tinha 5 anos de idade.

Os acusados serão indiciados pelos crimes de estupro de vulnerável, feminicídio e homicídio qualificado. Os adolescentes devem responder por atos inflacionários análogos aos mesmos crimes.