Após duas décadas, cinema amazonense retorna às competições do Festival de Gramado

Filme conta história de irmãs que herdam um barco da família. Enquanto uma cuida do bem com esmero e preocupação, sua irmã prefere beber com as amigas e se envolver sem compromisso com homens do porto (Reprodução)

13 de agosto de 2020

08:08

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Pela primeira vez neste século, o Amazonas terá representante no maior e mais tradicional festival de cinema do país, o Festival de Cinema de Gramado. O filme “O Barco e o Rio”, dirigido e roteirizado pelo professor de inglês Bernardo Ale Abinader, fez o Estado retornar para a mostra competitiva de curtas-metragens nacionais após 23 anos. O evento acontece de forma online na terra gaúcha entre os dias 18 e 26 de setembro deste ano.

O elenco do curta de 17 minutos traz as atrizes Carolline Nunes e Isabela Catão como protagonistas. O filme foi produzido pela FitaCrepe Filmes e Artes Cênicas, com apoio da Prefeitura de Manaus, por meio da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (ManausCult).

Desde 2011, também, quando o filme “Os Ribeirinhos do Rio”, da paraense Jorane Castro foi selecionado, a Região Norte não tinha representante para concorrer na mostra nacional.

“Ter o trabalho reconhecido em Gramado é uma grande felicidade. Trata-se de uma ótima porta de entrada no circuito de festivais nacionais e é uma confirmação de que as histórias sobre o Amazonas, contadas por amazonenses, têm potencial de reverberar em outras regiões do país”, disse o diretor Bernardo.

Para ele, ser selecionado para o festival também mostra a importância de do Amazonas ter incentivo estatal em cultura, pois o filme foi realizado por meio do último edital de audiovisual da Manauscult e sem o dinheiro do edital, ele diz que a produção do curta seria impossível.

Nas redes sociais, o cineasta comemorou e também homenageou os colegas que trabalharam na produção do filme. “Que sorte foi trabalhar com uma equipe incrível e do norte pra fazer esse filme acontecer! Narrativas amazonenses, feito por amazonenses, reverberando pelo Brasil”, disse o diretor de “O Barco e o Rio”, em uma publicação no twitter.

A última vez que uma produção do Amazonas participou do Festival de Gramado foi em 1997 com “Bocage – O Triunfo do Amor”. À época, o longa dirigido por Djalma Limongi Batista recebeu o prêmio especial do júri.

O filme

O filme amazonense conta a história de duas irmãs que herdam o barco da família. As personagens Vera (Catão) e Josi (Nunes), de pensamentos e personalidades diferentes, trabalham com transporte de mercadorias e passageiros, e veem a vida mudar devido a uma gravidez de Josi.

Vera é uma mulher religiosa que cuida de uma embarcação no porto de Manaus. Ela precisa lidar com a irmã Josi com quem diverge em relação a como lidar com o barco e sobre como viver a vida.

O filme O Barco e o Rio foi contemplado pelo edital Prêmio Manaus de Audiovisual 2018, da Prefeitura de Manaus, e finalizado em 2020 (Reprodução)

“Enquanto Vera só costuma sair do barco para ir ao culto, cuidando dele com esmero e preocupação, sua irmã prefere beber com as amigas na balsa e se envolver sem compromisso com homens do porto. Ambas vislumbram um destino diferente para o barco, Josi pensa em vender a embarcação, a enxergando como um empecilho para conhecer, viver e trabalhar em outros lugares, ao passo que, para Vera, aquela herança é o único sustento delas, receando viver sem conseguir encontrar outra fonte de renda”, destacou Bernardo.

O conflito da trama perdura em meio a tensão entre as irmãs. Juntas, elas vivenciam as dificuldades de como é se locomover no dia a dia pelos rios da Amazônia. A linguagem regional também enriquece as características do filme.

“Esse projeto foi gestado com muito carinho e dedicação e a entrega de uma equipe maravilhosa”, disse em seu perfil no Instagram a diretora de fotografia do curta, Valentina Ricardo.

Assista ao trailer do longa “O Barco e O Rio (The Boat and the River)”, com legenda em inglês na plataforma de streaming Vimeo:

Produções

Bernardo Ale Abinader também já dirigiu outros três curtas. O primeiro trabalho da carreira tratou sobre relacionamentos abusivos em “Os Monstros”, de 2015. Em 2016, comandou uma produção sobre intolerância religiosa com o curta “Amém”. Em 2019, lançou “Goteira”, cujo temática é voltada para a classe média.

“São filmes universitários que foram importantes para eu me desenvolver no audiovisual e ganhar experiência. Gramado é o primeiro festival grande e tradicional que eu vou participar, e também vai ser a estreia de “O barco e o Rio”. Espero que esse seja apenas o primeiro e que o filme tenha uma boa trajetória, quem sabe até mesmo entrando em festivais internacionais”, disse.

Filmes

A edição deste ano do Festival de Cinema de Gramado integra uma seleção de 14 curtas-metragens e contará com a participação de oito Estados e o Distrito Federal, que concorrem em dez categorias: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia, Melhor Montagem, Melhor Trilha Musical, Melhor Direção de Arte e Melhor Desenho de Som. Além do disputado Kikito, o Melhor Filme recebe R$ 6,5 mil em dinheiro e os demais R$ 1 mil cada.

Veja a lista completa dos indicados:

Atordoado, Eu Permaneço Atento – Rio de Janeiro
15’ – Documentário
Direção: Henrique Amud & Lucas H. Rossi dos Santos
Sinopse: O jornalista Dermi Azevedo nunca parou de lutar pelos direitos humanos e agora, três décadas após o fim da ditadura, assiste ao retorno das práticas daquela época.

Blackout – Rio de Janeiro
18’51’’ – FicçãoDireção: Rossandra Leone
Sinopse: Em um Rio de Janeiro futurista nada parece ter mudado. Abuso de autoridade, violações de direitos, racismo e machismo ainda dão o tom da relação do poder público com a favela. Dessa vez, entretanto, algo parece estar para mudar.

Dominique – Rio de Janeiro19’ – DocumentárioDireção: Tatiana Issa, Guto Barra
Sinopse: Em uma ilha na foz do rio Amazonas, conhecemos Dominique, cuja mãe criou sozinha três filhas transexuais. No caminho para visitar a mãe, Dominique relembra os tempos de prostituição e brutalidade policial que sobreviveu devido ao amor incondicional de sua mãe.

Extratos – São Paulo
8’ – Documentário
Direção: Sinai Sganzerla
Sinopse: Extratos é um curta-metragem com imagens entre o período de 1970 até 1972 nas cidades do Rio de Janeiro, Salvador, Londres, Marrakech, Rabat e a região do deserto do Saara. As imagens foram filmadas por Helena Ignez e Rogério Sganzerla no exílio, nos anos de chumbo.

Inabitável – Pernambuco
19’ – FicçãoDireção: Matheus Farias, Enock Carvalho
Sinopse: O mundo experimenta um fenômeno nunca antes visto. Marilene (Luciana Souza) procura por sua filha Roberta, uma mulher trans que está desaparecida. Enquanto corre contra o tempo, ela descobre uma esperança para o futuro.

Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé – Rio de Janeiro
14’24’’ – Documentário experimental
Direção: Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra
Sinopse: O filme apresenta Joãosinho da Goméa como narrador principal de sua história. Com músicas cantadas por ele, performances provocadoras e arquivos diversos que ressaltam o quanto ele é importante para as religiões de matriz africana. A Rainha Elizabeth II disse que se o candomblé tivesse um rei, esse seria Joãosinho da Goméa, o Rei do Candomblé.

O Barco e o Rio – Amazonas
17’12’’ – FicçãoDireção: Bernardo Ale Abinader
Sinopse: Vera é uma mulher religiosa que cuida de uma embarcação no porto de Manaus. Ela precisa lidar com a irmã Josi com quem diverge em relação a como lidar com o barco e sobre como viver a vida.

4 Bilhões de Infinitos – Minas Gerais
15’ – Ficção
Direção: Marco Antonio Pereira
Sinopse: Brasil. 2020. Após a morte do pai, uma família vive com a energia de casa cortada. Enquanto a mãe trabalha, seus filhos ficam em casa conversando sobre ter esperança.

Receita de Caranguejo – São Paulo
19’45’’- Drama
Direção: Issis Valenzuela
Sinopse: Após a morte do pai, Lari e sua mãe vão passar alguns dias na praia. Elas resolvem cozinhar caranguejos. E os bichos, aos poucos, transformam-se em seres luminosos.

Remoinho – Paraíba
12’27” – FicçãoDireção: Tiago A. Neves
Sinopse: Após um longo período de afastamento, Maria retorna à casa de sua mãe. Ela está decidida sair do remoinho que a fez voltar.

Subsolo – Rio Grande do Sul8’ – Animação / ComédiaDireção: Erica Maradona e Otto Guerra
Sinopse: Três amigos frequentam diariamente a mesma academia em busca de seus ideais de corpos. Apesar de assíduos, convivem com os frustrantes deslizes que acontecem longe das esteiras, fazendo girar as engrenagens de um ciclo interminável.

Trincheira – Alagoas
14’40” – Ficção
Direção: Paulo Silver
Sinopse: Num aterro de lixo, um garoto observa o imponente muro de um condomínio de luxo. Gabriel usa de sua imaginação para construir seu mundo fantástico.

Você tem olhos tristes – São Paulo
17’50’’- Ficção
Direção: Diogo Leite
Sinopse: Luan trabalha como bikeboy de aplicativo e enfrenta dilemas e preconceitos na sua jornada diária de entregas em uma cidade grande. Sem hesitar, sonha com um futuro melhor.

Wander Vi – Distrito Federal
19’56” – Documentário
Direção: Augusto Borges e Nathalya Brum
Sinopse: Wanderson Vieira é um músico da cidade de Samambaia e nesse curta documentário, nos conta um pouco como concilia seu trabalho noturno e ensaios de dança, com criar sua carreira, lançando seu pseudônimo Wander Vi, para alcançar seu sonho.