Araraquara bate recorde de mortes por Covid-19 em um único dia

Variante P.1 do novo coronavírus já é predominante no município paulista, segundo estudo (Bruno Santos/Folhapress)

06 de março de 2021

08:03

RIBEIRÃO PRETO (SP) – A cidade de Araraquara (a 273 quilômetros de São Paulo) registrou nessa sexta-feira, 5, o recorde de mortes provocadas por Covid-19 em um único dia. Nove pessoas morreram, conforme boletim do comitê de contingência local, o que fez o total de óbitos apenas nos cinco primeiros dias de março chegar a 29, superando as 24 mortes registradas no mês de janeiro inteiro. Desde o início da pandemia, são 234.

Dados preliminares de um estudo conduzido no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP) indicam que a variante do novo coronavírus denominada P.1, identificada primeiro no Brasil, já é a predominante em Araraquara. Ela começou a ser detectada na cidade no fim de janeiro, após profissionais de saúde perceberem a alta acentuada de contaminações e complicações da doença também em pessoas mais jovens.

Desde então, as mortes dispararam. Em fevereiro houve 89 óbitos, que somados aos de janeiro e março, chegam a 142, número 54,3% maior do que os 92 registrados em todo o ano passado no município. Com 238 mil habitantes, Araraquara confirmou até agora 15.214 casos de Covid-19 e tem 204 pacientes internados, 75 deles em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva).

Três pacientes, no início da tarde, estavam na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Xavier à espera de transferência para hospitais. Entre os óbitos registrados nessa sexta está o de um homem de 34 anos, que foi internado na última quarta-feira. Em todo o ano passado, somente uma pessoa com menos de 40 anos morreu vítima da Covid-19, enquanto neste ano já são dez os óbitos com idades abaixo dessa faixa etária.

Para averiguar a presença da variante amazônica em Araraquara, os pesquisadores analisaram 57 amostras de secreção nasofaríngea coletadas de pacientes com diagnóstico confirmado entre 25 de janeiro e 23 de fevereiro. Em 93% dos casos, os testes revelaram a presença da nova cepa, considerada cerca de duas vezes mais transmissível que sua predecessora (linhagem B.1.128).

O prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), disse à Folha que a nova cepa segue alcançando cada vez mais pessoas jovens, em uma situação dramática que não era comum no ano passado. Segundo ele, em 2020 apenas uma pessoa com menos de 40 anos morreu em Araraquara vítima da Covid-19. Só em fevereiro e março, já foram registrados os óbitos de dez pessoas nessa faixa etária até agora.

“Há vítimas de 33 anos, 34 anos entre eles. Algo que nunca vimos antes, um absurdo”, afirmou Edinho.

Para tentar conter o avanço da pandemia, Araraquara decretou lockdown, com restrição completa de mobilidade das pessoas. O transporte coletivo não funcionou por dez dias e supermercados ficaram uma semana de portas fechadas —só podiam atender via delivery.

A nova variante da doença também provocou um forte crescimento nas internações em Ribeirão Preto (a 313 quilômetros de São Paulo). No início da noite dessa sexta, 333 estavam internadas com Covid-19 em dez unidades hospitalares do município, 178 delas em leitos de UTI.

Com 203 vagas, as UTIs locais estão com ocupação de 87,68%. Outros 155 pacientes estavam em leitos de enfermaria (76,35% do total). No HC (Hospital das Clínicas), vinculado à USP (Universidade de São Paulo), a ocupação chegou a 93,75%, com 45 pacientes para 48 vagas.