Artesão ribeirinho da Amazônia é um dos finalistas do prestigiado Prêmio Casa Vogue Design 2021

As peças de Manoel Garrido possuem linhas elegantes, cor vibrante e foram concebidas em madeira de manejo florestal amazônico (Reprodução/Divulgação-FAS)

24 de março de 2021

09:03

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – O artesão ribeirinho Manoel Garrido é um dos finalistas do Prêmio Casa Vogue Design 2021. Manoel é morador da comunidade do Tumbira, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do rio Negro, no Estado do Amazonas. Garrido concorre com a ‘Coleção Tumbira’, da experiência ‘Esse Dito Bicho’, iniciativa que tem a parceria dos arquitetos Marcelo Rosenbaum e Fernanda Marques.

A peça criada e produzida pelo artesão é composta por cincos vasos e três bowls (espécie de tigela). A criação é resultado do projeto “Amazonas Sustentável” e foi construída com apoio da Petrobras, Instituto A Gente Transforma (AGT) e a Fundação Amazonas Sustentável (FAS). O projeto utiliza resíduos de madeira dos manejos florestais, aparentemente sem nenhum valor comercial. Com criatividade e apoio, os resíduos se transformam em produtos de procedência florestal com valor agregado.

“Fico feliz e muito grato a todos que me ajudaram a ter este reconhecimento. Ser finalista, para mim, já é uma grande vitória”, comemorou Manoel Garrido. O artesão vem de uma família de tradição na arte carpinteira de construir embarcações na região amazônica. Entrecortada por centenas de rios, a geografia amazônica exige habilidade para navegar e mais ainda para se construir barcos.

De pai para filho

Garrido herdou do pai a oficina e a habilidade para trabalhar com madeira. Com o tempo transformou o espaço em uma marcenaria e da marcenaria fez um ateliê. Seu aliado inseparável é um torno. O instrumento é uma ‘ferramenta-máquina’ que facilita ao operador, dar forma a um objeto. A engenhoca foi concebida a partir de um motor de caminhão e foi o próprio Manoel Garrido quem inventou o torno.

“Fazer parte da lista de finalistas do Prêmio Casa Vogue traz um reconhecimento de grandes artistas, que ainda vivem e guardam a nossa floresta amazônica, mostrando que é possível manter essa grande sintonia entre as pessoas e a natureza”, destacou Gil Moraes Lima, coordenador de projetos da FAS.

Além de ganhar visibilidade e a possibilidade de valoração de seu nome no mercado brasileiro. Manoel Garrido pode se tornar também um exemplo e uma fonte de inspiração para outros talentos da floresta. Tão importante quanto isso é o fato de que sua arte está em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS): “1 – erradicação da pobreza; 8 – trabalho decente e crescimento econômico; 12 – consumo e produção responsáveis; 13 – ação contra a mudança global do clima, respectivamente”. 

A coleção

A inspiração para trabalhar o talento de gente como Manoel Garrido, a fim de produzir uma coleção, surgiu durante uma visita à RDS do rio Negro, do arquiteto Marcelo Rosenbaum e a arquiteta Fernanda Marques. No local, os dois souberam do trabalho de Garrido e resolveram conhecer o artesão. Rosenbaum é conhecido nacionalmente por ter participado do quadro “Lar Doce Lar”, do Caldeirão do Huck.

Assim que se conheceram, Marcelo convidou Garrido a colaborar com o Instituto A Gente Transforma, projeto de Marcelo Rosenbaum que utiliza o design para expor a alma do povo brasileiro. A ideia do arquiteto é propor um mergulho antropológico – tendo o design como guia – na experiência de conhecer a cultura dos povos que formam o Brasil. 

Como resultado do contato entre os arquitetos e o artesão ribeirinho, estão as peças de formas simples, porém elegantes, que hoje concorrem ao Prêmio Casa Vogue Design 2021. Além da leveza do desenho, a criação de Manoel Garrido possui cor vibrante e características que tornam as peças tão únicas. Para conceber a obra, Garrido usou madeira de manejo. A espécie “Roxinho”, também conhecida por outros nomes como: “Amarante”, “Coataquiçaua”, “Pau-Roxo, “Pau-Mulato e “Roxinho-Pororoca”.

O Prêmio Casa Vogue

A quinta edição do Prêmio Casa Vogue Design, que reconhece anualmente os principais lançamentos do design nacional, destaca 55 finalistas distribuídos em 11 categorias. Os vencedores são escolhidos por um júri de experts e por votação popular, que está sendo realizada até o dia 30 de março, por meio do site https://glo.bo/2OJQcx0.

Projeto Amazonas Sustentável

O projeto foi criado em 2018 e é uma parceria da FAS com a Petrobras. O objetivo é reconhecer, valorizar e apoiar o trabalho de estudantes e professores de comunidades tradicionais ribeirinhas localizadas em cinco unidades de conservação (UCs), no Estado do Amazonas.

Os eixos do projeto são: educação, com foco na redução do desmatamento e da degradação florestal; conservação da biodiversidade; infraestrutura; comunicação; empreendedorismo e educação no campo. Dentro dessas temáticas, mais de seis mil pessoas já foram beneficiadas e sensibilizadas pelo projeto até agora.