‘As atrocidades na Amazônia são cometidas pela bancada do Bala-Boi-Bíblia’, diz representante de indígenas

Representante da Univaja, Eliésio Marubo, repudia declaração de Bolsonaro na ONU. Foto: Arquivo pessoal

23 de setembro de 2020

17:09

Naferson Cruz – Da Revista Cenarium

MANAUS – Após o discurso do presidente Jair Bolsonaro na 75ª edição da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na terça-feira, 22, a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja) classificou o posicionamento do presidente como um ato ‘irresponsável’ e danoso aos povos indígenas e ao meio ambiente.

Entre os pontos abordados no discurso,  Bolsonaro disse que as queimadas são causadas pelos povos indígenas. A fala causou revolta entre as lideranças indígenas que criticaram o posicionamento do presidente.

Para o advogado e representante da Univaja, Eliésio Marubo, o presidente Jair Bolsonaro tem agido de forma irresponsável em várias situações. “Tudo começou com o desmonte da política de cuidado ambiental e, quando se refere à questão indígena, na medida em que ele nomeou o atual presidente da Funai e de pessoas vinculadas ao Exército, ligadas a mesma doutrina que ele (Bolsonaro) segue. Ele indiretamente fez com que de fato o desmonte de política ambiental acontecesse”, disse o representante da Univaja, à REVISTA CENARIUM.

Eliésio Marubo diz que lamenta pelo que está acontecendo com os povos indígenas. “Ele (Bolsonaro) incentiva o pessoal do agronegócio a queimar e a ocupar área irregularmente. Pouco tempo atrás, ele disse que iria regularizar toda pessoa que tivesse dentro de terra demarcada em área de proteção ambiental, portanto, o governo federal está patrocinando essas atrocidades, estamos vendo animais mortos, pessoas perdendo casas e aldeias sendo queimadas, tudo isso por conta da política criada e gerenciada pelo próprio presidente”, disse o indígena.

Quanto à culpa colocada aos indígenas pelas queimadas na Amazônia, Eliésio declarou: “Se a culpa fosse dos indígenas, nós não estaríamos passando por essa situação que estamos enfrentando, se fosse verdade, teríamos passado pela mesma situação no período pretérito, o que não aconteceu, ou seja, as queimadas na floresta são promovidas pela bancada do BBB (Bala-Boi-Bíblia), portanto, a Unijava repudia as acusações feitas pelo presidente, que não age como tal e cada vez mais que ele faz essas acusações, ele se apequena ao cargo que ocupa”, completou o indígena.

Cimi rechaça discurso de Bolsonaro

Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) também rechaçou o posicionamento de Bolsonaro, afirmando que ele utilizou um discurso falacioso, refratário e irreal sobre o combate à pandemia do coronavírus e às desigualdades sociais, os direitos humanos e, principalmente, em relação ao combate aos incêndios e à proteção do meio ambiente. Sempre na defensiva e culpando terceiros, o discurso do presidente não contribuiu para a solução dos problemas e para a melhora da imagem do Brasil no exterior.

No discurso, “o presidente responsabiliza os índios pelos incêndios que devastam boa parte da Amazônia, Cerrado e Pantanal no Brasil. De todas as inverdades, essa demonstra a má-fé, o preconceito e a irresponsabilidade do presidente do Brasil perante outras nações, o que coloca o nosso país em situação constrangedora perante a opinião pública nacional e internacional”, destaca o Cimi em nota.