Associação indígena lança cartilhas em cinco línguas Yanomami para fortalecer a prevenção contra a Covid-19
27 de outubro de 2020
10:10
Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium
MANAUS – A pandemia do novo Coronavírus ainda não acabou e medidas preventivas como lavar as mãos, usar máscara e o distanciamento social devem ser preservados até o surgimento de uma vacina contra a Covid-19.
Para reforçar esses cuidados, principalmente devido ao relaxamento da população, a Associação Hutukara Yanomami lançou, em meados de outubro, uma cartilha em quadrinhos com recomendações contra a Covid-19 traduzida em seis línguas Yanomami (Yanomam, Yanomami, Ninam, Sanoma e Ye’kwana) para fortalecer o combate à doença nas aldeias Yanomami.
De acordo com dados do Distrito Sanitário Yanomami (Dsei-Y), até o momento, quase 900 indígenas foram contaminados pela Covid-19 e sete morreram em decorrência da doença. No entanto, de acordo com a Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana, há 1.050 casos confirmados, nove óbitos e 12 óbitos suspeitos.
O diretor da Hutukara, Dário Kopenawa, afirmou que ao todo foram produzidos 90 banners e 2.300 cartilhas em quadrinhos, que estão sendo distribuídos em mais de 70 comunidades localizadas na Terra Indígena Yanomami.
“Estamos enviando informação para dentro das comunidades indígenas, em várias línguas, explicando como é a transmissão e como se prevenir da Covid-19. É importante informar como chega essa ‘xawara’ [epidemia, fumaça, em português – levada pelo não indígena] nas aldeias e isso mostra também a grande responsabilidade da Hutukara na defesa dos direitos dos povos à saúde e informação”, disse o diretor da organização.
Kopenawa afirmou ainda que no território, que se estende por 96.650 quilômetros quadrados nos estados de Roraima e Amazonas, vivem mais de 27 mil indígenas.
A iniciativa tem parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) e foi coordenada pela antropóloga e pesquisadora do ISA, Ana Maria Machado, especialista e falante da língua Yanomam.
Segundo a pesquisadora, a pandemia chegou em diversas comunidades Yanomami, por isso, o acesso à informação é fundamental para essas comunidades. O material foi elaborado conforme a localização e as particularidades das aldeias.
“Não adianta, por exemplo, orientar os indígenas a lavar a mão com água e sabão, usar álcool em gel e ficar em casa quando em uma única maloca moram mais de 100 pessoas e não há produtos de higiene para todos”, explicou Ana Maria.
A pesquisadora destaca ainda que as orientações dadas aos Yanomamis e Ye’kwana são para não visitar outras aldeias, não ir à cidade e isolar pessoas que apresentem algum sintoma da Covid-19. As explicações contidas na cartilha são de acordo com os protocolos de segurança da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde.