Bancos privados brasileiros elaboram iniciativas em defesa da preservação da Amazônia

Desmatamento na Amazônia brasileira aumentou pelo 14º mês consecutivo em junho (Ricardo Oliveira / Revista Cenarium)

25 de julho de 2020

11:07

Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium

MANAUS – Em meio à pressão internacional para combater o desmatamento na Amazônia e o aumento das cobranças sobre o comprometimento do Brasil, em relação aos temas ligados à mudança climática, os três bancos privados de maior atuação no País – Bradesco, Itaú e Santander – se uniram em iniciativa inédita, e lançaram na quarta-feira, 22, um plano de contribuição com a conservação e desenvolvimento sustentável da região amazônica.

O plano inclui dez medidas, entre elas, o estímulo às cadeias sustentáveis na região e a viabilização de investimentos em infraestrutura básica para o desenvolvimento social e ambiental.

Além disso, ele propõe que as ações devem começar ainda este ano, em três frentes identificadas como prioritárias: conservação ambiental, investimento em infraestruturas sustentáveis e garantia dos direitos básicos da população da região amazônica.

O secretário de Meio Ambiente do Amazonas, Eduardo Taveira, ressalta os objetivos do projeto, que também inclui o desmatamento zero no setor de carnes e o estímulo a monoculturas sustentáveis, por meio de linhas de financiamento diferenciadas.

“Isso mostra que as questões ambientais estão cada vez mais importantes para quem opera o mercado financeiro. A Amazônia só tem a ganhar e nossa expectativa é que os Estados possam somar com as iniciativas que virão a partir desse projeto”, explica.

Retomada de recursos

Para o representante do Sebrae Amazonas, Evanildo Pantoja, a questão do desmatamento na Amazônia deixou há muito tempo de ser um tema relacionado apenas ao meio ambiente, e passou a ser incluído nas questões econômicas e sociais. Além disso, ele ressalta que a proposta vai amparar muitas iniciativas antes apoiadas pelo Fundo Amazônia

“Esperamos que outras empresas privadas também possam aderir a essa causa e que o governo, de fato apoie. Muitas iniciativas sérias já existem no Amazonas. Acreditamos que a nova proposta possa dar continuidade e apoie os projetos existentes, que antes recebiam recursos do Fundo Amazônia, que infelizmente foi retirado. Isso prejudicou muito a nossa região. Contudo, o Sebrae vai participar efetivamente desse plano de desenvolvimento sustentável para promover a Amazônia”, destaca Pantoja. 

O Analista do Sebrae afirma ainda que uma das questões importantes e incluída nas dez medidas propostas, é a inclusão digital, principalmente para quem mora na região amazônica, onde a internet é precária ou sequer o acesso chega.

“Mais de 50% dos municípios do interior do Amazonas tem uma internet precária ou quiçá possui. E neste pós-pandemia, que acelerou bastante a questão da comercialização online, todos precisam de um acesso de qualidade a internet. A inclusão digital desses empreendedores que estão nas comunidades ribeirinhas, que desenvolvem artesanatos e produtos oriundos do açaí, castanha; que tem todo um apelo ecológico, vão ser muito beneficiados. Assim, poderão expandir a exposição de seus produtos de uma forma macro para o mundo e não apenas no meio onde estão inseridos”, finaliza Pantoja.

O analista aponta também um exemplo de uma iniciativa confiável e bem sucedida na região Amazônica, que é Instituto Mamirauá, que agregou valor aos produtos e levou qualidade de vida aos moradores das comunidades ribeirinhas em torno do Instituto.

Da forma como vem sendo conduzida por eles o manejo de pirarucu, por meio do projeto desenvolvido pelo Instituto, os próprios moradores fazem questão de participar da iniciativa.

Entenda a proposta 

Representantes das três instituições bancárias do país se reuniram, nesta semana, com o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, para detalhar as medidas.

Mourão é também presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, recriado no começo deste ano pelo presidente Jair Bolsonaro, na tentativa de diminuir críticas de entidades ambientalistas e de governos internacionais, descontentes com as controversas políticas ambientais de sua gestão.

O documento fez defesa da agenda do desenvolvimento sustentável e solicitou o combate “inflexível e abrangente” ao desmatamento ilegal na Amazônia.

Agora, depois da cobrança, com o plano anunciado hoje, os bancos têm a intenção de entregar uma forma de ajuda efetiva em relação ao assunto, segundo fonte.

Leia também: Bolsonaro culpa indígenas e caboclos por crimes de desmatamento na Amazônia Legal

Para dar prosseguimento ao planejamento, os bancos formarão um conselho de especialistas com diferentes experiências e conhecimentos sobre as questões sociais e ambientais envolvendo a Amazônia.

“Este projeto os três bancos pelo propósito de contribuir para um mundo melhor. A ideia é que todos precisam assumir sua parcela de compromisso com as futuras gerações. Por isso, lançamos uma agenda objetiva que pretende defender e valorizar a Amazônia, suas riquezas naturais, florestas, rios e cultura diversificada. Queremos dar passos concretos para tornar discurso em realidade. A Amazônia não é um problema, e o ato de protege-la guarda boa parte das respostas corretas para um mundo que tem dúvidas e incertezas”, afirmou em nota, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior.

Ação integrada

O presidente do Itaú Unibanco, Cândido Bracher, que há cerca de duas semanas esteve ao lado de um grupo de empresários, para tratar do tema com Mourão; disse, também em nota, que os bancos têm a responsabilidade “como agentes importantes do sistema financeiro”.

A nota também diz que eles compartilham “as mesmas preocupações a respeito do desenvolvimento socioeconômico da Amazônia e da conservação ambiental”. “Acreditamos que os três bancos têm forças complementares e, atuando de forma integrada, vemos grande potencial de geração de impacto positivo na região”, destacou Bracher.

Já o presidente do Santander, Sergio Rial, afirmou que o desafio em relação ao tema “impõe uma atuação firme e veloz a todos os atores que puderem participar da construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia”.

Alem de dizer que a “união de esforços da nossa indústria, conseguiremos fazer ainda mais por essa região, que tem um valor inestimável não só para o País, mas para todo o planeta”, destacou.

Além do estímulo às cadeias sustentáveis na região, por meio de linhas de financiamento diferenciadas, bem como de ferramentas financeiras e não financeiras; viabilização de investimentos em infraestrutura básica para o desenvolvimento social e ambiental.

O plano dos três bancos inclui o fomento de um mercado de ativos e instrumentos financeiros de lastro verde, bem como a atração de investimentos e promoção de parcerias, para o desenvolvimento de tecnologias que impulsionem a bioeconomia. Alem disso, visam o apoio para atores e lideranças locais que trabalhem em projetos de desenvolvimento socioeconômico na região.