Batom vermelho: beleza, história e poder ao pintar os lábios

Saiba um pouco mais sobre esse potente item adorado pelas mulheres (Reprodução/Istock)

13 de abril de 2021

07:04

Priscilla Peixoto

MANAUS – Ele é polêmico, sexy, marcante e nada discreto. Item presente em praticamente toda bolsinha de maquiagem das mulheres, o famoso batom vermelho é bem mais que um simples recurso de beleza para pintar os lábios, pois com o passar do tempo se tornou um dos principais símbolos de empoderamento feminino. Mas, ele nem sempre foi bem-visto e possui inúmeros significados e histórias desde sua criação até os dias de hoje.  

O tal cosmético é tão presente na sociedade que volta e meia é citado em músicas, poemas, campanhas voltadas ao empoderamento e até mesmo em clipes com abordagens críticas e pautas feministas, como foi o caso da artista Clarice Falcão que, em 2015, gravou um cover de “Survivor” do Destiny’s Child. Nele mulheres passam batom vermelho da maneira que desejarem expressando a mensagem de serem quem quiserem ser.

O trabalho da artista marcou e rendeu inúmeras críticas.  “Acho o batom vermelho muito interessante, porque representa uma certa contradição padrão de beleza x liberdade feminina. Que na verdade não é contradição nenhuma. O batom vermelho é o que a gente quiser que ele seja. Demos um batom vermelho para cada uma das mulheres e nada foi dirigido. A magia toda veio delas”, disse Clarice em entrevista cedida ao G1 logo após o lançamento do vídeo.

O batom vermelho já foi tema de várias pautas na sociedade (Reprodução/Internet)

Fases

Há algumas discordâncias no que tange o surgimento da rubra maquiagem. De acordo com alguns historiadores, ele foi criado no antigo Egito, aquela época, inclusive, era comum homens e mulheres pintarem os lábios com uma mistura de cera e uma substância extraída de certos vegetais chamada carmim.

Já estudiosos defendem a ideia de que o cosmético surgiu 3.500 a.C, na Mesopotâmia, pelos Sumérios (povo que ocupava aquela região mais ao sul). Além de realçar a beleza, o batom era tido como um auxílio para identificar a classe social das pessoas na Roma antiga. Vale ressaltar que lá o batom também era usado tanto pelas mulheres quanto pelos homens.

Já na Grécia, o uso do “tingidor de lábios” era proibido. Apenas as prostitutas poderiam usá-lo, isso porque ele as diferenciava das não prostitutas. Detalhe este, levado tão a sério que foi elaborado até mesmo uma lei que castigava aquela prostituta que saísse nas ruas sem estar com os lábios encarnados.

Por volta de 1400 d. C (idade média), ele também foi mal-quisto e condenado por religiosos da igreja católica. Em 1558, entre polêmicas e controversas, a então rainha da Inglaterra Elizabeth I, ao contrário da igreja e dos maus olhos que muitos tinham para o batom, era admiradora do visual com lábios vermelhos. Ela usava e até mesmo acreditava que ele continha propriedades de cura e evitava ou “atrasava a morte”.

Um dos principais símbolos de empoderamento (Reprodução/Pinterest)

Símbolos e marcas

O batom também marcou passagem em lutas pelas causas femininas. No movimento sufragista ocorrido nos Estados Unidos no ano de 1912, por exemplo, ao menos 15 mil unidades foram distribuídas entre as mulheres que lutavam pelo direito de exercer o voto.

Durante a Segunda Guerra Mundial, ele foi o único cosmético a ser distribuído normalmente, isso porque o então primeiro-ministro Winston Churchill, achava que o produto “estimulava a moral da população”. Na época, a cosmetóloga Elizabeth Arden lançou uma linha de batom chamada Montezuma. A linha era especial para aquelas que participavam das forças armadas norte-americanas.

Nos anos 80, o “boom” do “bocão vermelho” aconteceu, endossado anos anteriores pelo uso das atrizes de cinema que estrelavam grandes produções com os lábios preenchidos de vermelho. Já nos anos 90, assim como na década de 60, o rubro batom deu intervalo dando lugar à tendência do momento, os nudes.

Campanha para o lançamento do batom Montezuma de Elizabeth Arden (Reprodução/ Internet)

“Me sinto poderosa”

Para a engenheira de produção, Michelle Oliveira, 37 anos, o batom vermelho é essencial para encarar o cotidiano. “Eu adoro make, vejo que o batom vermelho, além de marcar o meu sorriso, é essencial para nosso dia a dia, com maquiagens simples (leves) ou não”, revela Michelle.

Ela enfatiza: “Todas as vezes que uso um batom vermelho sinto que meu sorriso se empodera de olhares, creio que marca e chama a atenção de quem olha. Não economizo quando se trata de um bom batom vermelho, ainda mais se for matte com efeitos de brilho”, diz a vaidosa engenheira.

“Tem dias que passar um batom vermelho ajuda nossa autoestima”, diz Kariane Andrade (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Já para a parintinense Kariane Andrade, 31, os lábios vermelhos passam segurança e autoconfiança. “Mulher que usa batom vermelho é uma mulher da atitude, que sabe o que quer. É alguém que está sempre disposta a encantar a todos. Seja com sua beleza ou com sua força”, comenta a gerente de loja.

Conservador

Mas o “queridinho” é tão marcante, que, mesmo sendo usado pela maioria, ainda causa desconforto naquelas que se consideram mais reservadas, bem como continua sendo (ainda que esporadicamente) alvo de comentários machistas como o político português André Ventura, que criticou o uso do batom de Marisa Matias em um discurso nas eleições presidenciais do País no início deste ano.

“Não quero dizer nada que me arrependa amanhã, mas não está muito bem em termos de imagem, de performance. Assim com os lábios muito vermelhos como se fosse uma coisa de brincar”, comentou o político.

Rapidamente a postura machista de Ventura viralizou nas redes sociais. Muitos internautas e personalidades famosas no País fizeram posts em forma de protesto contra as palavras do político.

“Sou muito mau para colocar batom, mas sou muito bom a votar. Dia 24, lá estaremos. Não passarão. #vermelhoembelém” postou o comunicador português Rui Maria Pêgo.

Vermelho sedução

A cor vermelha está ligada ao conflito, luta, sangue, poder de transformação, energia positiva e estímulos. Além disso, a cor costuma ser associada ao amor, à paixão e à sedução. De acordo com uma pesquisa feita pela Universidade de Manchester, na Inglaterra, apontou que o vermelho é a cor de batom que mais chama a atenção do gênero masculino.

A pesquisa, feita com 50 participantes em 2013, levou em consideração o comportamento de 50 homens que observavam fotos de mulheres com diferentes cores de batom nos lábios. Os resultados obtidos foram uma média de 7,3 segundos observando as que usavam o encarnado, contra apenas 6,7 para o tom de rosa e o curto 2,2 para as que estavam sem batom.

O batom vermelho também é usado na hora da sedução (Reprodução/Internet)

Nunca Morre

Em alguns momentos pode até dar uma pausa, mas nunca deixou de ser protagonista. Polêmico, simbólico, sedutor, poderoso, o fato é que este cosmético da beleza hoje ocupa uma missão bem maior do que tingir os lábios. Ele evolui em meio à história trazendo mensagem de resistência, transformação, autocuidado.

“Seja para o dia a dia, para ir ao trabalho, uma balada, para aquela ocasião especial, para se sentir mais linda, dar um primeiro passo de reviravolta na vida ou até mesmo para protestar. Ele está aí disponível, de fácil acesso em vários tons para várias personalidades. Foi todo um processo de aceitação e quebra de barreiras para termos a liberdade que temos hoje. Então, por que não usar? Viva o batom vermelho”, finaliza Michelle.