Bolsonaro ‘estica a corda’ e convoca, no WhatsApp, apoiadores de golpe

O presidente Jair Bolsonaro durante solenidade de lançamento de linha de crédito do BNDES para organizações filantrópicas, no Palácio do Planalto, em Brasília (André Coelho/Folhapress)

16 de agosto de 2021

12:08

Via Brasília – Da Revista Cenarium

Ameaças reiteradas

Há tempos o Brasil não sabe o que é ter um fim de semana em que não se depare com ameaças de ruptura institucional. Afinal, é próprio do presidente Jair Bolsonaro alimentar-se do caos para fugir dos temas verdadeiramente importantes para o País. Após anunciar que vai pedir ao Senado a instalação de processo contra os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, bolsonaristas passaram os últimos dias fazendo o que melhor sabem: “esticando a corda” nas redes. A última das polêmicas foi uma suposta mensagem de WhatsApp enviada por Bolsonaro numa lista de ministros e apoiadores, em que chama para ato sobre “provável e necessário contragolpe”, denunciada pelo colunista Guilherme Amado, do portal Metropoles.

Temperatura preocupa

Em Brasília, boa parte da classe política vê com preocupação os desdobramentos da crise institucional e afirma que Arthur Lira (PP-AL) é um dos que acompanham a escalada, sendo um dos poucos a “situar” o presidente. Uns avaliam que o presidente mantém a cortina de fumaça para esconder a inflação e o desemprego, que o tom elevado é para agradar a militância. “Chega dessa graça de criar problemas artificiais para um País cheio de problemas reais”, reagiu o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM). Já aliados de Bolsonaro dizem que a reabilitação política do ex-presidente Lula pelo STF foi a gota d’água para azedar de vez a relação com o Judiciário e que o clima beligerante seguirá para manter sua militância ativa.

Teste de amortecedor

Por enquanto, o cenário não apresenta horizonte de trégua. Ciro Nogueira, autointitulado “amortecedor”, tem reunião com Bolsonaro nesta segunda-feira, 16, às 16h. Enquanto a polarização política se consolida faltando pouco mais de um ano para a sucessão presidencial, líderes partidários em Brasília ainda não enxergam espaço para uma candidatura de terceira via com chances de superar o duelo Bolsonaro x Lula. Há, no entanto, simpatia clara no Centrão para que o presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ou o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB-RS) se viabilizem, mas admite-se a dificuldade em razão da radicalização política.

Terceira via sem viabilidade

A avaliação é de que João Doria e Ciro Gomes não agregam, ainda que tenham projeção nacional. Luiz Henrique Mandetta não teria chances. Para os governistas, as expectativas são boas para Jair Bolsonaro: todos estarão vacinados nos próximos meses, o Auxílio Brasil será aprovado e a economia vai decolar. Assim, o presidente dificilmente estará fora do segundo turno em 2022. “Se a economia chegar no povo, Bolsonaro chega competitivo em 22. Ele não está fadado à derrota”, concluiu um parlamentar de oposição. Aos aliados, Bolsonaro diz que “Deus proverá” sua reeleição.

Antibolsonarismo

No Centrão há quem veja um cenário ruim para o presidente: população mais pobre, inflação, combustível caro, desemprego, crise hídrica e um presidente que encarna a “insegurança institucional”, prejudicando a imagem do País no exterior. “Bolsonaro é a indústria de ruídos permanente”, critica um deputado do bloco. Se a eleição passada foi marcada pelo antipetismo, alguns avaliam que desta vez pode prevalecer o antibolsonarismo. Na oposição está claro que o jogo não está ganho, que a direita leva, hoje, vantagem nas redes sociais e que Lula terá um adversário com a mesma capacidade de comunicação direta com a população que ele domina.