Braga pressionou Calheiros por indiciamento de governador do AM em relatório final da CPI, diz articulista

O senador Eduardo Braga (à esquerda), o senador Renan Calheiros (ao centro) e o governador do Amazonas, Wilson Lima (à direita) (Arte: Ygor Fabio Barbosa)

28 de outubro de 2021

20:10

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS – Senador eleito pelo Amazonas, onde se autointitula como a esperança da população e deve concorrer ao cargo de governador em 2022, Eduardo Braga (MDB-AM) exigiu que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) incluísse o governador Wilson Lima (PSL-AM) no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, segundo apontou o articulista político Cláudio Prisco Paraíso, da TV SCC, durante o jornal SCC Meio-Dia da emissora de Santa Catarina, filiada ao SBT.

O articulista afirma que essa pressão de Eduardo Braga sob Renan Calheiros ocorreu em virtude do senador do Amazonas ser o líder do MDB no Senado Federal e, também, por conta do político de Alagoas ter sido escolhido como relator da CPI por indicação de Braga. Para Paraíso, a sugestão de indiciamento de Wilson Lima não teve convicção por parte de Renan Calheiros.

“Eduardo Braga, que também é do Amazonas, senador, e que no ano que vem vai disputar contra Wilson Lima, exigiu que ‘Canalheiros’ colocasse, porque ‘Canalheiros’ foi indicado relator por ele, Eduardo Braga, líder do MDB no Senado. Ou seja, ‘Canalheiros’ não causou convicção do indiciamento do governador, foi pressionado politicamente ao bel-prazer do líder, por conta de interesses partidários, políticos e eleitorais. É isso que está presidindo essa CPI”, declarou o articulista.

Cláudio Prisco Paraíso mostra, ainda, imagens dos senadores Eduardo Braga e Renan Calheiros interagindo entre si para representar a relação próxima entre os dois.

Várias versões

A CPI da Covid chegou ao fim na terça-feira, 26, com a aprovação do relatório final por sete votos a quatro, após passar por mudanças e os senadores adicionarem mais dez nomes como indiciados. O documento atribui crimes ao governo federal e pede a responsabilização do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), entre outras autoridades, como o governador do Amazonas, Wilson Lima.

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De acordo com o comentarista de política da TV SCC, Cláudio Paraíso, o relatório da CPI já teve, pelo menos, 20 versões. Para ele, várias dessas mudanças ocorreram para contemplar interesses pessoais de senadores. Quanto aos possíveis crimes que o presidente Bolsonaro teria cometido na pandemia, e que não foram listados no relatório final da comissão, o especialista comenta que os parlamentares pediram para o ministro Luís Roberto Barroso ‘aconselhar’ Calheiros, temendo que a Procuradoria-Geral da República (PGR) não apresentasse denúncia contra o chefe do Executivo federal.

“Vazou que para convencê-lo a ‘Canalheiros’, senadores foram ao encontro de Luís Roberto Barroso, que sugeriu: ‘esse crime contra o presidente [você] tira, porque isso pode prejudicar lá na PGR, que por conta disso pode não aceitar a denúncia e não envia a denúncia ao Supremo’. Vejam só, o ministro do Supremo, magistrado, interagindo com dicas para os senadores na meta de emparedar o presidente da República. Onde que nós estamos?! Que ministro do Supremo é esse?! É uma barbaridade!”, criticou Cláudio Paraíso.

Assista ao vídeo:

Defesa

No dia em que o relatório final da CPI da Covid foi votado, na terça-feira, 26, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), criticou a postura do senador Eduardo Braga (MDB/AM) por meio das redes sociais e informou que o parlamentar costuma agir à base de ameaça.

“Eduardo Braga está agindo da forma que os amazonenses já conhecem. À base de ameaça para incluir meu nome no relatório da CPI, prometendo não votar caso não consiga o que quer. Ele quer incluir meu nome no relatório final – mesmo sabendo que não fui sequer investigado pela CPI”, disse Wilson Lima.

senador Eduardo Braga é adversário político de Lima e deve concorrer ao governo em 2022. Braga também foi um dos principais defensores da abertura do comércio em Manaus, quando a capital foi atingida pela nova variante do novo coronavírus, em dezembro do ano passado, e já foi governador por dois mandatos, no Amazonas. “Seu interesse visa, exclusivamente, às eleições de 2022 e a razão da vida dele é tentar sabotar o meu governo, que vem fazendo mais em dois anos do que ele em 8. Deixa o trabalho falar, senador, e pare de picuinha”, completou Wilson Lima.

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Reforçando o interesse em comandar o Estado, desde que perdeu as eleições para José Melo (Pros), em 2014, em sua última visita a Silves (a 200 quilômetros de Manaus), por exemplo, Eduardo Braga foi recepcionado com uma faixa de agradecimento a ele por conta da liberação de emendas para a cidade e aproveitou o momento para se autointitular como a “esperança do Amazonas”.

“A esperança de dias melhores está chegando e essa esperança tem nome e sobrenome, Eduardo Braga, e os nossos amigos que podem construir a esperança de dias melhores para o povo do Amazonas. Muito obrigado, que Deus abençoe a todos (sic)”, disse Braga.

Além disto, o eventual candidato ao governo também apareceu dançando zumba com apoiadores, em agosto deste ano, no bairro Lírio do Vale, zona Oeste, em Manaus. O parlamentar publicou um vídeo nas redes sociais compartilhando o momento e se aglomerando com apoiadores.

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Fake news

No mês passado, o senador Eduardo Braga usou as suas redes sociais para publicar uma matéria de quase seis meses atrás sobre um aumento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no diesel, como se fosse atual, e criticar o Governo do Amazonas. Braga é provável candidato ao governo do mesmo Estado, nas eleições de 2022, e se coloca como oposição ao governador do Amazonas Wilson Lima (PSC).

No post de setembro, Braga inseriu um print do portal D24am, cuja publicação foi feita no dia 30 de março de 2021, que trata da realização de uma audiência pública para debater o preço do diesel no Estado. A mudança na base de cálculo do imposto ocorreu, na época, em todo o Brasil, atendendo a um entendimento do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).

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