‘Brasil vai quebrar’, diz Bolsonaro sobre adoção de novas medidas restritivas; economista discorda

A declaração foi feita nesta quarta-feira,12 em entrevista ao Gazeta Brasil (Evaristo Sá/AFP)

12 de janeiro de 2022

20:01

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS — O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a responsabilizar as medidas restritivas contra a pandemia pelo aumento dos preços no País. Em entrevista ao Gazeta Brasil nessa quarta-feira, 12, o gestor afirmou que, caso seja necessário um novo lockdown, por conta de uma terceira onda de Covid-19, a economia no Brasil não aguentaria as medidas restritivas. “O Brasil vai quebrar”, declarou Bolsonaro.

A fala do presidente vem no mesmo momento em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anuncia que a inflação de 2021 ficou em 10,06%, a maior desde 2015. Na análise da economista, professora e consultora de empresas Denise Kassama, a fala de Bolsonaro não procede, uma vez que atual crise econômica no País é gerada, principalmente, pelo próprio governo com incertezas e falta de comprometimento.

“Não vou dizer que o lockdown, como afirmou o presidente, não prejudicou de certa forma a economia, e podemos ver que a medida afetou sim diretamente os setores que trabalham com a população, como o de serviço e restaurantes, por exemplo, mas atribuir a culpa a fatores externos não retira a crise de credibilidade existente na gestão”, comenta a economista.

A profissional atenta que falta de credibilidade do País, consequentemente, afasta investidores estrangeiros, que abrem fábricas, compram e ajudam a injetar dólar na economia brasileira. Reduzir o investimento estrangeiro significa também a redução de quantidade de moeda estrangeira no País e isso leva a uma baixa oferta e grande demanda resultando no aumento da taxa do dólar, considerado, exorbitante em 2021.

“Com o aumento do dólar, encarece desde o combustível que a gente importa, até os insumos para abastecer nossa indústria. Logo, encarece a manufatura e todo processo e, portanto, o produto final fica mais caro. Mas queria ressaltar que a inflação que sofremos não é demanda, ao contrário, tivemos uma redução de renda de uma forma geral. O problema de fato está na oferta dos produtos”, destaca.

Bolsonaro em entrevista ao Gazeta Brasil (Reprodução/ Gazeta Brasil)

Medida necessária

Embora o medida restritiva seja mal vista aos olhos do presidente, a economista defende o isolamento e acredita que devido o processo de vacinação, as medidas restritivas não serão tão duras como a ocorrida há um ano. Para Denise, os cuidados voltados à saúde devem ser levados a sério, ela considera que a meta é buscar linhas alternativas enquanto a pandemia de Covid-19 ainda é uma realidade entre a população.

“Defendo o lockdown e quem está doente também não consome, uma grande parte da população infectada não tem perfil de consumo, então melhor cuidar, evitar e buscar um viés. Apoiar o microempreendedor, empreendedor individual, buscar linhas de recuperação de crédito, dilatar prazo para pagamentos de dívidas, tudo isso faz parte até porque ninguém vive uma pandemia porque quer e cabe aos governos, principalmente o federal, buscar medidas para a movimentação da economia”, explica Denise.

Exemplos

A profissional traz como exemplo de recuperação econômica a Itália. Apesar de grandes problemas no início da pandemia, o País tem se recuperado do baque causado pelo Covid-19 graças à campanha de vacinação e o apoio fiscal às famílias e empresas do País.

Em setembro de 2021, uma pesquisa publicada pela organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que após o crescimento de 5,9% no ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) da Itália pode crescer 4,1% no ano de 2022, vale lembrar que o país teve uma queda de 8,9% registrada em 2020.

“A Itália está com a economia em processo de recuperação bastante pleno, então exemplo de recuperação o País tem, o que não pode é negar que a doença está aí e que a vacina é única maneira da gente minimizar esse impacto, só vai atrasar esse processo de recuperação econômica à medida que a população se imuniza, segue as orientações, permitindo que as atividades voltem a normalidade”, finaliza.