Cacique Raoni inicia fisioterapia respiratória e apresenta melhora em inflamação pulmonar

Na galeria dos grandes líderes ambientais do Brasil, Raoni Metuktire segue em tratamento contra a Covid-19, em hospital do Mato Grosso (Reprodução/Internet)

03 de setembro de 2020

08:09

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um dos principais líderes indígenas do mundo, o cacique Raoni Metuktire de 89 anos, da etnia Kayapó, segue em tratamento intensivo, na luta contra a infecção da Covid-19. O boletim atualizado nesta quarta-feira, 2, pela equipe médica do Hospital Dois Pinheiros, em Sinop no Mato Grosso, informou que o líder apresentou sensível melhora.

Conforme apurou o G1, na terça-feira, 1º, Raoni iniciou tratamento de fisioterapia respiratória e o cateter nasal, instalado para auxiliar a respiração. No princípio, Raoni tinha fortes dores de cabeça, sendo medicado com analgésicos.

Líder de expressão mundial, Raoni se reuniu recentemente com o presidente da França, Emmanuel Macron (Reprodução/Internet)

Para alívio da comunidade ambiental e das lideranças tribais, exames laboratoriais mostraram melhora dos indicativos de inflamação. Em nota, o hospital afirma: “Novos exames indicaram melhora e controle nas inflamações do coração. Amanheceu em bom estado geral. Mas permanecerá internado em observação, em leito de isolamento e acompanhamento médico, sem previsão de alta”, informou a direção do hospital.

Ainda segundo o boletim, o cacique se encontra bem e sem febre, respirando bem com saturação acima de 97% e sem cateter nasal.  O tratamento com anticoagulantes e corticoide está mantido, assim como a fisioterapia respiratória para equilibrar a função pulmonar.

A difícil relação do governo Bolsonaro com a causa indígena fez com que Raoni buscasse entendimento com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (Reprodução/Internet)

Devido à avançada idade, o cacique Raoni permanecerá internado para observação e continuação do acompanhamento clínico. Por ser uma legenda da luta indígena no Brasil, sua internação é acompanhada pela comunidade internacional e pelas principais lideranças ambientais do País.

História de uma liderança

Raoni Metuktire nasceu provavelmente na década de 1930. No Estado do Mato Grosso. Filho do cacique Umoro, da etnia Kayapó. Nômades, foi no ano de 1954 que os Kayapó entraram em contato pela primeira vez com o homem branco.

Eram os irmãos Villas- Bôas, indigenistas responsáveis por criar o Parque Nacional do Xingú. Com eles, Raoni Metuktire aprendeu a se comunicar em português. Com seu indefectível disco de madeira no lábio inferior, símbolo da cultura Kayapó, Raoni passou a militar pela causa indígena.

Encontrou-se com o Rei Lopoldo III da Bélgica na década de 1960. Foi tema de documentário com participação de Marlon Brando no ano de 1978. Em 1984, apareceu em público armado e pintado para a guerra a fim de negociar a demarcação da reserva Kayapó, com o então ministro do interior Mário Andreazza. Na ocasião enquadrou o ministro e lhe disse: “Aceito ser seu amigo. Mas você tem de ouvir índio”.

Na década de 1980, Raoni e seu amigo inseparável Sting, líder da extinta banda The Police. Em comum, a causa ambiental (Reprodução/Internet)

Entrentato, foi na companhia do roqueiro britânico Sting, líder da banda The Police, que Raoni firmou seu nome com uma das mais importantes lideranças brasileiras, no cenário internacional. Com Sting, de quem é amigo até hoje, cruzou o mundo levando a causa étnica e ambiental dos índios do Brasil. Raoni Metuktire está na galeria dos grandes nomes e mártires das causas sociais brasileiras como Chico Mendes, Betinho, Zilda Arns, Dorothy Stang e tantos outros.