Casos de doença de Chagas são registrados no AM; saiba como evitar contaminação

Fotos do inseto Rhodius Brethesi, o Barbeiro, vetor da Doença de Chagas (Reprodução/Agência Brasil)

16 de abril de 2021

18:04

Marcela Leiros

MANAUS – Cinco casos de pessoas infectadas de forma vetorial com a doença de Chagas foram registrados no Amazonas até essa quinta-feira, 15, segundo a Fundação de Vigilância Sanitária (FVS-AM). Os casos ocorreram no município de Ipixuna, distante 1.364 quilômetros de Manaus, após a ingestão de açaí contaminado.

O açaí contaminado foi ingerido na comunidade Igarapé Porto Rico, zona rural de Ipixuna. A FVS-AM informou ainda que uma equipe está em visita técnica na cidade para investigar 21 possíveis novos casos de pessoas que também ingeriram o suco da fruta.

A doença

O mal de Chagas é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, que pode ser adquirida por meio do contato com as fezes com um barbeiro, seja pela pele ou via oral. De acordo com o médico infectologista Nelson Barbosa, o barbeiro que transmite a doença tem seu habitat natural em plantas como o açaizeiro e a partir do momento em que o açaí é colhido, é possível que o fruto já esteja contaminado.

“O que se verifica é que a doença de Chagas está estritamente relacionada com o ato da pessoa entrar na mata e derrubar ou colher essas plantas, que é onde está o barbeiro. Então, a qualquer momento você pode ter um surto de doença de Chagas”, destacou o médico que atua no Hospital e Pronto Socorro (HPS) 28 de Agosto e Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD).

Os doentes podem apresentar um quadro de febre constante, inicialmente elevada, diarreia, vômito, dores de cabeça e musculares, e casos complicados podem evoluir com manifestações cardíacas, além do comprometimento do fígado e baço. O diagnóstico precoce e o tratamento imediato previnem as formas crônicas da doença e a ocorrência de óbitos. A principal forma de prevenção é a inspeção visual e catação dos frutos antes da preparação e manipulação dos alimentos.

“A técnica mais fácil e mais econômica que as pessoas podem fazer para evitar que o açaí vire um reduto de Trypanossoma cruzi é realizar o ‘branqueamento’, que nada mais é do que uma técnica que esquenta os alimentos, no caso os frutos de açaí, a uma temperatura de 80 graus célsius. Em seguida ele é resfriado e isso mata o parasita”, enfatizou Nelson Barbosa.

Ainda segundo a FVS-AM, “além do açaí, outros alimentos também podem estar envolvidos na transmissão oral do parasita, como frutas, vegetais e respectivas preparações, como suco de cana-de-açúcar, buriti e bacaba”.

Relação com o desmatamento

Além de colher e ingerir o fruto já contaminado, outra forma de infecção da doença de Chagas é o contato com o parasita ou suas fezes dentro de residências. O desmate de áreas de mata resulta na destruição do habitat natural do barbeiro transmissor do vetor, que procura imóveis para se abrigar, conforme conta o infectologista Nelson Barbosa.

“O barbeiro está nas plantas e, quando o homem desmata, ele perde aquele habitat natural e vai procurar as casas. Geralmente, a moradia dessas pessoas é feita com aquele barro batido na parede, às vezes, tem frestas e os barbeiros ficam lá. Durante a noite esse barbeiro sai das frestas e suga o sangue das pessoas”, contou o médico.

Transmissão vertical

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a doença de Chagas é endêmica em 21 países das Américas. Afeta aproximadamente 7 milhões de pessoas, com incidência anual de 30 mil casos novos na região e 14 mil mortes. Estima-se que 65 milhões de pessoas vivam em áreas de exposição e corram risco de contraí-la. Devido ao relativo sucesso das medidas de controle da transmissão vetorial (a contaminação pelo barbeiro) e transfusional (transfusão de sangue), a transmissão congênita tem se tornado proporcionalmente mais relevante em países latinos.

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda existem 1,12 milhão de mulheres em idade fértil infectadas na América Latina, onde são esperados anualmente entre 8 mil e 15 mil bebês nascidos com a doença. Já no Brasil, estima-se que pelo menos um milhão de pessoas tenham sido infectadas pelo protozoário T. cruzi, em algum momento da vida. De 2010 a 2018 foram registrados 41.122 óbitos no país, tendo como causa básica a doença (4.391 destes só em 2018).

“Na transmissão vertical, as crianças são acometidas, porque a doença passa pela placenta e chega ao feto. A criança nasce com os principais sinais e sintomas da doença aguda, e aí se o pediatra ou o médico não tiver experiência, ele não consegue dar esse diagnóstico. Por isso, que é importante, em uma área endêmica de doença de Chagas, os médicos sempre terem essa noção de que podem estar diante de um quadro de doença de Chagas”, explicou Barbosa.

No caso de transmissão vetorial, o médico infectologista explica ainda que nessas crianças “a doença tem cura, porque é aguda, o grande problema é quando não dá sintomatologia nenhuma, aí sim ela pode evoluir para uma doença crônica e os problemas só vão ser encontrados quando a criança tiver uma idade mais avançada, 10, 12, 14 anos ou na adolescência”.