29 de julho de 2021
20:07
Danilo Alves – Da Cenarium
BELÉM (PA) – Mais de 50% das amêndoas de cacau produzidas no município de Tomé-Açu (distante 198 quilômetros de Belém), cerca de 450 toneladas por ano, são exportadas para o Japão. Lá, o produto se tornou ingrediente principal em uma linha de chocolates que, recentemente, recebeu o selo comemorativo das Olimpíadas de Tóquio.
O produto, agora também comercializado na Vila Olímpica, possui 100% das amêndoas paraenses. O Estado, conforme o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sabrae), é o único do País que possui uma cooperativa que exporta as amêndoas para o Japão, a Camta – Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu. Atualmente, são quase 100 produtores cadastrados na cooperativa auxiliados pelo programa ‘compre do pequeno’, do Sebrae.
De acordo com Péricles Diniz, analista do Sabrae da região, o cacau de Tomé-Açu é o único produto paraense com o selo de Indicação Geográfica (IG) reconhecido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Com o reconhecimento, o cacau passou a ser protegido pelas leis de propriedade e direitos industriais. O selo impede que o produto típico seja reproduzido em outras regiões do Brasil.
“O Cacau de Tomé-Açu recebeu o selo em janeiro de 2019. A detentora dos registros é a Associação Cultural e Fomento de Tomé Açu (Acta), responsável por manter um conselho regulador que deve preservar, divulgar, proteger os produtos registrados. Com o reconhecimento, agricultores do município podem ser beneficiados com o selo que visa reconhecer, proteger e valorizar produtos de procedência determinada”, disse Péricles.
O primeiro lote de amêndoas de cacau com o selo de Indicação Geográfica de Tomé-Açu foi enviado para o Japão em julho do ano passado. Na ocasião, foram enviadas 25 toneladas, o que rendeu cerca de 35 mil dólares para a cooperativa.
O diferencial do cacau de Tomé-Açu, conforme o Sebrae, está em seu cultivo ambientalmente responsável, que simula o ambiente de uma floresta nativa. Uma tecnologia de sistema agroflorestal, que adota um modelo exclusivo na Amazônia, desenvolvido pela comunidade nipo-brasileira. “O mercado japonês gosta de saber de onde vem o produto, para nós é a maior alegria e orgulho representar o Estado do Pará”, disse Alberto Oppata, presidente da cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu.
“Temos hoje quatro milhões de pés de cacau em Tomé-Açu, desses, um milhão é dos cooperados da Camta, cuja produção é de 800 toneladas por ano, porém, desse total, nem tudo passa pelo crivo padrão da amêndoa exportada, que precisa ser acima de 1 grama, e taxa de germinação indicada”, concluiu Alberto.
Os três jardins clonais da cooperativa são mantidos em parceria com a Ceplac, Universidade de Agricultura de Tóquio e a empresa fabricante dos chocolates, a Meiji.
Tomé-Açu e a tradição japonesa
Há 90 anos, de acordo com o historiador Magno Ferreira, os primeiros imigrantes chegaram à cidade paraense em um projeto do governo do Estado para povoar a região. Quando se instalaram na cidade, a agricultura se tornou a principal fonte de renda da população. A mais conhecida era da pimenta-do-reino.
“Desde os pioneiros, a cultura principal era a pimenta-do-reino. Chegamos a ser os maiores produtores do mundo. Após a doença que dizimou os pimentais, outra alternativa que encontramos foi o cacau, implementado pelas famílias japoneses”, contou Magno.
Ele explicou também que o cacau de Tome-Açu foi fruto de uma série de experiências realizadas por produtores locais. Um dos produtores locais da época iniciou o tratamento das amêndoas do cacau com o suco do fruto e cana-de-açúcar. Após esse processo, o agricultor chegou a uma variedade de amêndoas, e ainda foi premiado em uma feira de chocolate na França.
“Com isso surgiu interesse de algumas empresas e nossa cooperativa começou a negociar o produto. Para dar mais visibilidade ao produto e outro preço ao mercado, nós resolvemos dar entrada para adquirir o certificado de IG”, concluiu.