Com público abaixo do esperado, atos pró-Bolsonaro atacam Judiciário com apoio de deputados no AM
07 de setembro de 2021
21:09
Victória Sales e Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS – A organização da base política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no Amazonas, estimava pelo menos 50 mil pessoas nos manifestos favoráveis ao presidente em Manaus, nesta terça-feira, 7, Dia da Independência, quando compareceram, aproximadamente, 12 mil pessoas, sendo 10 mil, na Praia da Ponta Negra, zona oeste da capital, e 2 mil na zona centro-sul de Manaus.
Os protestos priorizaram ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal Eleitoral (TSE), além de palavras de ordem contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As manifestações contaram com políticos do Amazonas, sem e com mandatos eletivos, entre eles, o deputado federal Pablo Oliva e o deputado estadual Delegado Péricles, ambos do Partido Social Liberal (PSL).
Na Praia da Ponta Negra, onde estavam os dois deputados do PSL, havia faixas pedindo a “prisão” de membros do STF e o retorno do voto impresso. O discurso no Amazonas seguiu as declarações, consideradas graves, de Jair Bolsonaro, na Avenida Paulista, em São Paulo.
“Não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança e não é uma pessoa do Tribunal Superior Eleitoral que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável”, disse Bolsonaro, na capital de São Paulo, em referência ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso.
O deputado Pablo Oliva afirmou que a população deve voltar às ruas quantas vezes forem necessárias, durante discurso na Praia da Ponta Negra, em Manaus. “O Brasil foi às ruas pedir o voto impresso, o Brasil foi às ruas pedir a prisão do Lula, não é? (…) A gente vai voltar nas ruas quantas vezes forem necessárias. É isso, galera, é Bolsonaro!”, finalizou sua fala.
Investigado pelo STF
Atualmente, Pablo Oliva, assim como Jair Bolsonaro, é investigado pelos agentes federais. O parlamentar foi denunciado, em julho do ano passado, pelo Ministério Público Federal (MPF) por utilizar a estrutura da Polícia Federal (PF) – onde ele é delegado – para praticar crimes.
Um relatório da PF mostrou que o delegado Pablo Oliva (PSL), que teve os bens bloqueados na operação Seronato, é acusado de crimes de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e corrupção.
Durante uma apreensão em imóveis do parlamentar, a polícia encontrou um arquivo no computador dele sobre um curso de lavagem de dinheiro, o que seria um indício contra o delegado, que está sob investigação.Manifestação a favor de Bolsonaro, em Manaus (Reprodução/Elias Mariano)
Infração à lei
Como o presidente Jair Bolsonaro, os deputados Pablo Oliva e Delegado Péricles participaram do evento em Manaus, sem máscaras, infringindo a Lei Federal 14.019/20, que torna obrigatório o uso de máscaras de proteção facial em espaços públicos.
As alterações promovidas na Lei Nacional da Quarentena valem enquanto durar o Estado de calamidade pública decorrente da pandemia de Covid-19.
Um dos manifestantes disse ser contrário ao Supremo Tribunal Federal, porque ele quer ser “melhor” que os outros Poderes, referindo-se ao Executivo e Legislativo.
“Estamos vendo o STF ir contra os outros Poderes, isso não pode. Viemos aqui para defender a Constituição, a nossa Carta Magna, a nossa Carta Mãe. Queremos mostrar a nossa força”, declarou Silvio Rodrigues, presidente do movimento “Direita Amazonas”, sem dar outros detalhes.
Impresso vetado
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC)135/2019, conhecida como a PEC do voto impresso, foi rejeitada e arquivada pela Câmara dos Deputados, no dia 10 de agosto, por 218 deputados.
O texto precisava de 308 votos de apoio para ser aprovado, mas teve apenas 229. Desde a tramitação da PEC, o presidente Bolsonaro acusa fraudes no sistema eleitoral por meio da urna eletrônica, sem apresentar provas, fazendo acusações a ministros do STF e TSE.
Protesto no Centro
Em protesto na Praça do Congresso, localizada no Centro de Manaus, a manifestação a favor de Bolsonaro contou com cerca de 2 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar do Amazonas (PMAM). O ato que começou na tarde desta terça-feira, 7, pediu principalmente pela liberdade individual dos brasileiros, e contou com a presença de diversas personalidades políticas amazonenses, como o principal aliado do presidente da República, coronel Alfredo Menezes (Patriota).
Ainda no ato, os apoiadores de Bolsonaro encerraram o evento com uma marcha pelas ruas do Centro da capital amazonense. De acordo com a assessoria do coronel, aproximadamente, 15 municípios do Amazonas realizaram a manifestação na tarde desta terça-feira, 7.
De acordo com Alfredo Menezes, o dia deu início a um momento que ficará registrado na história do Amazonas. “Estamos muito felizes com o resultado. Quero agradecer a todos que saíram de suas casas para vim demonstrar apoio ao nosso presidente. Temos que continuar lutando por nossos direitos individuais. Queremos que nossa bandeira continue verde e amarela. Que Deus abençoe a todos”, comentou Menezes.
A maioria dos apoiadores que foi ao ato não usou máscaras e não cumpriam o distanciamento social que foi informado pelos organizadores do evento, antes da manifestação. Segundo a aposentada Sueli Torres, a liberdade do povo brasileiro a levou até as ruas.
“Os comunistas, socialistas estão querendo enterrar o povo brasileiro como a gente já viu o que aconteceu nos outros países e aqui nós não vamos permitir isso, primeiro que acima de tudo existe um Deus”, destacou.
Questionada se tinha medo de ir para as ruas sem máscara e na aglomeração, Sueli afirmou que não sentia nenhum medo. “O Homem lá de cima cuida de nós, estou vacinada, faço meu reforço, tomo ivermectina de 15 em 15 dias e tomo vitamina C”, explicou.