Confronto entre indígenas e policiais do Bope termina com sete feridos em Roraima

Entre os feridos, estão seis indígenas e um policial militar. (Divulgação/PMRR)

16 de novembro de 2021

21:11

Bruno Pacheco e Arnoldo Santos – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um confronto entre indígenas e policiais militares do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) de Roraima, nesta terça-feira, 16, terminou com, pelo menos, sete pessoas feridas e uma viatura depredada. O caso ocorreu na comunidade indígena Tabatinga, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no nordeste do Estado.

Segundo o Conselho Indígena de Roraima (CIR), a comunidade foi atacada pelos policiais com bombas de efeito moral e tiros com balas de borracha, durante a retirada de um posto de vigilância localizado dentro da região. Em nota, a Polícia Militar de Roraima, por meio da assessoria do governo do Estado, afirma que cerca de 100 indígenas atacaram primeiro, utilizando flechas e pedras, fazendo com que os policiais se defendessem com escudos e revidassem.

Conselho Indígena de Roraima disse que vai tomar as medidas cabíveis. (Reprodução)

À REVISTA CENARIUM, o coordenador-geral do CIR, Edinho Batista de Souza, declarou que os indígenas da comunidade estavam fazendo vigilância do território para impedir o avanço do garimpo e “que o Estado, mais uma vez, age com violência contra os indígenas e acoberta os crimes de invasão e garimpo”. Segundo ele, a atividade de monitoramento do território ocorre por conta da ausência do poder público em combater a invasão de terras indígenas.

“A posição do CIR é contra essa ação, contra esse ato criminoso, que aconteceu na comunidade indígena de Tabatinga, ferindo seis pessoas nossas, da nossa comunidade, inclusive uma senhora que foi baleada a mando do governo do Estado que, mais uma vez, delega a sua polícia, em vez de proteger as comunidades indígenas”, desabafou Edinho Macuxi.

Entre os indígenas feridos, estão uma mulher e o Tuxaua da comunidade Tabatinga, cujos nomes não foram revelados. Em imagens divulgadas pelas redes sociais, é possível ver os indígenas feridos, os materiais utilizados durante o confronto e a viatura da Polícia Militar que foi depredada.

De acordo com o coordenador do CIR, a entidade tomará as medidas cabíveis. “Nós defendemos a vida, defendemos a dignidade daquele povo e o povo não vai baixar a cabeça diante da situação que está ocorrendo, porque isso realmente tem acontecido sempre contra os povos, mas aqui, não calarão a nossa boca, não pararão as nossas ações. Pelo contrário, agora, nós vamos partir para fazer as nossas ações, porque estamos sentindo que o Estado brasileiro mostra ser contrário à vida dos povos indígenas, e isso a gente não vai aceitar”, declarou Edinho.

Determinação judicial

De acordo com a nota da Polícia Militar, as equipes do Bope haviam se deslocado até a comunidade Água Fria, no Uiramutã, para cumprir a determinação judicial que proíbe a obstrução de vias na Raposa Serra do Sol, garantindo o direito constitucional de ir e vir de moradores das comunidades da região. Segundo o texto, essa decisão se baseia na solicitação de indígenas que não concordam que as ruas do local sejam bloqueadas.

No primeiro contato com a tropa policial, relata a nota, os organizadores do bloqueio se mostraram solícitos e atenderam de forma pacífica à determinação judicial e desobstruíram a passagem da via. Pouco tempo depois do desbloqueio, ainda segundo a nota, aproximadamente 100 indígenas retornaram munidos de arcos e flechas, além de armas brancas (facões e facas).

“Antes que os policiais pudessem iniciar a nova mediação, os indígenas os atacaram, arremessando suas flechas e pedras. Os policiais se defenderam com escudos e revidaram a injusta agressão com armamento menos letal e material químico de controle de distúrbio civil. Em momento algum, foi utilizada arma ou munição letal”, diz trecho da nota.

Um policial militar ferido foi atingido por uma flecha na perna, mas passa bem e não corre risco de vida. Ainda na nota, a Polícia Militar destacou que foi garantir a ordem e a segurança do local e que qualquer ação excessiva será investigada pela corregedoria.

REVISTA CENARIUM entrou em contato, por volta das 19h30, com a assessoria de comunicação do Ministério Público Federal (MPF) de Roraima, que informou não ser possível confirmar, naquele horário, se o órgão já havia recebido algum tipo de demanda por parte dos indígenas.