CPI da Covid: privilégio de políticos em vacina e pedido de prisão de David Almeida estão na pauta da comissão

O prefeito de Manaus, David Almeida, é alvo de três requerimentos. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

28 de abril de 2021

18:04

Matheus Pereira

MANAUS – A prefeitura de Manaus anunciou na última terça-feira, 27, a suspensão das aplicações da primeira dose da vacina contra a Covid-19, para que as doses disponíveis sejam aplicadas em pessoas que já tomaram a primeira dose e assim terem a imunização completa. Mesmo tentando readequar a vacinação desde as denúncias de irregularidades no processo, o prefeito David Almeida (Avante) deverá esclarecer na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 do Senado sobre os escândalos relacionados à vacinação na capital amazonense.

Único prefeito a depor na comissão, que tem como um dos focos a crise vivenciada em Manaus, por conta da falta de oxigênio nas unidades hospitalares, Almeida teve a prisão pedida, no final de janeiro, pelo Ministério Público do Estado do Amazonas (MP-AM), após ser acusado de cometer os crimes de falsidade ideológica e peculato, por ter montado um esquema para que pessoas de famílias influentes e empresários furassem a fila da vacinação contra a Covid-19, em Manaus.

Após os episódios, o delegado aposentado da Polícia Federal (PF), Sérgio Fontes, foi escolhido, em março deste ano, para supervisionar a execução do Plano Nacional de Imunização (PNI) da Covid-19 na Prefeitura de Manaus. Durante o programa “Cenarium Entrevista” da última quinta-feira, 22, Fontes ressaltou que Manaus é a cidade que mais tem se destacado no Brasil em relação à imunização.

Ainda em janeiro, o prefeito suspendeu o atendimento nos serviços de urgência e emergência de 40 mil servidores da prefeitura, medida que pode ter contribuído para agravar os casos de servidores e dependentes deles infectados pelo novo coronavírus, no período de janeiro a fevereiro deste ano. A informação dada em primeira mão pela REVISTA CENARIUM foi repercutida pelo Correio Braziliense.

O escândalo dos ‘fura-filas’

Logo no início da vacinação em Manaus, as irmãs Gabrielle e Isabelle Lins foram imunizadas um dia após serem nomeadas por David Almeida e antes de funcionários da Saúde que atuam na linha de frente nos prontos-socorros desde o início da pandemia em abril de 2020, segundo órgãos de controle do Amazonas. As irmãs pertencem à tradicional família Lins, que possui diversas alianças político-financeiras na capital amazonense. Na época, o filho do ex-deputado estadual Wanderley Dallas, David Dallas, também foi vacinado irregularmente.

Por conta das irregularidades no processo de vacinação e inconsistências no banco de dados de vacinados da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), a juíza federal Jaiza Fraxe acatou uma ação coletiva contra o prefeito, para suspender a vacinação em Manaus. Após a repercussão negativa do caso dos ‘fura-filas’, Almeida exonerou as irmãs Lins, David Dallas e mais quatro gerentes de projetos depois de apenas 25 dias da nomeação.

Pedido de prisão pelo MP

Já no final de janeiro, o Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-AM pediu as prisões preventivas de David Almeida da secretária municipal de Saúde (Semsa), Shadia Fraxe, do secretário municipal de Limpeza (Semulsp), Sabá Reis, e de mais outros 19 servidores. Na ação criminal, o órgão revela um esquema fraudulento de contratações de funcionários comissionados e acusou David pelos crimes de falsidade ideológica e peculato.

Ainda de acordo com a ação, o prefeito de Manaus inseriu declaração falsa ao nomear médicos de um “seleto grupo”, composto por pessoas com ligações políticas e econômico-financeiras de apoio político e eleitoral ao prefeito para exercerem atividade médica, no cargo de gerente de Projetos. Além disso, a investigação apontou que foram destinadas doses da vacina contra Covid-19 a uma unidade básica de saúde da capital, utilizadas para a imunização da secretária municipal de Saúde, Shadia Fraxe, do subsecretário municipal de Saúde, Luiz Cláudio de Lima Cruz, e do secretário municipal de Limpeza, Sabá Reis, evidenciando desrespeito à fila de prioridades.

Pior prefeito da Amazônia, segundo o Google

Os escândalos em meio à pandemia fizeram com que David Almeida figurasse em um levantamento feito junto ao Google Notícias (uma ferramenta do sistema Google) como o pior em desempenho de imagem entre os gestores das capitais da Amazônia nos primeiros 100 dias de gestão. A pesquisa analisou os nomes dos prefeitos e das cidades que eles representam com base nas ações das administrações municipais registradas na internet.

Pela avaliação dos dados, o prefeito de Belém (PA), Edmilson Rodrigues (Psol), é considerado o melhor em inserções positivas no período de 1º de janeiro a 10 de abril de 2021. David foi eleito nas eleições do ano passado com uma diferença de, aproximadamente, 22 mil votos no segundo turno do pleito.