CRM-AM afasta médico acusado de negligência em mortes de pacientes; famílias criticam ‘corporativismo’
24 de julho de 2024
18:07
Marcela Leiros – Da Cenarium
MANAUS (AM) – O Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-AM) decidiu afastar das funções por 30 dias, na noite dessa terça-feira, 23, o médico Edson Ritta Honorato. Ele é acusado de negligência em procedimentos cirúrgicos que resultaram nas mortes do servidor público Alan Leite Braga e da jornalista Melina Seixas, em 2022. Essa é a segunda vez que o médico é afastado pela entidade.
A decisão foi anunciada por familiares dos pacientes, por meio das redes sociais, em uma nota de repúdio. A publicação chama a decisão, considerada “branda”, de corporativismo. “É revoltante constatar como o corporativismo e o protecionismo vale mais doque a vida de duas pessoas!“, consta na nota.
Junto à decisão do afastamento, o conselho decidiu, segundo a família, que Edson Ritta Honorato é culpado por infringir os 1°, 22° e 87° do Código de Ética Médica do Conselho Federal, que significa, respectivamente:
- Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência;
- Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco iminente de morte;
- Deixar de elaborar prontuário legível para cada paciente.
Ainda na nota de repúdio as famílias afirmam que não desistirão de conseguir justiça pelos pacientes.
VEJA ABAIXO:
Em maio de 2023, Ritta Honorato já havia sido suspenso por 30 dias. A pena de suspensão limita-se a esse período pois a lei sobre infrações disciplinares de médicos estabelece que a pena máxima é de 30 dias e não pode ser aumentada.
Mortes
Edson Ritta Honorato é acusado de negligência médica durante o procedimento de implantação de balão gástrico nos pacientes Melina Seixas e Alan Braga. Os dois pacientes morreram.
Segundo a família, no dia 5 de fevereiro de 2022, Melina procurou a clínica Endograstro de Manaus, no bairro Nossa Senhora das Graças, Zona Centro-Sul de Manaus, para fazer a implantação de um balão gástrico. Edson Ritta foi o médico responsável pela cirurgia. O marido da vítima, Darlan Taveira, contou que acompanhou a esposa no dia do procedimento e, ao perceber que estava demorando mais do que o necessário, estranhou.
Quase uma hora depois, socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) entraram na clínica. Quando questionado por Darlan, o médico afirmou que Melina não havia acordado e que tinha sofrido uma parada cardiorrespiratória.
Darlan afirmou que encontrou Melina na sala de procedimento, no chão, desacordada, com os lábios e rosto roxos. Segundo ele, não havia nenhum tipo de equipamento de emergência para reanimá-la. Depois disso, as informações que chegaram à família foram somente por meio da equipe do Samu.
Desacordada, Melina ela foi retirada da clínica em uma cadeira de rodas e levada ao Hospital Pronto Socorro 28 de Agosto, na Zona Centro-Sul de Manaus. Na unidade, ela sofreu outras paradas cardíacas e morreu.
Dois meses depois, em 6 de abril, Alan Leite Braga morreu após passar pelo mesmo procedimento. Segundo a família do idoso, ele teve uma série de complicações após a cirurgia e não recebeu orientações adequadas do médico.
Alan voltou à clínica dias depois e pediu a remoção do balão, mas o médico teria se recusado a tirar. Após uma piora no quadro de saúde, o paciente foi levado ao Hospital 28 de Agosto, onde foram constatadas uma insuficiência renal e um rompimento no estômago. Ele morreu dias depois na unidade de saúde.