Desmatamento acumulado na Amazônia supera marca histórica

Os estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso lideraram o ranking de devastação (Reprodução/Greenpeace Brasil)

25 de agosto de 2021

07:08

Iury Lima – Da Cenarium

VILHENA (RO) – A Amazônia perdeu 10.476 mil km² de vegetação entre agosto de 2020 e julho de 2021. O acumulado fechou como a pior marca desde 2012, quando o resultado, em igual período, foi de 1.047 km².
A destruição atual foi 57% maior que a mensurada no ano passado, ocorrida entre 2019 e 2020. Os dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) compreendem o período chamado de “calendário do desmatamento“.

Apenas em julho deste ano, foram 2.095 km² desmatados, uma área quase do tamanho de Palmas, quase duas vezes o território de Belém e duas vezes e meia a área de São Luís, ambas capitais inseridas na Amazônia Legal. A devastação observada no mês de julho deste ano é 80% mais elevada do que a ocorrida no mesmo mês de 2020, um dos indicadores, segundo o Imazon, é de que a floresta vem sendo devastada no maior ritmo dos últimos anos, em quase uma década.

As informações foram obtidas e processadas a partir da captação de imagens de satélites do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do próprio instituto. O monitoramento é realizado desde 2008.

Desmatamento acumulado nos últimos 12 meses é o maior desde 2012, de acordo com os dados do Imazon (Bruno Kelly/Reprodução)

Situação crítica para o Acre e o Amazonas

“Também houve diversos recordes negativos em relação às áreas desmatadas. Isso ocorre devido a um intenso avanço do desmatamento em regiões da Amazônia Legal, como, por exemplo, o Sul do Amazonas e também parte do Estado do Acre, aliado ao avanço, infelizmente, do desmatamento em Unidades de Conservação (UCs), Terras Indígenas (TIs) e áreas de Florestas Públicas que ainda não foram destinadas. Tudo isso aliado à fiscalização insuficiente faz com que esses recordes de desmatamento sejam cada vez mais recorrentes”, explicou a pesquisadora da Imazon, Larissa Amorim. 

Amorim diz que o desmatamento vem apresentando uma tendência de aumento desde 2012 e alerta para a intensificação deste problema nos últimos três anos. A pesquisadora explica ainda que o Imazon identificou, nos últimos 12 meses, o avanço da destruição da maior floresta tropical do mundo, principalmente em regiões do Amazonas e Acre e que isso acontece devido ao deslocamento do desmatamento de áreas que já foram consolidadas antes, como partes de Rondônia e Mato Grosso.

“O que nós percebemos também é que o Estado do Amazonas vem se mantendo na vice-liderança entre os estados que mais desmatam. E também que, considerando toda a Amazônia Legal, os municípios críticos que foram priorizados para a fiscalização ainda apresentam um intenso desmatamento em seus territórios” , lamentou Larissa Amorim.

Pará puxou a fila

O estado do Pará foi o que mais deixou rastros de destruição sobre a floresta: apenas em julho, 771 km² de vegetação desapareceram do solo paraense, ou seja, 37% de tudo o que foi destruído do bioma, no último mês. É no Pará, também, onde ficam as dez TIs e cinco das dez UCs mais atingidas em toda a Amazônia.

“Os espectros que sempre levam o Pará a liderar o ranking, como o Estado que mais desmata, se dão ao fato de ter ocorrido grandes projetos de infraestrutura no Estado, que valorizaram a terra e facilitaram o acesso à floresta. O fato do Pará apresentar grandes áreas de florestas e áreas protegidas fez com que os desmatadores ilegais se interessassem por esses territórios e se apropriassem deles de forma ilegal. Os 37% dos municípios críticos estão localizados no Pará e são os que mais desmatam”, destacou a pesquisadora.

Quase a metade (48%) da área destruída em território paraense, em julho, se concentrou em apenas quatro cidades:

  • Altamira;
  • São Félix do Xingu;
  • Itaituba; e
  • Novo Progresso.

Para Larissa Amorim, a atividade garimpeira e a invasão de áreas protegidas são aliadas da devastação, que atuam contrastando com a fiscalização ineficiente (ou ainda com a falta dela). “Um exemplo disso é o garimpo que avança, principalmente, nas Terras Indígenas e, também, o desmatamento recorrente em Unidades de Conservação. A APA Triunfo do Xingu e a Flona Jamanxim são exemplos de UCs que apresentam intenso desmatamento dentro de seus territórios”, ressaltou Larissa.

Em um ano, o Estado também apresentou índices preocupantes: desmatou 43% a mais que agosto de 2020 e julho de 2021, chegando ao total de 4.147 km² de devastação.

Rankings de desmatamento

Depois do Pará, que sempre aparece no topo do desmatamento ocorrido na Amazônia, os Estados do Amazonas e Rondônia aparecem figurando na vice-liderança. O Amazonas corresponde a 19% de tudo o que foi destruído no bioma em julho, com 402 km² de floresta retirada do solo. Já, Rondônia, na terceira posição, foi responsável por 15% da área destruída, ou seja, 319 km².

Os cinco estados que mais desmataram em julho de 2021

PosiçãoEstado Devastação (em km²)
Pará 771
Amazonas402
Rondônia319
Acre 313
Mato Grosso203
Fonte: Imazon


Já nos últimos 12 meses, Rondônia deu lugar, na terceira posição, ao vizinho Mato Grosso, que destruiu 1.536 km² de agosto do ano passado a julho deste ano. A liderança, mais uma vez, ficou reservada ao Pará, que devastou uma área de mais de 4 mil km².

Os cinco estados que mais desmataram nos últimos 12 meses

PosiçãoEstado Devastação (em km²)
Pará 4.147
Amazonas1.831
Mato Grosso1.536
Rondônia1.352
Acre927
Fonte: Imazon

É mais barato (e saudável) manter a floresta em pé

“O desmatamento, infelizmente, é a principal causa da emissão dos gases de efeito estufa no Brasil e se o ritmo de perda de floresta continuar do jeito que está sendo apresentado nos últimos anos, infelizmente, como consequência, nós teremos um desequilíbrio ambiental e a intensificação do aquecimento global”, avaliou a pesquisadora do Imazon.

Ela ainda traçou prejuízos econômicos que podem ser gerados ao País como resultados do custo da devastação do meio ambiente: “como problemas econômicos, nós teremos impactos em atividades relacionadas à agricultura e à pesca e, caso haja a seca de mananciais, nós também poderemos sofrer uma crise energética”, concluiu Larissa Amorim.