Dia Nacional do Braille: sistema inclusivo em alto-relevo usado por deficientes visuais

O sistema é ferramenta indispensável para os cegos e pessoas com pouca visão (Reprodução/Internet)

08 de abril de 2021

08:04

Priscilla Peixoto

MANAUS – O dia 8 de abril é o Dia Nacional do Braille – sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão. A data foi sancionada em 21 de junho de 2010, por meio da Lei nº 12.226, com intuito de reverenciar este sistema inclusivo de comunicação, além de fazer memória ao francês Louis Braille, que em 1825 finalizou suas pesquisas sobre a formulação do sistema.

Além de homenagear Louis Braille, a data também faz honras ao primeiro professor cego do Brasil, José Álvares de Azevedo. Ele nasceu cego e quando criança, teve a oportunidade de estudar no Instituto Real dos Jovens Cegos em Paris com o próprio Louis Braille. Ainda jovem, Álvares de Azevedo voltou ao Rio de Janeiro, cidade natal, onde idealizou o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em setembro de 1854, hoje conhecido como Instituto Benjamim Constant.

O Braille é a principal ferramenta de ensino à aprendizagem dos deficientes visuais (Reprodução Internet)

Até em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimava que a cegueira afetava 39 milhões de pessoas em todo o mundo e que outras 246 milhões sofrera da perda moderada ou severa da visão. No último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia até então no País, mais de 6,5 milhões de pessoas com alguma deficiência visual.

Sendo 528.624 incapazes de enxergar (cegos) e outras 6.056.654 pessoas que apresentam baixa visão ou visão subnormal (grande e permanente dificuldade de enxergar) e por fim, 29 milhões de pessoas alegam alguma dificuldade permanente de enxergar, mesmo com o auxílio de lentes de contato ou óculos de grau.

Educação e Inclusão

Por conta disso, o sistema Braille é uma das principais ferramentas de educação e inclusão na vida das pessoas que possuem deficiência visual. O professor do Centro de Apoio Pedagógico e deficiente visual Tarcísio de Oliveira, 39, considera o sistema indispensável.

O código proporciona, acessibilidade e inclusão garantindo direitos e quebrando barreiras. Ele abrange desde a educação infantil e vai desenvolvendo ao longo das etapas educacionais, permitindo assim, a não dificuldade do indivíduo cego ao chegar no ensino superior apresentando uma  boa  comunicação escrita e leitura também.

 “É o sistema mais útil e fundamental para alfabetizar desde a infância e reabilitar aqueles que ficaram cegos ao longo da vida, é por meio dele que temos autonomia diante da realidade em que vivemos. É aprendendo o Braille, que podemos assinar nosso nome, validar quem somos”, ressalta o pedagogo.

Atualmente, todas as caixas de medicamentos vêm com inscrições em Braille (Reprodução/Agência Brasil)

Braille e modernidade

Já para o professor, deficiente visual e militante na causa da inclusão digital das pessoas com deficiência e melhorias no acesso à educação, Ricardo Souza, 41, além do Braille que ele conta que aprendeu aos 17 anos após perder a visão por conta de uma extração dentária, as novas tecnologias voltadas aos cegos e pessoas com visão mais limitada servem de alternativas mais amplas.

“É claro que sem o Braille não teríamos acesso ao aprendizado da escrita e leitura, realizar caçulos, sem ele não teríamos possibilidade de muita coisa. Mas hoje também temos instrumentos modernos atrelados ao braile, até porque ele está presente em tudo que nos circunda, nos aplicativos, em bulas, caixas de remédios, nas urnas eletrônicas”, diz Ricardo que possui um projeto voltado para tecnologias assistivas e inclusão para pessoas com deficiência.  

Realidade

Ainda de acordo com último senso do IBGE realizado em 2010, só no Amazonas, havia até então 651.262 pessoas com deficiência visual sendo que eram 210.173 idosos. Para atender toda essa demanda, o educador Tarcísio chama atenção para a falta de profissionais que dominem o sistema de educação inclusiva por meio do Braille em Manaus.

Mesmo que a interação com o todo seja essencialmente pautada na oralidade, ele afirma que o código sempre será a base. “Conheço alunos que já estão se formando e se saem bem na oralidade, mas não sabem, ao menos, assinar corretamente o próprio nome. E Braille na vida de um cego é tudo. Acho que falta mais interesse do movimento das pessoas cegas”, revela Tarcísio.

Ele ainda completa. “Muitos dizem que o Braille morreu por conta da tecnologia, mas não é bem assim. Esses recursos mais modernos auxiliam muito, mas não substituem o domínio do Braille na hora da escrita e leitura, por exemplo. Eu sempre digo que independente da ferramenta existente, que sempre é bem-vinda, o Braille não morreu!”, exclama.

No Amazonas

Em Manaus, há alguns locais voltados para reabilitação (caso das pessoas que não nascem cegas e por algum motivo ficam deficientes visuais ao longo da vida) e a alfabetização. A Associação dos Deficientes Visuais no Amazonas (Advam), a Biblioteca Braille, Escola Joana Rodrigues Vieira, Centro de Capacitação Pedagógico (Cap) e a União dos Deficientes Visuais de Manaus (Udevima) são alguns dos principais locais que desenvolvem trabalhos voltados para a comunidade.

A reglete é uma espécie de régua e a punção tem a função de marcar o papel a partir da pressão exercida sobre ele (Reprodução/Internet)

Mais sobre o Braille

É um sistema em código de escrita em alto-relevo mais usado do mundo. Possui 64 símbolos contados com os espaços não ocupados pelos pontos. Além das letras, o sistema oferece números, pontuações e símbolos.

O sistema também possui regras e normas a serem seguidas em respeito ao uso das letras maiúsculas e minúsculas e abreviações, por exemplo. A escrita do Braille envolve algumas questões específicas.  Para escrever em Braille é utilizada a chamada reglete, um dos primeiros instrumentos criados para a escrita Braille acompanha pela punção, adaptadas pelo próprio Louis Braille. O papel costuma ser papel 40 quilos por conta da sua gramatura.

Qualquer pessoa interessada pode aprender a ler Braille, mas escrever exige um maior esforço e dedicação. A leitura pode ser feita de forma bimanual, quando é feita com as duas mãos ou unimanual, quando é utilizada apenas uma das mãos.