Dia Nacional do Orgulho Gay: retrocesso e preconceitos ameaçam celebração

Membros da comunidade gay dizem que atual cenário político tem aflorado a sensação de retrocesso. (Reprodução/Internet)

25 de março de 2021

07:03

Priscilla Peixoto- Da Revista Cenarium

MANAUS – Neste 25 de março é celebrado o Dia Nacional do Orgulho Gay, que além de um momento de celebração, também é uma data voltada para a luta contra a violência LGBTQIA+. Militantes entrevistados analisam o cenário político, que tem aflorado a sensação de retrocesso e preconceito agudo para a comunidade brasileira.

Integrantes e simpatizantes da comunidade aproveitam para protestar e pontuar quais os ganhos e o que ainda falta para que tenham, enfim, mais dignidade e respeito. Nesse contexto, a palavra orgulho, inclusa na data oficial, não é à toa e vem justamente para combater todo sentido de vergonha ou constrangimento que a sociedade submeteu e ainda submete os homossexuais por muitos anos.

Para o psicólogo Adan Silva, de 32 anos, apesar dos avanços conquistados ao longo dos anos, não há muito o que se comemorar. “Principalmente em tempos atuais, onde o governo de certa forma contribui para o aumento de casos de homofobia. Vivemos praticamente em um ‘heteroterrorismo’ o tempo inteiro, em um País onde mais mata transexuais, onde a ofensiva é constante e a população o tempo todo endemoniza e sexualiza pejorativamente, é realidade dura”, lamenta Adan.

“Somos o tempo todo mal-vistos, vigiados, difamados. Temos muitas vitórias, porém passamos por um momento muito triste, tanto no âmbito federal quanto estadual e municipal. No momento não temos muito a comemorar, não”, lamenta o psicólogo.

Dados

O Sistema Único de Saúde (SUS) realizou uma longa pesquisa entre os anos de 2015 e 2017 e identificou que a cada uma hora, uma pessoa da comunidade LGBTQIA+ é agredida no Brasil. Os dados analisados apontaram 24.564 notificações de violências registrados, mais o que corresponde a mais de 20 notificações por dia.

Já de acordo com o último relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia em 2019, mostra que, ao todo foram 329 pessoas da comunidade LGBTQIA+ morreram de forma violenta no Brasil, vítimas da homofobia e transfobia. Sendo 297 homicídios e 32 suicídios o que equivale a 1 morte a cada 26 horas. Os dados revelam uma realidade assustadora.

Bandeira do movimento LGBTQIA+ hasteada em protesto por mais segurança e direito à comunidade. (Reprodução/Internet)

Morte de trans

O Brasil é o País que mais mata pessoas trans no mundo, de acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Nacional de Travesti e Transexuais (Antra) em 2019. Apenas no primeiro semestre de 2020, 89 transgêneros foram assassinados no Brasil, o que significou um aumento de 39% se comparado ao mesmo período de 2019, marcado por diversos protestos pelo mundo.

Ainda de acordo com a pesquisa da Antra, no ano de 2020, teve o total de 175 travestis e mulheres transexuais assassinadas, resultando em um índice de 41% a mais que o ano de 2019. Isso faz do ano passado, um triste ano marcado pelo sangue de vítimas da comunidade trans.

Movimento no Brasil

No Brasil, o movimento LGBTQIA+ começou a ganhar destaque na época da ditadura militar, na década de 70. Nesta época, os homossexuais passavam por situações extremamente violentas, sendo acusados até mesmo de vadiagem. Até o ano de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerava a homossexualidade como uma doença – (distúrbio mental). Porém, em maio daquele mesmo ano, a OMS decidiu retirar a orientação sexual da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID).

Aos poucos, o movimento LGBTQIA+ foi ganhando força no Brasil. Hoje o País tem um dos maiores movimentos gays do mundo e inclusive, tem as mais conhecidas paradas gays, que acontecem em todos os Estados do Brasil. Sendo a de São Paulo a mais famosa e agitada de todos com mais 1,5 milhão de pessoas todo ano.

Diversos simpatizantes são adeptos aos protestos e paradas do orgulho LGBTQIA+. (Reprodução/Internet)

Conquistas

Apesar das constantes batalhas por dias melhores, o árduo caminho também resultou em alguns frutos como a Criminalização da LGBTfobia, o reconhecimento social da identidade de gênero, a permissão para casais homoafetivos adotarem crianças, casamento civil igualitário, o reconhecimento e entendimento de que a homossexualidade não é doença e não existe cura gay, são apenas umas das conquistas mais significativas para a comunidade.

Não vão nos calar!

Para a Drag Queen Aurora Boreal, 30 anos, a data é emblemática, sendo um momento propício para reafirmar os motivos do orgulho LGBQTIA+.

“Não é simplesmente o orgulho de ser gay, é mais profundo. É orgulho de ser resistência, de nadar contra essa maré de ódio que se intensificou após a eleição do então presidente da República. Avançamos um pouco nas políticas públicas, mas ainda temos muitos casos que passam em silêncio”, ressalta Aurora.

“Esse dia serve para dizer que não vão nos colocar por baixo do tapete, não vão nos calar. É dia de celebrar a existência, a alegria, o nosso orgulho, mas para além disso. Precisamos dizer estamos aqui, sempre estivemos aqui e vamos continuar aqui, é sobre isso”, finaliza.