Do luto à luta: mobilização virtual debate violações de direitos e genocídio indígena no AM

Mulher indígena usa máscara com slogan Vidas Indígenas Importam (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

29 de abril de 2021

11:04

Marcela Leiros

MANAUS – Indígenas, organizações indigenistas de defesa dos direitos humanos se reuniram nesta quinta-feira, 29, para compartilhar relatos e depoimentos sobre a violação dos direitos e genocídio dos povos tradicionais no Amazonas. A mobilização objetiva a construção de um dossiê para responsabilizar instituições e agentes por omissões e descasos do Estado. O evento é realizado de forma virtual pelo Youtube no âmbito do Abril Indígena 2021 entre os dias 29 e 30 de abril.

Organizado pela Frente Amazônica de Mobilização em Defesa dos Direitos Indígenas (Fammdi), a mobilização virtual discutirá tanto a situação dos indígenas perante a pandemia quanto à violência contra os povos. Mortes de indígenas provocadas pela pandemia e as possíveis campanhas que induzem indígenas a recusarem as doses de imunizantes, assim como a crescente perseguição a lideranças indígenas serão alguns dos temas debatidos.

Mobilização virtual reúne indígenas, organizações indígenas e de defesa dos direitos humanos e indigenistas (Reprodução/Youtube)

Dossiê

De acordo com o mediador e antropólogo indígena Gersem Baniwa Luciano, os estudos, relatos, depoimentos e testemunhos da mobilização virtual servirão como evidências que deverão embasar um dossiê para responsabilizar instituições e agentes públicos. O documento deverá ser encaminhado para tribunais nacionais e internacionais.

“A ideia é que nos construamos um dossiê bem qualificado, tecnicamente, antropologicamente e juridicamente para que depois tomemos medidas e ações para responsabilidade o estado brasileiro e seus agentes. Não é apenas responsabilizar o estado, porque ninguém responde diretamente, mas responsabilizar as instituições e seus agentes que estão cometendo esse crimes. Depois, levar esse documento para os tribunais de justiça em âmbito nacional e internacional”, disse o pesquisador.

Homenagem aos povos livres

De acordo com a organização do evento, as homenagens serão direcionadas aos povos isolados, ou “povos livres” e para os indígenas mortos em decorrência da Covid-19. De acordo com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), até essa quarta-feira, 28, cerca de 660 indígenas morreram pela doença. O maior número de mortes foi no Mato Grosso do Sul, onde 88 indígenas tiveram as vidas ceifadas.

Gersem Baniwa Luciano é antropólogo e mediador do evento virtual (Reprodução/Youtube)

Um dos povos indígenas mais ameaçados na Amazônia e particularmente no Amazonas são os povos até pouco tempo conhecido como povos isolados, ou voluntariamente em isolamento, no nosso evento estamos denominando povos livres ou povos autônomos, que escolheram para viver sem nenhum impacto dessa civilização que tem muitas coisas boas, mas crueldades acontecendo”, reafirmou Gersem Baniwa.

Mortes pela Covid-19

De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), as mortes de indígenas contaminados por Covid-19 aumentaram 800% em 15 dias, durante o mês de abril. Foram nove casos registrados entre os dias 6 e 21, um salto se comparado com o mês de março, que registrou a primeira morte pela doença de uma indígena do povo Borari, de 87 anos, no município de Santarém (PA).

O levantamento foi divulgado na quinta-feira, 24. Segundo a Apib, o número de contaminados pode ser ainda maior levando em conta as subnotificações pelo Governo Federal, que não se aproximam de dados mais precisos. As informações foram colhidas tomando de base os balanços da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e em contato com secretarias estaduais e as próprias lideranças indígenas.

Veja a programação completa: