Do nano à cura: tratamento alternativo para a leishmaniose é desenvolvido por pesquisadora no AM

Ayrles Silva destaca que no Amazonas há a presença da leishmaniose cutânea, que é mais comum entre pessoas que se expõem ao contato com o mosquito transmissor e com o parasita (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

27 de maio de 2021

11:05

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um tratamento alternativo para a leishmaniose também foi proposto por Ayrles Silva Gonçalves Barbosa Mendonça para substituir os tratamentos tradicionais considerados mais tóxicos. Em sua tese de doutorado intitulada “Desenvolvimento e caracterização de nanopartículas de óxido de ferro para o tratamento de Leishmaniose cutânea via hipertemia por ondas curtas”, a proposta principal é aplicar sobre as lesões cutâneas causadas pela doença, que afeta principalmente pessoas vulneráveis socioeconomicamente, nanopartículas de óxido de ferro que superaquecem as células infectadas e matam os parasitas.

A leishmaniose é transmitida por flebotomíneos, popularmente conhecidos como mosquitos-palhas, que transmitem dois tipos da doença: a visceral, conhecida como Calazar – que afeta os órgãos internos – e a tegumentar ou cutânea, cuja incidência no Amazonas é mais comum. “Aqui no Amazonas a gente tem, até por uma questão do inseto em si, a presença da leishmaniose cutânea, a gente não tem a presença da Calazar, da visceral, mas nós temos uma variedade muito grande de espécies de leishmaniose cutânea”, afirma Ayrles Mendonça.

Na pesquisa, foram desenvolvidas nanopartículas de óxido de ferro de maghemita para serem aplicadas sobre as lesões com um aparelho chamado Diatermia, criando um campo eletromagnético que aqueceria as lesões e mataria o parasita devido ao superaquecimento das células infectadas.

“Esse aparelho geraria o campo e então você teria uma movimentação muito grande porque essas partículas de óxido de ferro são magnéticas. Elas entram em consonância, digamos assim, com esse campo e elas aquecem porque aumenta o grau de agitação. Então, uma vez que elas aquecem, a gente consegue matar o parasita, não pelo óxido de ferro, porque não é tóxico, mas pelo aquecimento ou superaquecimento dessas células”, explica a pesquisadora.

Ayrles Mendonça lembrou ainda a necessidade de chegar a uma temperatura de superaquecimento que destruísse apenas as células infectadas e não as saudáveis. “A gente buscou pensar numa temperatura que você conseguisse destruir as células infectadas, mas, ao mesmo tempo, não destruir essas células íntegras, não infectadas, que elas conseguiriam resistir a esse aumento de temperatura”, destacou.

No Brasil, o tratamento mais tradicional da doença é feito com uma medicação antimonial chamada Glucantime, considerada muito tóxica e causadora de efeitos colaterais, como dor nas articulações, náuseas, vômitos, dores musculares, febre, dor de cabeça, diminuição do apetite, dificuldade para respirar, entre outros.

“O aparelho gera o campo magnético, as nanopartículas de óxido de ferro aquecem. A gente consegue matar o parasita, não pelo óxido de ferro, porque não é tóxico, mas pelo aquecimento ou superaquecimento dessas células”, Ayrles Silva Gonçalves Barbosa Mendonça, doutora em Biotecnologia.

Mais afetados

A leishmaniose é comumente conhecida como “doença de pobre”, pois afeta prioritariamente pessoas em situação de vulnerabilidade econômica. “A gente não gosta muito dessa terminologia, mas é a utilizada. É uma ‘doença de pobre’ e afeta prioritariamente pessoas com uma renda menor e que estão expostas ao flebotomínio e, consequentemente, ao parasita. Então, normalmente, essas pessoas são como um público-alvo. Outro perfil comum: jovens homens adultos que fazem atividades que os expõem ao contato com o inseto e com o parasita”, lembra Ayrles Mendonça.