Economistas do AM discutem fim do auxílio emergencial aos 38 milhões de brasileiros

Com o fim do auxílio emergencial em dezembro, cerca de 15 milhões de pessoas vão voltar para a pobreza, segundo estudo da FGV (Reprodução/ Internet)

12 de outubro de 2020

20:10

Luís Henrique Oliveira – Da Revista Cenarium

MANAUS – Mesmo ‘decretado’ por alguns apoiadores do presidente Bolsonaro, o fim da pandemia ainda está longe de ser uma realidade. E como o País não tem mais dinheiro para que o auxílio emergencial do Governo Federal seja mantido, uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou, na última semana, que 38 milhões de brasileiros devem ficar sem assistência alguma. Para falar sobre isso, a REVISTA CENARIUM ouviu alguns especialistas no assunto.

Chamados de “invisíveis” pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, as pessoas que devem ficar sem essa assistência são, em sua maioria, de baixa renda, com pouca escolaridade e ocupadas em atividades informais.

Em Manaus, o economista Marcus Evangelista explicou que mesmo com o fim do auxílio emergencial anunciado para dezembro, foi graças ao programa federal que muitos brasileiros conseguiram recursos para alimentação e moradia.

“No momento que há essa redução, logicamente, que há toda uma manifestação, mas precisamos entender que toda essa pandemia não tinha uma dotação orçamentária suficiente para atender durante todo esse tempo. Então, a redução de R$ 300, apesar de ter um impacto nas famílias, ainda é um valor que dá para você garantir alguma coisa para o seu dia a dia. Apesar de tudo, nós temos de agradecer ao Governo Federal por manter esse auxílio”.

Presidente do Sindecon-AM é cotado para o prêmio ‘Economista do Ano’
Segundo Marcus Evangelista, programa federal impulsionou economia e foi de extrema importância para sobrevivência de milhares de brasileiros (Reprodução/ Internet)

De acordo com o Ministério da Economia, são 65 milhões de brasileiros que estão recebendo o auxílio. Nas primeiras cinco parcelas de R$ 600, o valor totaliza R$ 39 bilhões. Com a redução do auxílio para quatro parcelas de R$ 300, são mais R$ 19,5 bilhões. Logo, até o final do auxílio, será injetado na economia brasileira cerca de R$ 58,5 bilhões. “Isso faz com que a economia gire de forma positiva, gerando consumo, consumo gerando mais produção e a produção requerendo mais mão de obra”, explica o economista Ailson Rezende.

Segundo Rezende, já foi comprovado em pesquisas anteriores que, sem o auxílio, essas famílias chegam a fazer apenas uma, ou nenhuma refeição por dia. “Logo eu sou a favor da continuidade do auxílio”, disse.

E completou: “Deveria ter um filtro melhor para identificar realmente quem precisa desse auxílio. Seria bom o Governo Federal criar cursos e capacitações, para que essas pessoas fossem saindo desse auxílio, mas logo sendo levadas a um emprego e assim, terem renda própria”, defende.

Já o doutor em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Leonardo Regazzini, explica que é preciso acompanhar a situação de perto para tomar providências que não sejam drásticas. Ele reforça o que foi falado pelo colega Ailson Rezende ao citar que as famílias que mais precisam devem ser o foco dos recursos.

Leonardo Regazzini • LIVRES
Regazzini falou sobre dívidas que o Brasil possui e reforçou importância de políticas voltadas para os mais necessitados (Reprodução)

“A redução da renda será o principal problema que teremos. Muitos economistas acreditam que essa recuperação será muito lenta. É claro que não basta manter o auxílio, pois o endividamento crescente do País é alto. Todos nós somos sensíveis à causa das pessoas que estão sem renda e, de fato, é preciso pensar em uma política que resolva essa situação. Precisamos de uma política focalizada para as famílias que mais precisam”, disse.

Pesquisa

Segundo estudo da FGV, os 38 milhões de necessitados e que ficarão sem assistência correspondem ao número de pessoas que receberam a primeira parcela do auxílio – de um total de 67 milhões -, mas não estão inscritas no Cadastro Único e, portanto, não vão receber o Bolsa Família quando a transferência emergencial for encerrada.

Ou seja, representam 61% da parcela da população que recebeu o auxílio emergencial, sendo que mais da metade desses trabalhadores (64%) são informais, 74% deles têm renda até R$ 1.254 e são em sua maioria pessoas de baixa escolaridade, com no máximo o ensino fundamental (55%).

Ainda segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), 15 milhões de pessoas vão voltar para a pobreza com o fim do pagamento do auxílio emergencial, em 31 de dezembro de 2020.