EDITORIAL – A reviravolta política do governador do Amazonas

O governador Wilson Lima muda o cenário político e retoma o apoio institucional (Secom/Samuelknf)

14 de agosto de 2021

13:08

Paula Litaiff – Da Revista Cenarium

MANAUS – Há um ano, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), via-se em uma fase turbulenta, na qual “caciques” do Estado preocupavam-se mais em tirá-lo do cargo do que em resolver as crises geradas com a pandemia em um cenário que lembrava um roteiro de novela brasileira. Lima conseguiu retomar o apoio institucional e, até o momento, vem recriando novos capítulos de seu mandato.

A reviravolta confirmou-se no último evento do governo, dia 12, quando foi lançada a obra de modernização da AM-010 (que liga o município de Manaus a Itacoatiara) e contou com a presença de 31 dos 62 prefeitos do Amazonas e mais da metade dos deputados da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), além de outras autoridades.

Em agosto de 2020, o governador lutava contra um pedido de impeachment oriundo de atores antagônicos em meio a uma operação policial e, junto a tudo isso, sua gestão respondia à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, que, apesar de criada para investigar 11 anos de gestão estadual, focou no governo dele. A acirrada oposição tinha como foco as eleições municipais que se aproximavam.

Atrelado à investida de adversários de fora do governo, Lima tinha, debaixo do mesmo teto de trabalho, conspiradores, entre eles o vice, Carlos Almeida, responsável pelo abrupto rompimento entre os poderes Executivo e Legislativo no primeiro semestre do ano passado. A cisão gerou atraso em votações de projetos importantes para a população.

Entre conluios políticos e conflitos institucionais, o governador obteve o arquivamento do impeachment por falta de provas, apresentou defesa às acusações da operação policial e, depois de decidir ser o próprio articulador do governo, refez as relações com deputados estaduais, parlamentares federais, prefeitos e líderes de entidades representativas da sociedade civil.

Prefeitos aliados

No evento de Itacoatiara, chamou a atenção a diversidade dos partidos políticos dos 31 prefeitos/vice-prefeitos do interior do Amazonas presentes na cerimônia. Entre eles, havia filiados a legendas, cujo líderes são adversários do governador Wilson Lima, como o MDB, do senador Eduardo Braga, e o Democratas, legenda que abrigou Amazonino Mendes, ambos possíveis candidatos ao governo do Estado no ano que vem.

Além do MDB e Democratas, a cerimônia contou com gestores municipais do PSD, do senador Omar Aziz, presidente da CPI da Covid no Congresso; do PL, legenda do vice-presidente da Câmara Federal, o deputado Marcelo Ramos, além de prefeitos dos partidos Republicanos, Progressistas, do PT e da própria sigla de Wilson Lima, o PSC.

Adesão partidária

A aprovação das principais lideranças municipais do Amazonas à gestão do governador do Amazonas ocorre na mesma semana em que vieram à tona informações sobre a quantidade de partidos que Lima tem apoio. O número chega a nove, que além do próprio, o PSC, estão o PRTB, PRB, Pros, Podemos, PL, Progressistas, Avante e o PMN, retirado de um aliado de Amazonino, o empresário Orsine Júnior.

O próprio Amazonino teve que abandonar, há um mês, o partido no qual estava filiado, o Podemos, após Wilson Lima, com o apoio de parlamentares da Aleam articularem – via Executiva Nacional – a direção estadual da legenda e entregá-la ao deputado Abdala Fraxe, aliado do prefeito de Manaus, David Almeida (Avante).

Almeida, que estava presente no evento de Itacoatiara, deve, em grande parte, sua eleição na capital em 2020, ao governador Wilson Lima. Se tiver palavra e conseguir retomar o apoio popular, será peça estratégica no xadrez eleitoral de 2022, pleito que será decidido, essencialmente, pela empatia do eleitor à personalidade do candidato somada as suas ações.

Novos capítulos

Sabendo que somente o apoio político não faz um governo, Wilson Lima – após dá cabo na crise com aliados e adversários – voltou-se ao que realmente o governador é eleito para fazer: administrar para a população.

A obra na terceira maior cidade do Amazonas é estratégica economicamente. Com a injeção de R$ 360 milhões na pavimentação dos 250,4 quilômetros da AM-010, a obra beneficiará sete municípios, além de Itacoatiara, como Manaus, Rio Preto da Eva, Silves, Itapiranga, Urucurituba, Urucará e São Sebastião do Uatumã. O Governo do Amazonas estima gerar pelo menos 10 mil empregos.

Além de novos postos de trabalho, a pavimentação na AM-010 melhorará a logística para o escoamento da produção rural, contribuirá para o fortalecimento do turismo e oportunizará o surgimento de novos empreendimentos imobiliários.

Apesar do cenário institucional/político sob controle, Wilson Lima precisa escrever novos capítulos de sua gestão e tem ciência de que, na concepção da nova história, não pode ceder a pressões, porque, só dessa forma, continuará sendo o protagonista de seu governo.