Em ano de pandemia, Dia das Mães é marcado pela perda e superação da Covid-19

(Divulgação)

10 de maio de 2020

08:05

Bruno Pacheco

MANAUS – O Dia das Mães deste ano será marcado pela dor de famílias que perderam entes queridos para o novo Coronavírus. Avós, mães, filhos e netos do Amazonas e de todo o País não resistiram à doença por falta de um respirador ou por falta de um leito em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

O jornalista Bruno Fonseca, de 30 anos, repórter e apresentador da TV A Crítica, perdeu a avó, Raimunda Fonseca, de 79 anos, recentemente por insuficiência respiratória. Ele conta que em meio ao sofrimento da perda, ficam as memórias de vida e alegria do cotidiano.

Bruno e a avó Raimunda (Reprodução/Instagram)

Segundo Bruno, há alguns anos a avó sofria de Alzheimer – doença que traz transtorno neurodegenerativo progressivo e fatal que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória -, mas mesmo assim, a doença não fez a avó esquecer o amor pelos filhos e netos.

“É assim que para sempre você vai tá na minha memória, alegre, comendo os milhares de tucumãs, me apelidando, me brigando e principalmente me amando. Você veio à terra simplesmente para jogar nas nossas vidas a humildade e o amor! Nos ensinou a ser feliz! Pode ter certeza minha ‘pipoquinha’, que eu vou seguir levando o seu legado: o de viver intensamente, trabalhando e cuidando da nossa família que sempre lutou para unir”, homenageou, Bruno.

Esperança

Se num lado há lágrimas por perder uma vida, em outro também choram por ganharem uma nova. Depois de 15 dias que apresentou os sintomas de Covid-19, a gestora de Recursos Humanos, Monah Almeida, de 27 anos, está pronta para receber o bebê arco-íris Miguel neste fim de semana. No isolamento, ela conta junto ao esposo, Bruno Almeida, que enfrentou inclusive o afastamento da primeira filha, Manuella, de sete anos.

“Meu esposo trabalha em Urucu (a 363 quilômetros de Manaus), e ficava 15 dias lá e 15 aqui. Eu apresentei primeiro os sintomas, e tudo indica que eu passei para ele. Eu senti só febre e dor de cabeça, mas ele teve sintomas mais fortes, com dor no corpo, e fez tratamento. Preferimos que a Manu não ficasse aqui, aí ela fica na avó, no prédio da frente, e ficamos pela varanda e ao telefone”, detalhou.

No início do isolamento, ela estava apreensiva, até por ter perdido um bebê há um ano, antes de engravidar do Miguel. Agora, ela conta, mais calma, que viver esse Dia das Mães será emocionante como nunca. “Tinha medo de não poder amamentar ou vir para casa, mas com as informações da vigilância e as orientações médicas entendi como vai funcionar. A única coisa que muda é a atenção redobrada à higienização, vou amamentar de máscara e, mais do que nunca, não receber visitas”, completou.

Monah, Bruno e Manuella, com o bebê arco-íris Miguel ao centro (Arquivo Pessoal)

Em uma semana, do último domingo, 3, até esse sábado, 9, o Amazonas somou 5.863 mil casos da Covid-19, chegando ao total de 11.925 o número de infectados, tendo Manaus como o epicentro da pandemia, com 6.743 casos. No Estado, as mortes se aproximam de 1 mil.

Visitas nos cemitérios suspensas

O índice crescente fez a prefeitura de Manaus suspender, na sexta-feira, a visitação a cemitérios no Dia das Mães, afim de evitar aglomerações. A data, de acordo com a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp), recebe, anualmente, um fluxo muito grande de pessoas. Somente em 2019, pela estimativa da secretaria, mais de 60 mil pessoas visitaram cemitérios da capital.

A determinação, segundo a prefeitura, segue as diretrizes do decreto nº 4.801, de 11 de abril de 2020, que regula a movimentação nos cemitérios da cidade, limitando a entrada de pessoas em sepultamentos e respeitando a recomendação de distanciamento social.

Perdas que marcam

Para a autônoma Neia Sandro, que também perdeu a avó Raimunda Correa, de 74 anos, para o novo Coronavírus no dia 23 de abril, a data que deveria ser comemorativa, será apenas de lembranças. No entanto, a necessidade de se evitar aglomerações nos cemitérios era necessária.

“Minha mãe e eu faremos nossa singela homenagem em casa. Ela será lembrada por nós como uma pessoa guerreira, que lutou contra a doença. Infelizmente, o vírus a levou”, comentou.

Superação

De acordo com o presidente do Conselho Federal de Enfermagem, Manoel Neri, em entrevista à jornalista Renata Lo Prete, da TV Globo, na sexta-feira, 8, o índice pode resultar, ainda, na maior quantidade de profissionais da saúde infectados em todo Brasil.

“Relacionado à pandemia da Covid-19, ao adoecimento e óbito de profissionais de enfermagem, os estados que têm maior número de casos são exatamente esses onde a pandemia está chegando próximo ao período de pico, como é o caso das cidades de Manaus, Belém, Macapá, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Recife”, disse. Atualmente, o Brasil supera os Estados Unidos em mortes de profissionais de enfermagem por Covid-19, segundo o Jornal da Globo.

Apesar do índice negativo, no entanto, há histórias de superação, em Manaus, como é o caso da representante comercial Thais Oliveira. Por meio das redes sociais, ela conta que a mãe Thiana Santos, mesmo com diabete e hipertensa, venceu a luta contra doença no último dia 29 de abril.

Thiana é enfermeira e atua no Hospital e Pronto Socorro 28 de Agosto. Segundo a filha, após um dia de plantão, Thiana chegou em casa informando que transformaram o setor dela para atendimento à pacientes com Covid-19. A partir daí, Thais afirma que passou a adotar as medidas mais rígidas de higiene, no entanto, diz ela, já era tarde: a mãe estava infectada. Juntas, comenta a comerciante, elas passaram dias difíceis, com medo de perder a vida para a doença.

“Vi minha mãe fraca, com febre muita tosse, sem conseguir se alimentar ou andar, pedir para ser levada ao 28, que ironia do destino. Tive que me fazer de forte e tomar a difícil decisão de levar ou não para o hospital, tive medo de perder você para um vírus que se quer me daria a chance de te abraçar mais uma vez. E hoje, para honra e glória do Senhor, compartilho o teu sorriso e a tua vitória, você, diabética, hipertensa, mais de 50 anos, venceu o COVID”, escreveu Thais para a mãe.

*Colaborou Nícolas Marreco