Em Coari, no AM, aliados de Keitton Pinheiro usam suspeita de assalto a LGBTQIA+ para ‘promoção eleitoral’
25 de novembro de 2021
14:11
Victória Sales – Da Revista Cenarium
MANAUS – Aliados do candidato à Prefeitura de Coari (a 363 quilômetros de Manaus), Keitton Pinheiro (Progressistas), usaram de uma suspeita de assalto contra um homem, identificado como o representante do movimento LGBTQIA+, Marcos Peres, para “promoção eleitoral” do candidato. A vítima foi baleada por um grupo que chegou anunciando o assalto durante um comício de Pinheiro que ocorria na cidade na noite dessa quarta-feira, 24. Keitton, então, aproveitou o momento para se promover e alavancar nas pesquisas para conseguir o cargo, segundo próprios aliados.
Uma publicação da página Movimento Coari, nas redes sociais, aponta que Keitton Pinheiro teria aproveitado a situação do jovem baleado a seu favor. “Pessoal, usar uma ocorrência policial que deve ser investigada pelas autoridades para tentar colocar a culpa no adversário político foi a coisa mais baixa que eu vi nessa campanha. É desespero ou mau-caratismo?”, diz uma das publicações.
Em um vídeo, uma das testemunhas cita que o caso se trata de uma suspeita de assalto. “Foi um assalto. O Marcos Perez estava com o celular nas mãos, tanto que foi com uma arma caseira. Os suspeitos ainda foram em direção a outras pessoas, mas como o Marcos estava com o celular e tentou reagir, acabou baleado”, disse uma das testemunhas que preferiu não se identificar por meio de um vídeo nas redes sociais.
Outra testemunha, que também preferiu não se identificar, destacou que o crime pode ter sido motivado após Marcos ter reagido ao assalto. “Ele estava na nossa frente quando o suspeito anunciou o assalto e tomou o celular da mão de Marcos, até que ele correu e o suspeito atirou”, conta a testemunha.
Movimento LGBTQIA+ se pronuncia
De acordo com o professor e ativista do movimento LGBTQIA+, Gabriel Mota, a vítima se arriscou ao “caminhar ao lado” de um candidato sem propostas que tragam benefícios para a comunidade. “O Marcos se arriscou. Coari é um faroeste. Andar ao lado de um grupo que nunca esteve no nosso lado é, no mínimo, perigoso. Desconheço qualquer trabalho de apoio ao movimento. No final das contas, o candidato vai usar essa pauta a favor de si mesmo”, disse à CENARIUM.
“No interior, isso ainda pode ser usado como homofobia. No interior, existe muita LGBTfobia, pois quando somos vedados de acesso à saúde, à educação e a outros serviços, estamos sofrendo LGBTfobia”, continuou Mota.
Na cidade, o acontecimento é tratado como suspeita de assalto. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e a polícia foram acionados logo após todo o ocorrido. E após o caso, apoiadores informaram que Keitton chegou a aumentar a diferença nas intenções de votos para o segundo colocado.
Marcos Peres foi levado para o Hospital Regional de Coari, passou por uma cirurgia, e, segundo boletim médico, o rapaz passa bem, está em observação e não corre risco de morte. Até a publicação desta matéria, ainda não se tinha uma comprovação de quem teria cometido o crime, que é investigado pela Polícia Civil.
Entrega de benefícios
No último sábado, 20, centenas de moradores do município precisaram retornar para as casas de “mãos vazias”. A população aguardava por horas para receber benefícios disponibilizados por programas do Governo do Amazonas, e após um processo ajuizado pelo candidato à prefeitura da cidade, Keitton Pinheiro, contra as ações sociais, a população foi impedida de receber os benefícios.
Um dos principais aliados dos ex-prefeitos Adail Pinheiro e Adail Filho, Keitton buscou a Justiça Eleitoral para impedir o trabalho realizado pelo governo do Estado. Segundo o candidato, ele se sente eleitoralmente prejudicado com a distribuição dos benefícios. As eleições suplementares na cidade estão previstas para acontecer no próximo dia 5 de dezembro.
‘Promoção eleitoral’
O caso relembra a “promoção eleitoral” que teve o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a partir do dia 6 de setembro de 2018, quando o então candidato à Presidência da República foi esfaqueado durante um evento de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais. O autor do crime foi Adélio Bispo de Oliveira, que foi preso. Já Bolsonaro passou por cirurgia e teve que usar uma bolsa de colostomia.
Segundo o site InfoMoney, Bolsonaro não era o candidato preferido do mercado, que simpatizava mais por Geraldo Alckmin, do PSDB. Mas Alckmin estava perdendo espaço nas pesquisas e Bolsonaro aparecia como uma opção para evitar o ingresso da esquerda no poder.
“O fato de ele não ter participado dos debates por causa do atentado e ter deixado Paulo Guedes falar no lugar dele, isso o ajudou a ganhar as eleições”, afirmou a analista e economista Louise Barsi. “Nós aproveitamos para acelerar um trade de compra das ações da Taurus Armas”, completou.