Em dez meses de 2020, queimadas na Amazônia superaram focos registrados na região no ano passado

De 1º de janeiro a 31 de dezembro do ano passado, foram 89.176 pontos de calor em toda a região registrados pelo Inpe, contra 89.604 focos detectados de 1º de janeiro a 22 de outubro deste ano (Carl de Souza/ AFP)

09 de novembro de 2020

08:11

Vinícius Leal – Da Revista Cenarium

MANAUS – O número de queimadas e incêndios florestais na Amazônia até 22 de outubro deste ano superou todos os focos de calor registrados na região durante 2019. É o que mostra um levantamento recente divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

De 1º de janeiro a 31 de dezembro do ano passado, foram 89.176 pontos de calor em toda a região registrados pelo Inpe, contra 89.604 focos detectados de 1º de janeiro a 22 de outubro deste ano. De acordo com o instituto, só na comparação do mês de outubro a alta era de 220%.

Um dos motivos para o aumento é justamente o descaso do Governo Federal para cuidar das florestas, em ações que vão desde o corte de verbas dos órgãos ambientais até o recolhimento de equipes de brigadistas que combatem incêndios e, ainda pior, a escolha deliberada de pactuar com a destruição.

“Não existe nenhum esforço de prevenção aos desmatamentos e queimadas e as soluções apresentadas pelo governo se mostraram completamente ineficientes”, afirma Rômulo Batista, da Campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil, durante entrevista no site da organização.

Em recentes discursos, o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, deslegitima os dados de incêndios florestais e tenta criar um cenário fantasioso sobre as queimadas e o desmatamento na floresta. Bolsonaro chegou a dizer que não há “nada queimando ou sequer um hectare de selva devastada”.

Em agosto, durante pronunciamento na Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), Bolsonaro afirmou que a floresta amazônica “é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior”, o que é uma declaração completamente falsa, segundo especialistas.

As decisões desordenadas do presidente Bolsonaro sobre as queimadas na Amazônia fizeram com que mais de 50 organizações da sociedade civil assinassem uma nota conjunta denunciando ao G7 as políticas de desmonte de legislações e de órgãos ambientais feitas pelo governo brasileiro. O G7 é o grupo que reúne os sete países mais desenvolvidos do mundo.

As instituições da sociedade civil afirmam no documento que o agravamento da crise ambiental na Amazônia “é resultado direto do comportamento do governo de Jair Bolsonaro” e pedem dos países-membro do G7 medidas concretas para o enfrentamento do desmatamento e das queimadas na região.

A má fama do presidente no que tange aos trabalhos de combate às queimadas na Amazônia também é vista como ruim ou péssima por 46% dos brasileiros entrevistados em uma pesquisa da Datafolha divulgada no último dia 31. Segundo a pesquisa, o trabalho do presidente é o mais mal avaliado que os do Ministério do Meio Ambiente, Forças Armadas e entidades civis.

A pesquisa mostrou ainda que a maioria dos brasileiros, isto é, 87%, considera muito importante preservar a Amazônia, e 93% afirmam ser possível ganhar dinheiro protegendo a floresta e incentivando atividades sem desmatamento, como bioecomomia e cadeias produtivas sustentáveis na floresta.