Em nova manifestação, Bolsonaro recua no discurso radical e mostra faceta ‘Paz & Amor’

Em mais um ato público com placas padronizadas e pessoal uniformizado, Bolsonaro voltou a contrariar o protocolo de isolamento social, mas, desta vez o tom foi pacificador e bem diferente das manifestações passadas (Reprodução/Reuters)

17 de maio de 2020

19:05

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Ao que parece, as mais de 15 mil vozes caladas pelo novo Coronavírus, no Brasil, começaram a falar no ouvido do Presidente da República. Depois de recuar do pronunciamento oficial à nação, que faria na noite do último sábado, 17, hoje (domingo), foi a vez de Bolsonaro (sem partido) exibir uma faceta cordial e menos beligerante.

Sensível, o presidente caminhou em frente ao Palácio da Alvorada, cumprimentado apoiadores, tirando fotos com crianças e mais uma vez, contrariando todos os protocolos do isolamento social, recomendado pela Ministério da Saúde.

“Bolsonaro Paz & Amor”

Antes de sair das dependências do Palácio da Alvorada, uma varredura foi realizada entre os manifestantes, para retirar as já habituais faixas e cartazes em tom autoritário, contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional.

“É uma manifestação espontânea e pacífica, sem nenhuma faixa agressiva a quem quer que seja”, observou com serenidade incomum. De acordo com o presidente, participou do ato. “Um pessoal que tem a democracia, a liberdade, o patriotismo acima de tudo”, avaliou Bolsonaro.

Comitiva

Acompanhado dos ministros Augusto Heleno do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Onyx Lonrezoni do Ministério da Cidadania (MC), André Mendonça do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e do astronauta Marcos Pontes do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), cujo cargo, segundo bastidores de Brasília, está voando para um nome indicado do “Centrão”, o presidente exortou mais uma vez, o espírito democrático da manifestação em seu apoio.

“Não existe preço para nós, políticos, ter uma manifestação espontânea dessa maneira, vindo da alma, do coração do povo brasileiro que, repito, quer acima de tudo liberdade, quer democracia, quer o respeito”, declarou em tom inédito.

Folclóricas, as faixas em apoio ao Presidente Bolsonaro durante as manifestações, fazem a festa de analistas políticos, sociólogos , psicólogos e toda a classe de cientistas sociais, que se debatem para entender as mensagens por elas propagadas. (reprodução/G1)

Acendeu a luz amarela!

Para o sociólogo Luiz Antônio, a luz amarela foi acesa no planalto. “Primeiramente é preciso entender que o Bolsonaro não é produto de si mesmo, ele é produto de um projeto de poder que tomou de assalto a coisa pública”, esclareceu.

“Foi muito dinheiro empregado na compra de robôs na internet, de candidatos a deputados e senadores nos Estados, enfim, muito provavelmente os termômetros desse projeto de poder, indicaram que é hora de frear um pouco”, avaliou o sociólogo.

Ainda segundo ele, um desses termômetros foi a perda de 80 mil seguidores nas redes sociais, somente no mês passado.” Foram 80 mil seguidores que deixaram de seguir Bolsonaro nas redes sociais, isso é muita coisa”, alertou Luiz Antônio.

Desastres sucessivos

Para o sociólogo, além disso, vem a postura do presidente frente às vitimas da pandemia. “O número de mortos é grande, soma-se a isso, o fato de você não poder enterrar ou velar um parente ou amigo, isso produz feridas na alma e aí vem o presidente desdenhar disso? É muito ruim”, lamentou.

Para ilustrar ainda mais o desgaste, Luiz Antônio lista os sucessivos desastres provocados pelo governo ou por pessoas ligadas a ele, recentemente.

“O discurso terrível da Regina Duarte na CNN, a saída de Sérgio Moro, a saída de dois Ministros da Saúde, o discurso grosseiro do Paulo Guedes sobre vender ‘a porra’ do Banco do Brasil, a denúncia de interferência na PF, o vídeo constrangedor sobre os ministros do STF e agora a denúncia do suplente do filho de Bolsonaro, de que eles foram avisados de uma operação da PF sobre o esquema de ‘rachadinha’, envolvendo o filho do presidente…É muita coisa”, detalhou.

“Tudo isso explica o recuo de hoje, a fragilidade política dele é muito grande e existe sim, um risco de impeachment”, finalizou o sociólogo.