Em relatório da CPI, Amazonas foi citado como experimento, diz Folha de S. Paulo

Arte mostra Bolsonaro em primeiro plano sobre imagem aérea de cemitério em Manaus com dezenas de covas abertas para vítimas de Covid-19. (Arte: Ygor Fábio Barbosa)

19 de outubro de 2021

14:10

Gabriella Lira – Da Cenarium

MANAUS – O jornal Folha de S. Paulo afirmou que o relatório final da CPI da Pandemia, do Senado, apontou que o Amazonas foi um “laboratório humano”. O jornal teve acesso ao documento oficial de 1.052 páginas, que seria apresentado aos senadores da CPI nesta terça-feira, 19, porém, teve apresentação adiada.

No documento, o Estado foi usado como experimento e o governo federal foi omisso não apenas no monitoramento da falta de insumos no Estado, mas também na crise de desabastecimento de oxigênio em janeiro deste ano. Pacientes com Covid-19 morreram por asfixia. 

A falta de coordenação nacional para o monitoramento do consumo de oxigênio em hospitais criou um aumento na procura pelo produto em outras partes do País. Em Manaus, o incentivo do uso de remédios comprovadamente ineficazes, por parte do Ministério Público, incentivou experiências que violaram princípios éticos e causaram a morte de pessoas. 

Em relação aos povos indígenas, o termo “genocídio” será usado para qualificar a atuação de Jair Bolsonaro. “Fica nítido o nexo casual entre o anti-indigenismo do mandatário maior e os danos sofridos pelos povos originários, ainda que, como outros líderes acusados de genocídio, não tenha ele assassinado indiretamente pessoa alguma”, diz um trecho do texto final da CPI.

Como precedente, o relatório cita o caso conhecido como “massacre de Haximu”: uma chacina de 16 índios da tribo ianomâmis por garimpeiros em Roraima, em 1993. O crime é o único julgado como genocídio pela Justiça Brasileira até hoje – e, no entendimento do relatório, mostra que o tipo de pena não depende do número de vítimas para ser caracterizado. 

A definição do Marco para Análise de Crimes de Atrocidade, um documento editado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, também foi usada para definir a conduta de Bolsonaro. 

No relatório também foram apresentadas propostas de mudanças legislativas, como um projeto que pretende criminalizar a criação e divulgação de fake news e estabelecer direitos e deveres para o uso da internet. Definir e punir o crime de extermínio, previsto no Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional é outra proposta apontada. Crimes contra a administração pública, quando praticados em situação de calamidade pública ou de emergência em saúde são pontuados para mudança no Código Penal e endurecimento de penas, e propõe pensão para órfãos de vítimas da pandemia.