Entenda como garimpo ilegal degrada o ecossistema e afeta saúde de povos tradicionais da Amazônia
27 de novembro de 2021
16:11
Karol Rocha – Da Revista Cenarium
MANAUS – Além de ser uma prática criminosa, a extração de minérios de leitos dos rios da Amazônia causa inúmeros danos ao ecossistema e, consequentemente, ao ser humano. Entre os impactos ambientais estão: a contaminação da água com metais pesados, a redução do oxigênio dissolvido nos ecossistemas aquáticos, o aumento da turbidez da água devido ao contato com produtos químicos, a variação da qualidade da água, dentre outros.
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Na prática, as embarcações de garimpos ilegais remexem o fundo do rio. O solo é destruído com escavadeiras e jatos de água. A lama criada nesse processo é filtrada para ser recolhidos os minérios como o ouro. Para separar os sedimentos do ouro são adicionados mercúrio, cianeto e arsênio. O mercúrio forma um amálgama com o ouro e a lama contaminada com o resíduo é descartada no meio ambiente.
Esse mercúrio, em contato com o ecossistema, afeta as águas, a fauna e a flora aquática, além da saúde do homem. Um dos estudos geológicos que comprovaram a presença natural do mercúrio na Amazônia, independentemente da atividade de garimpo, foi publicada em 2017 no American Journal of Environmental Sciences, em coautoria com Marcelo Oliveira, da organização não governamental internacional World Wide Fund for Nature.
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O trabalho mostrou a presença de mercúrio em 81% dos peixes coletados, entre os mais consumidos pela população local, na região do Parque Nacional Tumucumaque, no Amapá. O mercúrio detectado nas amostras superava os níveis permitidos pela Organização Mundial de Saúde, mais restrito do que o nível de tolerância definido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A contaminação foi atribuída ao uso de mercúrio na mineração de ouro em pequena escala na fronteira entre Brasil, Suriname e Guiana Francesa.
Problemas à Saúde
As ameaças causadas à saúde, por conta do mercúrio, é uma realidade. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforçou que o impacto da contaminação do meio ambiente por mercúrio está diretamente ligado aos riscos para a saúde humana provocados pela exposição a este elemento químico. De acordo com o estudo Diagnóstico Preliminar sobre o Mercúrio, no Brasil, a exposição a 1,2 mg de mercúrio, por algumas horas, pode causar bronquite química e fibrose pulmonar em seguida (Sigeyuki et al., 2000).
Ainda segundo o documento, o mercúrio pode causar problemas ao sistema nervoso central e à tireoide, caso a exposição ao material ocorra por períodos longos. Dentre as formas do elemento, existe o metil-Hg, que é a mais tóxica aos organismos superiores, em especial aos mamíferos. O metil-Hg se acumula no sistema nervoso central, causando disfunção neural, paralisia e podendo levar à morte.
Garimpo ilegal no Amazonas
No Amazonas, a atividade ilegal pelo Rio Madeira não é novidade. No último dia 23, foi divulgado amplamente a invasão de balsas e dragas usadas por garimpeiros para extração de ouro e atracaram no Rio Madeira, próximo à comunidade de Rosário, no município de Autazes, distante 113 quilômetros de Manaus.
Na quinta-feira, 25, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, informou que a Polícia Federal (PF) e a Marinha do Brasil preparam operação para combater o garimpo ilegal na região, o que prevê a abordagem das embarcações e o levantamento da situação legal delas, com a apreensão das que estiverem irregulares. Até ontem (26), os garimpeiros ilegais foram flagrados desfazendo ‘vila flutuante’, no rio Madeira. No entanto, seguiam dispersos com exploração ilegal de ouro.