Epidemiologista alerta para não relaxamento das medidas de prevenção à Covid-19, apesar de Manaus estar sem filas de UTI

25 de março de 2021

09:03

Gabriel Abreu – Da Revista Cenarium

MANAUS – O epidemiologista da Fiocruz Amazônia, Jesem Orellana reforça a importância de manter as medidas de prevenção à Covid-19. Apesar dos dados animadores, divulgados nessa quarta-feira, 24, pela Secretaria de Saúde do Amazonas (SES-AM), em que a fila para leitos de Terapia Intensiva (UTI) está zerada, o profissional que acompanha a evolução da pandemia no Amazonas desde o ano passado, recomenda manter o estado de vigilância.

O Amazonas chegou a ter, em janeiro deste ano, mais de 600 pacientes aguardando na fila por um leito. Por causa do aumento de internações, mais de 500 pessoas foram transferidas para outros Estados. No mesmo mês, o Estado enfrentou o pior momento da pandemia, com a falta de oxigênio nas unidades de saúde de Manaus. Menos de dois meses depois, a capital registra redução de casos e mortes pela doença.

No sábado, 20, durante a coletiva que anunciava ajustes no decreto estadual, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), expressou que o Estado passou pelo pior momento da pandemia, já que regredia da fase vermelha para a laranja depois de dois meses com o sistema de saúde em colapso.

“Eu quero crer que nós já passamos pelo pior momento e estamos trabalhando para que isso não se repita. A nossa ocupação na rede hospitalar começa a cair, continua caindo. O número de óbitos de Covid-19 também está nessa queda, nessa descida. E isso nos dá muita tranquilidade”, afirmou o governador.

O diretor-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), Cristiano Fernandes, afirma que a redução da demanda por leitos de UTI-Covid na rede pública em Manaus é um dado importante, pois reflete a redução do número de casos de Covid-19 na capital.

“A medida que reduzimos o número de pacientes que demandam leitos de UTI ou leitos clínicos de Covid-19, isso mostra a redução do número de casos e impacta positivamente na nossa matriz de risco. É um dado importante trazido pela assistência, que mostra que a gente está em um cenário mais favorável, mas lembrando que a doença ainda não foi superada no Estado”, comentou Cristiano.

Alerta

Mesmo com a fila de leitos de UTI zerada, o epidemiologista Jesem Orellana lembra que é importante não relaxar as medidas de prevenção, pois a pandemia está acelerada no País com alta nos casos e mortes e que há novas variantes do vírus em circulação no Brasil.

“É muito importante que as autoridades sanitárias e principalmente a população mantenham todos os cuidados básicos como o uso obrigatório de máscaras, manutenção do distanciamento físico e evitar a qualquer custo as aglomerações”, alertou o epidemiologista.

Jesem Orellana é epidemiologista da Fiocruz Amazônia

Jesem Orellana salienta que as medidas de restrição ajudaram, mas ainda não podem ser consideradas essenciais, já que existem pessoas que não tiveram contato com o vírus e que a campanha de vacinação contra a Covid-19 ainda não imunizou grupos vulneráveis à doença.

“Temos que lembrar que nós tivemos uma massiva exposição de pessoas ao novo coronavírus em dezembro de 2020 e janeiro de 2021 e isso fez com que esgotasse o sistema de saúde. Juntando com isso as medidas de distanciamento físico tomados tardiamente, derrubou as taxas de contágio e de mortalidade por Covid-19. Provavelmente, temos algum efeito da vacinação, mas não muito grande. Então, são medidas que ajudam a explicar o porquê dessa redução, mas certamente o principal motivo deles não é o adequado controle da epidemia ou a vacinação, já que ainda é muito cedo para se falar nesse assunto”, atentou Jesem.

Operação Gratidão

Por conta da baixa no número de casos e internações, o governo do Amazonas está realizando a ‘Operação Gratidão’ que visa retribuir a ajuda recebida de outros Estados, durante a fase mais aguda da pandemia. Com as taxas de ocupação de leitos de UTI abaixo de 80%, a SES-AM disponibilizou, desde o dia 16 de março, 72 leitos para os Estados de Rondônia e do Acre – 18 de UTI e 54 leitos clínicos – a partir da “Operação Gratidão”, em parceria com os ministérios da Saúde e da Defesa.

O secretário-executivo de Assistência da Capital, Jani Kenta Iwata, afirma que a redução no número de chamados de transferência para UTI-Covid, na capital, possibilitou a oferta de leitos para outros Estados, por meio da “Operação Gratidão”.

“Nos últimos dias estamos percebendo uma redução alta dos chamados para leito de UTI-Covid. E nesta semana temos zero chamados para UTI Covid em Manaus, e pouco mais de seis, sete casos no interior, o que, no geral, deixa o Amazonas com uma taxa de ocupação bem tranquila. Essa folga é que nos permite ofertar leitos para outros Estados”, declarou o secretário-executivo.

Boletim epidemiológico

De acordo com o boletim epidemiológico da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) desta quarta-feira, 24, a taxa de ocupação de UTI na rede pública para Covid-19 está em 74%. Nas últimas 24 horas, o Amazonas registrou 1.183 novos casos de Covid-19, totalizando 341.968 casos da doença no Estado.

Foram confirmados 24 óbitos por Covid-19, sendo 12 ocorridos no dia 23 e 12 óbitos foram encerrados por critérios clínicos, de imagem, clinicoepidemiológico ou laboratorial, elevando para 11.860 o total de mortes.

Há ainda 738 pacientes internados, sendo 386 em leitos (74 na rede privada e 312 na rede pública), 344 em UTI (88 na rede privada e 256 na rede pública) e oito em sala vermelha, estrutura voltada à assistência temporária para estabilização de pacientes críticos/graves para posterior encaminhamento a outros pontos da rede de atenção à saúde.

Outros 165 pacientes internados considerados suspeitos e que aguardam a confirmação do diagnóstico. Desses, 140 estão em leitos clínicos (20 na rede privada e 120 na rede pública), 21 estão em UTI (3 na rede privada e 18 na rede pública) e quatro em sala vermelha.

Edição: Alessandra Leite