Especialista avalia desigualdade no Brasil no Dia Mundial da Justiça Social

A data busca eliminar barreiras sociais e relembra a necessidade de iniciativas para o combate da pobreza, da exclusão, do preconceito e do desemprego (Reprodução/ Internet)

20 de fevereiro de 2021

20:02

Jennifer Silva

MANAUS – O Brasil é considerado o nono País mais desigual do mundo, de acordo com a última pesquisa publicada pelo índice de Gini realizada em 2019. Hoje, em comemoração ao Dia Mundial da Justiça Social, a CENARIUM conversou com alguns especialistas para entender qual nível o Brasil ainda precisa caminhar para conseguir entrar em uma boa posição da justiça social e promover igualdade material e oportunidade para todos.

De acordo com Francinézio Amaral, doutor em antropologia formado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), grande parte da população brasileira e mundial ainda sofre com a desigualdade social, além do mais, segundo ele, a realidade de igualdade entre as sociedades está longe de ser alcançada.

“Justiça social não existe, não é possível existir dentro do modelo de produção capitalista. Então, para existir justiça social, talvez a ONU possa dizer que essa data é importante para se pensar, que é preciso ter a justiça social como uma meta, como um parâmetro, entendeu? E aí isso pode ter uma importância, mas estruturalmente se falando de Brasil, isso passa longe. Na verdade, a gente está tendo um retrocesso. A gente está se afastando ainda mais do que já era distante, que era uma questão de justiça social, entendeu?”, questionou Amaral.

No cenário de pandemia, o sociólogo afirma que o acontecimento tem um lado positivo. “Já que força a sociedade a reformular, repensar seu estilo de vida, e o que a pandemia está fazendo é isso. Vai demorar muito tempo para as pessoas internalizarem isso, primeiro a ciência vai estudar, a ciência vai trazer as pesquisas, os conhecimentos de comprovações teóricas. A pandemia, assim como as outras que aconteceram, é mais um aviso de que o planeta está dizendo que precisa que a humidade redesenhe e reestruture o modelo que está vivendo agora”, esclareceu o profissional.

Para a ativista social Michelle Andrews, a data é de extrema importância porque faz com que a sociedade coloce o pé no chão e não se feche em uma bolha. “Existem pessoas que estão passando fome, que estão em depressão por causa do desemprego, por questões raciais, por questões de gênero. Então assim, essa data é muito importante para relembrar, para diagnosticar a nossa realidade, que está longe de combater as injustiças sociais que acontecem no nosso País”, afirmou Michelle.

Data 

No ano de 2007 a Assembleia Geral aprovou uma resolução declarando o dia 20 de fevereiro como o Dia Mundial da Justiça Social. Segundo a OIT, o crescimento do emprego desde 2008 foi em média de apenas 0,1% ao ano, em comparação com 0,9% entre 2000 e 2007. 

Mais de 60% de todos os trabalhadores não têm qualquer tipo de contrato laboral. E menos de 45% dos trabalhadores salariados e assalariados estão empregados em tempo integral e permanente. Em 2019, mais de 212 milhões de pessoas estavam sem trabalho contra 201 milhões nos anos anteriores. 

Segundo a agência, cerca de 600 milhões de novos empregos precisam ser criados até 2030 apenas para acompanhar o crescimento da população em idade ativa. 

A realidade brasileira

De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2012 a 2019, produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a pobreza extrema se manteve em 6,5% da população em 2019.

O índice de Gini do Brasil em 2019, que mede o grau de concentração de renda, o classificou como o nono País mais desigual do mundo, segundo o Banco Mundial. A taxa de desocupação foi de 11,7%, e a proporção dos desocupados há pelo menos dois anos subiu para 27,5% em 2019. Quatro em cada 10 trabalhadores ocupados estavam na informalidade (41,6%, o equivalente a 39,3 milhões de pessoas).

Assim, percebe-se que o Brasil ainda precisa caminhar muito no eixo da justiça social para conseguir promover igualdade material e oportunidade para todos. Embora a legislação garanta o direito ao trabalho, à educação, à infância e muitos outros, é preciso ação para concretizar esses ideais.