Especialistas apontam que condução da pandemia e crise econômica vão pesar na decisão do eleitor em 2022

Condução da crise sanitária e econômica do País deverão ser fatores preponderantes na decisão dos eleitores. (Getty Images)

24 de janeiro de 2022

10:01

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – A poucos meses das eleições deste ano, e com as articulações entre os, ainda, pré-candidatos aos cargos eletivos, especialistas apontam incerteza na definição do que o eleitorado brasileiro vai priorizar, mas afirmam que a condução da crise sanitária e econômica do País deverão ser fatores preponderantes na decisão. A CENARIUM conversou com estudiosos a respeito do novo perfil do eleitor do País.

Para o cientista político e advogado Helso Ribeiro, o perfil do eleitor não muda muito de uma eleição para a outra, o que altera, segundo ele, são as demandas “mais urgentes”. Em 2018, por exemplo, a maior expressão foi do discurso anticorrupção. Mas, agora, segundo o especialista, a grande maioria do eleitorado estará em busca das pautas referentes à “sobrevivência”.

“Houve, na eleição passada, um discurso voltado ao novo, então, muitos candidatos novos acabaram emergindo usando isso. Talvez esse discurso do novo não seja o preponderante na próxima eleição. Mas, em geral, a grande massa do eleitorado tem preocupação com moradia, segurança, saúde, educação, transporte. Agora, claro, que tem um percentual que quer saber da taxa de juros, cultura e esporte”, explica Ribeiro.

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O cientista político relembra, ainda, o discurso do ex-presidente Fernando Collor de Mello, quando se intitulou “Caçador de Marajás” no combate à corrupção em 1989. “Existem discursos falaciosos. Eu diria que o grosso da população está preocupado com Saúde, que nunca foi de qualidade, nem hoje, nem há 10 ano, além de Educação, Segurança, o que aterroriza todas as classes sociais no Brasil, que é campeão mundial de homicídios dolosos, em termos numéricos”, completou Helso Ribeiro.

O cientista político Helso Ribeiro. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

Aposta na experiência

Contrapondo a busca pelo novos governantes, com promessas de novas gestões e perspectivas, o também analista político Carlos Santiago pontua à CENARIUM que, desde 2018, quando o presidente da República Jair Bolsonaro (PL) foi eleito, o perfil do eleitor tem se alterado bastante. Agora, o indicativo é que parte da população busque gestores mais experientes após o caos impetrado pela pandemia da Covid-19.

“De 2018 para cá, o eleitorado mudou muito, tanto que as pesquisas de opinião estão dando que governantes ou ex-governantes estão com índices altíssimos de aprovação nas pesquisas que analisam o cenário eleitoral de 2022. Não é à toa que Lula lidera a corrida presidencial e Bolsonaro também tem uma aceitação popular em função das experiências dos dois nas administrações”, destacou Santiago.

“Nas eleições de 2018, prevaleceu o voto do novo, do diferente. De 2020 para cá, foi o voto mais conservador. Em razão do cenário político e da pandemia, o eleitorado tem buscado votar em políticos com experiências administrativas por conta até do ambiente pandêmico, da situação crítica da economia”, acrescentou ainda.

Carlos Santiago é sociólogo, analista político e advogado (Divulgação)

Retomada de crescimento

A inflação no Brasil fechou 2021 com alta de 10,06%, o maior aumento em seis anos e quase o dobro do teto da meta oficial, que era de 5,25%. A elevação dos preços teve como principais vilões itens como combustíveis, eletricidade e gás de cozinha. O sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luiz Antonio Nascimento, analisa que o crescimento econômico do País será uma preocupação latente no próximo pleito.

“Passados esses três anos de absoluto desgoverno, não só na esfera nacional, como também estaduais, os eleitores voltarão ao pragmatismo. Não veremos, com a força das eleições anteriores, discursos com agendas ‘de costumes’, ‘combate à violência’ etc. Não que não tenhamos candidatos com essas plataformas, mas elas não ‘bombarão’ sozinhas. Deveremos ver discussões fortes sobre retomada do crescimento econômico com o Estado como protagonista e defesa da democracia como forma de retornada do eixo brasileiro”, finaliza ele.

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O sociólogo Luiz Antonio Nascimento. (Reprodução/Acervo Pessoal)