Especialistas apontam que imunização em massa pode isolar novas variantes da Covid-19

Seguindo orientações do Ministério da Saúde (MS), o plano de imunização no Amazonas prioriza as pessoas dos grupos prioritários. (Ricardo Oliveira/ Revista Cenarium)

12 de fevereiro de 2021

20:02

Gabriel Abreu

MANAUS – A nova variante do SARS-CoV-2 que circula no Amazonas é apontada como a mais contagiosa do que as notificadas na África do Sul e no Reino Unido. Por isso, cientistas defendem a imunização em massa para isolar o surgimento de novas variantes e evitar a perda de eficácia das vacinas atuais.

Analises da Public Health England, agência ligada ao Ministério da Saúde britânico, dizem que duas variantes, a P.1, encontrada em Manaus, e a 501.V2 da África do Sul, parecem reduzir a eficácia de vacinas por possuírem a mutação E484K, capaz de driblar a ação de anticorpos. Uma terceira variante encontrada no Reino Unido também apresentou a mesma mutação.

No Amazonas, o monitoramento genético do vírus é feito pelo pesquisador Felipe Naveca, do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), desde o primeiro caso de Covid-19, ocorrido em março do ano passado. Essa vigilância é realizada em parceria com a Fundação de Vigilância em Saúde do Estado do Amazonas (FVS-AM), por meio do Laboratório Central de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM).

“A P1-like tem menos mutações do que a P.1 em relação à amostra original de Wuhan, mas é a amostra mais parecida. Ela carreia algumas das principais mutações e pode ser um intermediário evolutivo que chegou até a P.1. A gente ainda não tem certeza disso, mas é muito curioso ver uma única sequência que ficou a mais próxima de todo clado da P.1”, comenta  Naveca.

Linhagens

Agora, uma análise desperta a atenção dos pesquisadores, pois 114 genomas completos de SARS-CoV-2 de amostras coletadas no período de 1º de novembro de 2020 a 13 de janeiro de 2021, em diferentes municípios do Amazonas, eles encontraram novos dados referentes à linhagem B.1.1.28, que revelaram sequência semelhante à P.1 (descoberta em janeiro deste ano) a qual se ramificou, sendo denominada P.1-like.

O pesquisador Jesen Orellana e epidemiologista da Fiocruz Amazônia afirma que a vacinação em massa pode não só reduzir o número de doentes e hospitalizações, mas também o número de mortos. “Isso vai reduzir fortemente os gastos desnecessários que estão acontecendo por conta da epidemia. E, sem dúvida, auxiliará a economia a retomar suas atividades e devolverá a felicidade do povo amazonense”, explicou Orellana.

Jesem Orellana defende a imunização em massa da população. (Reprodução/Redes Sociais)

Ação judicial

As Defensorias Públicas da União e do Estado do Amazonas entraram com uma ação na segunda-feira, 8, para requerer que o governo federal compre doses suficientes da vacina contra Covid-19 para imunizar 70% da população de Manaus e outros sete municípios amazonenses.  A ação ressalta a situação crítica da saúde do estado, que sofre com a falta de leitos e recursos para atender os pacientes da doença.

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, o defensor público Rafael Barbosa defendeu que a imunização em pelo menos 70% dos indivíduos elegíveis, os maiores de 17 anos, nas condições normais, com duas doses sejam prioritários do Amazonas.

“Considerando o estado de calamidade pública em saúde, o mais importante é controlar a circulação viral. Isso só será possível quando parcela significativa da população do Amazonas, em especial nas cidades críticas, estiver imunizada. Na falta de vacina para todos, é necessário que o órgão gestor considere as experiências estrangeiras e as evidências científicas”, afirmou o defensor público.