Especialistas expõem sintomas e tratamentos contra depressão; doença atinge 12 milhões no País

Especialistas explicam que pacientes precisam de apoio e empatia para lidar com a doença.(Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

02 de agosto de 2020

09:08

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – A depressão é uma doença que afeta cerca de 12 milhões de brasileiros, índice correspondente a 5,8% da população, posição que torna o país, líder do ranking da doença na América Latina e o segundo maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, conforme aponta Organização Mundial da Saúde (OMS). Para especialistas consultados pela REVISTA CENARIUM, a depressão vai além da tristeza ou frustração comum, e os pacientes precisam de apoio e empatia para lidar com a doença.

De acordo com a médica psiquiatra Daniele Holanda, os níveis de depressão estão categorizados como leve, moderado e grave. Para falar da doença é preciso diferenciar os quadros e sintomas apresentados.

“Nesses três níveis de depressão, resumidamente, a gente avalia o grau de dificuldade que a pessoa tem de se manter funcionando nas áreas de vida dela. Uma depressão leve, a pessoa tem os sintomas da doença, mas ela ainda consegue trabalhar, ter atividades diárias, ter uma funcionalidade na vida dela, já uma depressão mais grave, existem casos de pessoas que não conseguem nem fazer a higiene pessoal, como tomar banho, não consegue sair de casa ou ter uma rotina de vida”, explicou.

Segundo ela, existem projeções que falam que em alguns anos, a principal causa do afastamento do trabalho vai ser em decorrência do adoecimento mental, que se inclui a depressão, cujos sintomas estão associados ao isolamento social, falta de energia, falta de prazer nos afazeres do cotidiano. Além da carga de sofrimento diário, alterações de sono podem agravar tanto um quadro de insônia quanto para hipersonia (sono prologando).

A especialista Daniele Holanda explica que existem muitas manifestações físicas do quadro de depressão. (Divulgação/Internet)

“A depressão é uma doença que se abre para um transtorno e infelizmente está cada vez mais comum. Quando falamos da doença, estamos falando de um quadro mais forte de uma tristeza, mas que causa algum tipo de incapacidade no indivíduo”, disse.

Leia também: Mulheres procuram mais ajuda psicológica na pandemia que homens, aponta estudo

A médica explica ainda que a doença chega a provocar alterações no apetite, fazendo com que a pessoa em depressão tenha dificuldades para se alimentar ou tenha um aumento de apetite. “A pessoa com a doença também pode ser pensamentos de menos-valia, negativos e alguns pensamentos suicidas”, avaliou.

Repercussão

Um caso de repercussão regional é o da jornalista e advogada Nauzila Campos, que há quatro anos, em 2016, teve uma crise de depressão grave. À época, ela desapareceu por cerca de nove horas.

Nas redes sociais, a jornalista publicou um vídeo informando o retorno do quadro depressivo. Procurada pela reportagem, Nauzila confessou que ainda não consegue falar em entrevista, pois a produção do conteúdo demandou um grande esforço de sua parte, mas permitiu que a REVISTA CENARIUM citasse o caso dela.

No vídeo, Nauzila Campos explica que foi diagnosticada há duas semanas com Depressão Crônica Recorrente, caracterizada pela repetição dos episódios de depressão que podem retornar caso a doença não seja tratada.

“Faz quatro anos que tive uma crise de depressão que quase me mata. Depois de 2016, eu tive pelo menos, uma crise por ano. Nenhuma tão intensa quanto naquele ano, justamente por contar uma excelente equipe de apoio de saúde mental. Eu cheguei a ter mais uma crise, que veio junto com um diagnóstico definitivo: eu tenho depressão crônica recorrente, ou seja, ela vai embora mas se eu parar de cuidar, ela volta. E esse diagnóstico me manda tomar remédios antidepressivos pelo resto da minha vida”, dedendeu.

Recaída

A jornalista e advogada revelou que deixar de tomar os medicamentos antidepressivos fez com que ela tivesse nova recaída – inclusive, no vídeo, ela afirma que estava tendo uma recaída no exato momento em que estava falando.

“Eu tomei uma decisão na minha vida que é nunca mais deixar que a depressão me impeça de fazer o que eu amo, que é trabalhar. Mas, não é fácil. O esforço para levantar é cinco vezes maior. O esforço para socializar é inútil, porque eu não consigo. Mas com o passar do tempo, a gente aprende a domesticá-la”, enfatizou.

Motivação

Apesar de enfrentar a crise, Nauzila Campos usa o vídeo como um meio de ajuda para quem também passa pela depressão.

“É uma doença, a gente só tem que tratar. Não deixa ela apagar quem você é de verdade. E essa crise vai passar, assim como todas as outras passaram, a sua também. Esse seu cansaço, essa vontade de desistir … eu já senti tudo isso! Essa dor parece que só a morte vai fazer passar, mas não vai. Ela vai passar com você vivo, aqui com a gente. Procure ajuda, você é maior que a depressão”, concluiu.

Veja o relato de Nauzila:

https://www.instagram.com/tv/CC4qhXwjTYJ/?igshid=zxt6uh816fb5

Sinais de alerta

A psicóloga Tallyne Silva, especialista , explicou que um dos sinais de alerta para poder diagnosticar a depressão é a mudança de comportamento de uma pessoa, que geralmente acontece de forma drástica.

“Um sinal de alerta é a falta de esperança que é muito comum em pacientes depressivos, ou quando o paciente já se sente desmotivado das atividades diárias. A literatura científica aponta que as mulheres sofrem muito mais com depressão, devido aos papéis sociais que desenvolvem. Além de também serem as que mais procuram ajuda psicológica, o que aumenta os casos também”, ponderou.

A psicóloga e especialista em terapia Cognitivo Comportamental, Tallyne Silva, detalha sobre a relação dos pacientes com depressão e o mundo exterior (Divulgação/Arquivo)

Segundo ela, o primeiro ponto é quando uma pessoa perde o interesse nas atividades comuns, o humor fica mais deprimido e consequentemente isso afeta o trabalho, faculdade e as relações do paciente. O isolamento também é muito comum, bem como também pensamentos mais negativos.

No geral, ela pontua, que o paciente falta trabalho ou não executa da maneira que fazia antes, assim como evita estar em contato com outras pessoas, sendo perceptível que o indivíduo esteja mais triste que o normal.

Tallyne ressalta que como meio de combate à doença, é preciso, primordialmente, incentivar a pessoa a buscar ajuda profissional. “Oferecer apoio e validar a dor da pessoa com depressão. Isso é um antidepressivo natural para um paciente. Tenha empatia, ouça e escute, incentive a pessoa a ter atividades que tragam prazer e satisfação”, exemplificou.

Medicamentos

Os medicamentos antidepressivos são uma das alternativas para regular o humor e diminuir a angústia inicial da pessoa com depressão, até que ela tenha capacidade emocional e cognitiva de encontrar soluções para os problemas pessoais. Mas apesar disso, as especialistas relatam que é preciso cuidado e o acompanhamento médico/psiquiátrico para fazer uso dos remédios.

Os medicamentos antidepressivos são uma das alternativas para regular o humor e diminuir a angústia do paciente. (Ricardo Oliveira/Revista Cenarium)

“O maior erro é você usar a medicação sem a orientação correta e passar a fazer uso dela como uma anestesia para a sua dor. Fazendo isso você acaba buscando uma forma de não olhar para aquele problema. E nesses casos podem ocorrer o uso mais prolongado da medicação, podendo causar uma dependência dela”, disse a médica psiquiatra Daniele Holanda.

Ela informou que 90% dos medicamentos usados pela psiquiatria não causam dependência química, mas muitos causam dependência emocional ou psicológica, quando o paciente não conclui todo o processo terapeutico.

“Esses 10% que podem causar uma dependência química. Como, por exemplo, o medicamento de tarja preta, do tipo estimulante, se eles forem usados da forma correta, ainda assim não causam a dependência. O que ocorre é que as vezes o paciente faz uso excessivo do medicamento e ele entra em um quadro de dependência medicamentosa”, enfatizou.

A psicóloga Tallyne Silva, por outro lado, defende que o uso de remédios para transtornos mentais não causam vício. “Ainda existe muito preconceito em relação ao uso, e que assim como é preciso tomar uma medicação qualquer, o uso de medicamentos pra depressão se faz necessário para tratar os transtornos mentais”, denotou.

“Logo, você compreende que é importante a medicação e jamais você se questionar se irá se viciar ou não. Com transtornos mentais, as pessoas ainda insistem em dizer que remédios viciam, mas isso não é verdade. Os remédios são extremamente importantes no tratamento da depressão”, finalizou Tallyne.