Estudo aponta que copas das árvores têm maiores aberturas em áreas mais degradadas da Amazônia

Árvores com espaços vazios no dossel, que provocam o distanciamento entre as árvores. (Ian Teh/NATIONAL GEOGRAPHIC)

31 de julho de 2021

08:07

Déborah Arruda – Da Cenarium

MANAUS (AM) – Nas florestas mais degradadas pelo desmatamento na Amazônia, pesquisadores observaram que a biodiversidade pode ser afetada, o que pode ser identificado pelas clareiras das árvores. Conforme estudo recente, nas áreas que tiveram uma alteração por ação humana, as clareiras das árvores eram maiores e apresentaram uma quantidade maior de dossel, feito de camadas sobrepostas das folhagens da copa das árvores.

Intitulado Forest structure and degradation drive canopy gap sizes across the Brazilian Amazon (“A estrutura e a degradação da floresta impulsionam os tamanhos das lacunas do dossel em toda a Amazônia brasileira”), o estudo foi produzido pelo engenheiro florestal e doutorando da Universidade de São Paulo (USP), Cristiano Rodrigues Reis e publicado em maio deste ano, na plataforma bioRxiv.

A pesquisa reuniu dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que realizou um escaneamento a laser, por meio do sensor remoto Light Detection and Ranging (Lidar), aerotransportado sobre a floresta. Com os dados, foi possível mapear as clareiras e determinar aquelas que estavam em áreas próximas as de desmatamento, uma região afetada pela ação humana.

De acordo com os resultados, as florestas nessas regiões apresentavam mais clareiras, que por sua vez eram maiores que aquelas em áreas de florestas intactas. Essa reação configura uma espécie de contágio causado pela alteração na dinâmica do ambiente. Para o consultor florestal, especialista em licenciamento ambiental, Leonan Valente, as clareiras mostram como funcionam as perturbações nas florestas.

Clareira na região do baixo Tapajós, no Pará. (Flavio Forner/National Geographic)

“Uma boa forma de observar as perturbações em áreas de florestas é por meio da formação de clareiras, estas causadas pela queda de indivíduos arbóreos, formando uma abertura no dossel da floresta e complexos mosaicos de vegetação. Em ambientes de fragmentos florestais, esses distúrbios podem ocorrer de maneira natural ou antrópicas. Os distúrbios florestais naturais fazem parte da dinâmica da floresta e aumentam a heterogeneidade de hábitat e promovem a diversidade das espécies vegetais”, afirmou.

Valente afirmou que acredita que as aberturas nas clareiras por ação antrópica podem originar em diversos tipos de perdas ao ambiente. Segundo o especialista, os resultados vão desde a perda da fertilidade do solo ao aumento da emissão de dióxido de carbono, que pode provocar graves desequilíbrios na dinâmica do ambiente, como o efeito estufa.

“Acredito que as aberturas de clareiras na floresta de origem humanas podem influenciar negativamente na dinâmica da floresta, e dentre estas consequências do desmatamento ilegal e degradação florestal estão a perda da biodiversidade de espécies vegetais e animais, perda da fertilidade do solo, mudanças no microclima local, aumento da emissão de dióxido de carbono e mudanças na estrutura dos mosaicos de vegetação”, explicou o especialista.