Estudo reafirma que perda florestal na Amazônia contribui para aquecimento global

Artigo revela que o efeito líquido da região está provavelmente aquecendo o clima (Reprodução/Inpa)

26 de março de 2021

18:03

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Perda de cobertura florestal da Amazônia pode estar contribuindo para aquecer a atmosfera global, em vez de resfriar o clima do planeta. É o que indica o estudo internacional “Carbono e além: a biogeoquímica do clima em uma Amazônia em rápida mudança”, em tradução do inglês, publicado na semana passada, pelo periódico suíço Frontiers in Forests and Global Change.

O estudo conta com a participação de pesquisadores do mundo todo, incluindo os do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). Considerado a primeira análise extensa de todos os gases de efeito estufa que afetam a atividade natural na Amazônia, o artigo revela que o efeito líquido – o saldo de todos os impactos negativos e positivos em termos de aquecimento global – da região está provavelmente aquecendo o clima e sua perda contínua causará mais prejuízos não somente para a localidade, mas também para o mundo.

De acordo com o pesquisador do Inpa, Philip Fearnside, a Amazônia tem uma grande variedade de efeitos sobre o aquecimento global. “O trabalho mostra que o efeito líquido da região é negativo, já que os efeitos benéficos têm diminuído e as emissões que causam o efeito estufa aumentaram, incluindo alguns impactos até agora pouco conhecidos, como a emissão de metano pela floresta”.

Os efeitos positivos da Floresta Amazônica incluem a absorção de carbono pela floresta em pé, que é um benefício que tem diminuído bastante ao longo dos últimos anos e funcionava como um “freio” ao processo de aquecimento. Também há reabsorção de carbono pelo crescimento de florestas secundárias, nas áreas já desmatadas. Por outro lado, há impactos sobre a emissão de carbono pelo desmatamento e pela degradação da floresta por exploração madeireira, mortalidade de árvores em eventos climáticos extremos, como secas, tufões e inundações, e há emissões da própria floresta e das áreas inundadas naturalmente e por hidrelétricas.

A Bacia Amazônica contém a maior floresta tropical do mundo, o que representa mais de 60% das florestas tropicais remanescentes do planeta. Na Bacia Amazônica, dezenas de milhões de pessoas dependem de serviços proporcionados pela Floresta Amazônica, que é lar para mais espécies de plantas e animais do que qualquer outro ecossistema terrestre do planeta.

Desmatamento

Os nove Estados que compõem a Amazônia Legal perderam nos últimos 18 anos o total de 334.497 mil quilômetros quadrados de floresta. De acordo com levantamento da CENARIUM, o Pará, Mato Grosso e Rondônia lideram o índice divulgado, no último dia 17 de março, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A perda da vegetação nativa, isto é, áreas florestais e campestres, pode ser comparada à área total do Japão (377.975 mil km²), ou ainda, mais que o dobro da Grécia (131.990 mil km²). A comparação foi feita a partir dos dados do Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra do órgão, que abrangeu os anos de 2000 a 2018.

Segundo o IBGE, somente o Pará perdeu 118.302 mil km² de território, enquanto o Mato Grosso registrou redução de 93.906 mil km² e Rondônia encolheu 38.532 mil km² de área florestal e campestre. A lista do instituto segue com a perda de todos os demais Estados da região: Tocantins (-28.235 mil km²), Amazonas (-19.648 mil km²), Maranhão (-18.399 mil km²), Acre (8.857 mil km²), Roraima (-6.963 mil km²) e Amapá (-1.655 mil km²).