Federação Nacional dos Jornalistas diz que Bolsonaro foi o maior agressor da imprensa

Sozinho, Jair Bolsonaro respondeu por 175 registros de violência contra a categoria (40,89% do total de 428 casos) (Divulgação)

28 de janeiro de 2021

11:01


Marcela Leiros

MANAUS – Um vídeo do presidente Jair Bolsonaro promovendo ofensas à imprensa viralizou nas redes sociais nessa quarta-feira, 27, e causou revolta. O motivo dos ataques foi a divulgação do valor gasto com alguns itens de alimentação no seu governo, mais especificamente com leite condensado e chicletes. O governo de Jair Bolsonaro gastou mais de R$ 1,8 bilhão em alimentos, sendo mais de R$ 15 milhões com leite condensado só em 2020, segundo o Portal Metrópoles.

No vídeo, Bolsonaro diz “e quando eu vejo a imprensa me atacar, dizendo que eu comprei 2 milhões e meio de lata de leite condensado, vá para p** que o pariu, imprensa de m* essa daí, é pra enfiar no r*** de vocês aí, vocês não [quem estava no evento com o presidente], vocês da imprensa, essa lata de leite condensado”.

Essa não foi a primeira vez que o presidente atacou a imprensa. De acordo com o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil – 2020, elaborado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o ano passado foi o mais violento desde o começo da década de 1990, quando a entidade sindical iniciou a série histórica. Foram 428 casos de ataques – incluindo dois assassinatos – o que representa um aumento de 105,77% em relação a 2019. Segundo o relatório, Bolsonaro foi quem mais atacou profissionais de imprensa.

Para a Fenaj, o aumento da violência está associado à ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República e ao crescimento do bolsonarismo. “Houve um acréscimo não só de ataques gerais, mas de ataques por parte desse grupo que, naturalmente, agride como forma de controle da informação. Eles ocorrem para descredibilizar a imprensa para que parte da população continue se informando nas bolhas bolsonaristas, lugares de propagação de informações falsas e/ou fraudulentas”, afirmou Maria José Braga, presidenta da Fenaj, membra do Comitê Executivo da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ) e responsável pela análise dos dados.

A descredibilização da imprensa foi uma das violências mais frequentes: 152 casos, o que representa 35,51% do total de 428 registros ao longo de 2020. Bolsonaro, mais uma vez, foi o principal agressor. Dos 152 casos de descredibilização do trabalho dos jornalistas, o presidente da República foi responsável por 142 episódios.

Sozinho, Jair Bolsonaro respondeu por 175 registros de violência contra a categoria (40,89% do total de 428 casos): 145 ataques genéricos e generalizados a veículos de comunicação e a jornalistas, 26 casos de agressões verbais, um de ameaça direta a jornalistas, uma ameaça à Globo e dois ataques à Fenaj.

Ataques virtuais e censuras

Também foi registrado aumento nos casos de Agressões verbais/ataques virtuais, com o crescimento de 280% em 2020 em comparação com o ano anterior, quando foram registrados 76 casos. O aumento foi bastante expressivo ainda nas categorias de censuras (750% a mais) e agressões verbais/ataques virtuais (280% a mais).

Os jornalistas passaram a ser agredidos por populares e houve aumento nos casos de agressões físicas e de cerceamento à liberdade de imprensa por ações judiciais. Segundo o relatório, as agressões físicas eram a violência mais comum até 2018, depois diminuíram em 2019 e, em 2020, cresceram 113,33%.

Já os episódios de cerceamento à liberdade de imprensa por meio de ações judiciais subiram 220%: de cinco em 2019, para 16 casos, em 2020.
Violência por gênero e tipo de mídia

Os homens seguem sendo as maiores vítimas de violência contra jornalistas representando 65,34% dos casos, mas foi registrado também um aumento expressivo de ataques às mulheres. Para a Fenaj, “os ataques verbais e virtuais contra as mulheres cresceram e sempre têm um caráter machista, misógino e com conotação literalmente sexual, o que é muitíssimo grave”.
A maioria dos jornalistas agredidos fisicamente ao longo de 2020 são trabalhadores de emissoras de televisão. Eles representam 24,44% dos 77 casos.