Fotógrafo registra cenário de guerra após enchentes em Itabuna, na Bahia

Imagens do pós-enchente e inundações na cidade de Itabuna no Estado da Bahia. (João Paulo Guimarães/ Revista Cenarium)

04 de janeiro de 2022

14:01

João Paulo Guimarães – Da Revista Cenarium

ITABUNA (BA) – Nos bairros Gogó da Ema e de Ferradas em Itabuna (a 316 quilômetros de Salvador, na Bahia), a água da chuva chegou forte e devastou tudo que via pela frente, sem aviso prévio. A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros também não prestaram atendimento nesses locais já que não havia como saber sistematicamente por onde poderiam começar os resgates, por isso, o foco de ação teve de ser concentrado no centro, onde era mais visível a situação.

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Imagens mostram ruas tomadas por entulhos, sujeira e destruição nos bairros mais afetados pela água em Itabuna. (João Paulo Guimarães/ Cenarium)

Tanto a população como as próprias instituições foram pegas de surpresa. As famílias em suas casas tiveram de sair às pressas, pois a força e o volume do rio que circunda o Gogó da Ema, por meio de canais, foi levando tudo em seu entorno. Essa água que corre dentro dos canais contém sujeira, dejetos sanitários de todo o bairro e foi a mesma que invadiu casas e expulsou a população do bairro da baixada de Itabuna.

Caminhando pelo bairro, é possível ver que a reconstrução e limpeza estão adiantados, mas em alguns pontos paramos para conversar com moradores como a dona Marilúcia dos Santos que é diabética e teve suas duas pernas amputadas no passar dos anos. Ela teve que ser carregada pelo filho Diego em meio à enchente para se salvar.

Ruas ficaram completamente cheias de entulhos. (João Paulo Guimarães/ Cenarium)

“É a primeira vez que eu vejo uma enchente assim. A água foi rápida e em questão de minutos a gente perdeu tudo. Subimos para o segundo andar da casa do meu cunhado, atrás de onde eu moro, para se abrigar. São 16 degraus, mas a água cobriu 14. A água veio descendo depois que abriram uma barragem. A gente até suspendeu algumas coisas como guarda-roupas e armário, mas não adiantou, porque a água foi até o telhado. A gente já não teve Natal por conta disso. Ano Novo, então, nem se fala. Foi só limpando e ajudando os vizinhos que perderam tudo”, disse Marilúcia.

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No bairro de Ferradas, na rua da Palha, a impressão é de que várias bombas explodiram no local evidenciando assim um verdadeiro cenário de guerra. A destruição maior ocorreu na parte de trás da rua. A água varreu tudo em sua frente. De diversas casas, sobraram apenas o piso e restos de alvenaria como tijolos e cerâmica. É possível ver camas em cima dos telhados e embarcações menores usadas na hora do episódio para resgatar moradores.

Animais deixados para trás durante fortes chuvas. (João Paulo Guimarães/ Cenarium)

Os animais domésticos que conseguiram se salvar estão voltando para suas antigas casas destruídas e ficam deitados o dia todo à espera dos donos que abandonaram os imóveis para não morrer.

Saulo Jesus dos Santos é um dos moradores mais antigos da rua da Palha, nasceu em Mascote (a 301 quilômetros de Salvador). Tomou a missão de ajudar a todos que precisavam durante a tragédia. Ele conta que, no momento em que saiu para ajudar a população, minutos depois um poste caiu em sua casa.

Imagens do pós-enchente e inundações na cidade de Itabuna no Estado da Bahia. (João Paulo Guimarães/ Cenarium)

“Quando a água invadiu, foi de uma vez. Eu e meus filhos de 18 anos, saímos de casa. Ele com sua filhinha pequena, meu outro filho de 19 anos e minha esposa. Nós saímos daqui e fomos para o ponto de apoio para a casa de um amigo mais lá para baixo no começo da rua, mas o ponto de apoio também encheu e acabamos indo para o Parque de Exposições de Itabuna. Tem um pessoal da prefeitura aí que veio aqui, mas não sei o que aconteceu não. O prefeito Augusto Castro veio, mas ainda não sabemos de que forma a prefeitura vai proporcionar ajuda”, disse Saulo.

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