‘Fui o único que enfrentou o sistema’, diz candidato a vereador sobre Cartel de Combustíveis de Manaus

Rodrigo Guedes avaliou o cenário político e econômico instalado no município com os donos de postos de gasolina (Samuel KNF/Revista Cenarium)

14 de novembro de 2020

07:11

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – O ex-titular da Secretaria Municipal de Defesa do Consumidor e Ouvidoria (Procon Manaus) e líder da investigação sobre o “Cartel dos Combustíveis” da capital amazonense, Rodrigo Guedes (PSC), destacou nesta sexta-feira, 13, à REVISTA CENARIUM, o cenário político e econômico instalado no município com os donos de postos de gasolina e disse que foi o único que combateu o sistema.

Guedes revelou que conheceu o sistema de frente e que, antes mesmo de entrar no Procon, observava que a prática de cartéis, caracterizado por um acordo explícito entre concorrentes para fixação de preços, não era questionado por nenhuma autoridade.

“Fui o único que enfrentou o sistema, lutando contra eles e cumprindo minha função. Não era uma luta política, era uma guerra institucional para que a lei fosse cumprida”, afirmou Guedes. Segundo ele, os donos de postos de combustíveis são pessoas extremamente poderosas do ponto de vista econômico e político e lutar contra eles, foi um verdadeiro desafio.

Formado em Direito pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e pós-graduado em Administração Pública pela mesma instituição, além de atuar como secretário do Procon, Rodrigo Guedes já foi Ouvidor-Geral do Município de Manaus, e subsecretário da Juventude, também pela Prefeitura da capital amazonense.

Ex-Procon Manaus, Rodrigo Guedes tenta uma vaga na CMM (Divulgação/Procon Manaus)

Aos 34 anos, o ex-secretário foi autor dos programas Bolsa Idiomas e Bolsa Pós-Graduação, na gestão do prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB), que já beneficiaram mais de 50 mil pessoas. Guedes também foi um dos idealizadores do programa Bolsa Universidade.

Como propostas, o candidato a vereador enfatizou que pretende atuar de forma mais fiscalizadora para garantir os direitos dos consumidores. O postulante afirmou que, caso eleito, irá propor um projeto de lei para que, no mínimo, 10% dos cargos de confiança dos vereadores, da Câmara Municipal e da Prefeitura de Manaus, sejam ocupados por Pessoas com Deficiência (PCD’s).

Ainda para PCDs, o ex-secretário salientou que irá “lutar pelos invisíveis”, fiscalizando e cobrando a acessibilidade em órgãos públicos e em calçadas e quaisquer espaços públicos. Além disso, Guedes afirmou que irá propor a recriação do Procon Manaus e fiscalizar sua atuação. Para o candidato, o Procon Manaus deve ter foco em problemas causados pelas grandes empresas e não as pequenas empresas.

“Não serei mais um que será omisso e muito menos partícipe desse sistema criminoso que existe na cidade de Manaus. Minha maior defesa é não ser mais um e não são palavras ao ventre. Já deixei claro que estou brincando de fazer política. Não estou aventurando, não estou querendo fazer; eu já fiz e deixei muito claro a que eu vim, que é justamente para enfrentar o sistema, o poder, não me curvar, não me vender. Não serei conivente e muito menos cúmplice, pois não vou ficar calado”, desabafou.

‘Senti medo’

Durante o período em que esteve à frente do Procon, Rodrigues Guedes esteve à frente das denúncias contra um esquema criminoso que se instalou na capital amazonense. À REVISTA CENARIUM, o ex-secretário revelou que a todo momento sentia medo de ser atacado, pois chegou a sofrer ameaças de morte.

“A todo tempo, de fato, tive medo, porque essas pessoas não têm limite pelo dinheiro e pelo poder. Aconteceram muitas coisas. Os bastidores disso são pesadíssimos. Particularmente, não sou de fazer vitimismo, mas foi de fato muito pesado, algumas ameaças veladas.

‘Tentavam me comprar, mas nunca cedi’

Guedes contou, ainda, que ele costumeiramente era procurado para uma prática de propina. Segundo ele, as empresas o procuravam, mesmo que indiretamente, para tentar suborná-lo, mas que ele nunca cedeu.

“Aconteceram muitas tentativas de cooptação, tentativa de me comprar. Se eu fosse uma pessoa minimamente corrupta, com certeza teria me vendido. Chegavam em mim por meio de emissários, deixando muito claro que eu não iria vencer e então era melhor eu me aliar. Tentavam me comprar a todo momento, mas eu nunca cedi. Não teve conversa, não teve diálogo nenhum. Enfrentei essas grandes empresas e acima de tudo, de forma alguma, me vendi ao sistema”, disse.

Preço da gasolina

Nas redes sociais, o candidato a vereador lançou um desafio para que os donos de postos manterem o preço do combustível, em Manaus, depois das eleições.

Segundo o postulante disse na publicação, muitos proprietários de postos são candidatos a vereador e mantiveram o baixo preço durante os meses de outubro e novembro para chamar a atenção do eleitorado e não perderem as eleições.

“Tenho certeza, mais que absoluta, que o preço está baixo porque os donos dos postos de gasolina são candidatos a eleição ou reeleição. Eles estão querendo maquiar para não chamar a atenção desse tema na época da eleição. Não precisa de uma bola de cristal para saber disso, pois é muito óbvio”, pontuou à CENARIUM.