Grande Belém teve 323 pessoas baleadas até metade do ano; 13% atingidas em casa

Ação da Polícia Militar do Pará (Bruno Cecin/Agência Pará)

03 de agosto de 2024

19:08

Fabyo Cruz – Da Cenarium

BELÉM (PA) – No primeiro semestre de 2024, período que corresponde entre os meses de janeiro a junho, 323 pessoas foram baleadas durante tiroteios registrados na Região Metropolitana de Belém (RMB), sendo 41 delas atingidas dentro de residências, conforme apontou o relatório divulgado pelo Instituto Fogo Cruzado no Pará. O número de atingidos por arma de fogo em casa corresponde a 13% do total de vítimas baleadas na Grande Belém.

Os fatores que podem explicar o alto número de disparos em residências são dispersos e é difícil afirmar as motivações com certeza, porém alguns padrões são observáveis, diz à CENARIUM o coordenador do Instituto Fogo Cruzado no Pará, Eryck Batalha. “O destaque, ao contrário do que se poderia pensar, não se relaciona com roubos, brigas ou suicídios, mas sim à tentativa de homicídios e operações e ações policiais”, destacou.

O coordenador do Instituto Fogo Cruzado no Pará, Eryck Batalha (Divulgação)

Batalha explica que os homicídios e tentativas de homicídio geralmente ocorrem em ataques armados sobre rodas, o que sugere a ação de grupos criminosos. Segundo o coordenador, as duas situações correspondem a cerca de metade das ocorrências (20). As ações e operações policiais também se destacam pela alta letalidade (16 ocorrências). “A única certeza que podemos extrair dos dados é que o sentimento de insegurança está invadindo as casas na RMB”, afirmou.

Vítimas e crimes registrados

Segundo o coordenador, é possível identificar o perfil das vítimas de baleamento no Estado, que são majoritariamente homens cisgênero adultos e negros. O relatório aponta que os bairros com o maiores números de registros de disparos em residências foram: o Centro do município de Ananindeua, com 5 registros; seguido dos bairros do Guamá (3 registros) e Terra Firme (2 registros), ambos na periferia de Belém. O restante dos registros se distribui nos outros bairros da Região Metropolitana.

“Dois pontos chamam a atenção nesses dados. O primeiro, gritante, é a quantidade de homicídios e tentativas de homicídios com indícios de ação de grupos criminosos. O uso dos dados do Fogo Cruzado pelos órgãos competentes podem ajudar a identificar o problema e melhor empregar os recursos governamentais para reduzir a letalidade por armas de fogo. Outro ponto que deve nos preocupar é o alto grau de participação dos agentes de segurança pública na letalidade por armas de fogo”, afirmou Eryck Batalha.

Pichação marca presença de facção criminosa (Divulgação/Polícia Militar)

O coordenador do Fogo Cruzado ressalta, ainda, que é o Estado quem deve trabalhar para a redução da letalidade, em defesa da vida, não o contrário. “Precisamos de forças policiais que defendam e preservem a vida, qualificados e capacitados para lidar com situações de pressão e que tenham a força letal como último recurso. Em resumo, precisamos de políticas em defesa da vida, embasada em dados e com participação da população, que cotidianamente vivem esse sentimento de insegurança”, destaca.

Políticas públicas

De acordo com Eryck Batalha, a partir da geração cidadã de dados, que inclua a população no processo de produção de conhecimento sobre o problema da violência, é possível conhecer os desafios com profundidade. “Política pública de qualidade se faz com dados de qualidade, e dados de qualidade são possíveis apenas com participação popular. Entender as motivações e os agentes envolvidos na violência armada é o primeiro passo para criar políticas de diminuição da letalidade”, conclui.

A reportagem solicitou um posicionamento ao Governo do Pará sobre os dados da violência e não obteve retorno até a publicação da matéria.

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Editado por Adrisa De Góes