Grupo de mulheres protesta contra feminicídio em stand up paddle no Rio Amazonas

As Manas do Sup durante protesto no Rio Amazonas, no Amapá (Reprodução/Internet)

11 de agosto de 2020

09:08

Luciana Bezerra – Da Revista Cenarium

MANAUS – A cada dois minutos, cinco mulheres sofrem algum tipo de violência no planeta, conforme aponta o relatório “O Progresso das Mulheres no Mundo 2019-2020: Famílias em um mundo em mudança”, da Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com o estudo, cerca de 17,8% de mulheres em todo o mundo relataram violência física ou sexual de seus parceiros nos últimos 12 meses.

Para tentar sensibilizar as autoridades locais em relação a este índice alarmante e alertar mulheres que estejam passando por algum tipo de violência, um grupo de mulheres do Amapá, praticantes da modalidade esportiva stand up paddle (Sup), fizeram um  protesto no Rio Amazonas, pedindo o fim da violência doméstica e contra o feminicídio.

As “Manas do Sup”, como o grupo é conhecido, vestiram-se de preto e em suas pranchas ergueram faixas e mostraram a palma da mão marcada com a letra “X” em vermelho, que simboliza a campanha “Sinal Vermelho”, cujo objetivo é incentivar denúncias de abusos domésticos em todo o país, contra as mulheres e forma de chamar a atenção para a valorização da vida feminina e dá apoio às famílias das vítimas mortas pelos parceiros no Estado do Amapá.

O protesto se estendeu até o calçadão da orla em frente ao trapiche Eliézer Levy. De acordo com uma das integrantes do grupo, Tatiana Costa, o ato é uma forma de chamar a atenção e sensibilizar outras mulheres a apoiar a causa.

“Nos reunimos por nos sensibilizarmos com histórias de mulheres de dentro do grupo de stand up que já sofreram algum tipo de abuso, de violência física, doméstica, verbal ou psicológica. E, por meio do esporte, acolhemos essas mulheres como uma forma de distração e de socorro”, alerta Tatiana. 

Também participaram do protesto familiares da cabo da Polícia Militar, Emily Miranda, assassinada pelo ex-companheiro, no dia 12 de agosto de 2018 e da empresária, Kátia Silva, assassinada pelo então namorado no dia 8 de julho passado.

Segunda a mãe da cabo da PM, Aldineia Miranda, o ato é muito importante. “É muito louvável. As meninas estão de parabéns. Enquanto mais pessoas apoiarem essa causa, levantando essa bandeira, mais força o grupo terá para seguir adiante”, comenta Aldineia.

Para a irmã de Kátia Silva, Ana Tereza, a família não esperava que a irmã fosse morrer de uma forma tão trágica. “A Kátia era uma pessoa tão religiosa, e uma mãe carinhosa e atenciosa. Sem dúvida se ela estivesse viva, com certeza ela estaria abraçando essa causa também, pelas mulheres”, pontua Ana.

O grupo pretende fortalecer cada vez mais as ações de inclusão do esporte nos protestos para combater a violência contra as mulheres que estão enfrentando relacionamentos abusivos, mas que tem medo de denunciar.

“Às vezes elas saiam de casa, procuravam o esporte e no grupo das Manas do Sup, elas sentiam-se à vontade para desabafar e diziam que estavam passando por algum tipo de violência. E nós imediatamente entrávamos com socorro, através do esporte ou de alguém que conhecíamos para ajudá-las a sair dessa situação”, conclui Tatiana Costa.

Tatiana ressalta ainda que no grupo há mulheres de todos os tipos de profissão como, administradoras, psicólogas, entre outras profissionais que acabam se tornando uma rede de apoio para que essas mulheres vítimas de violência sintam-se seguras para denunciar o quanto antes. 

Ponto de vista antropológico sobre o tema

Para a antropóloga Fabiane Santos, a questão da violência doméstica não pode ser tratada com indiferença. Segundo ela, o Estado tem obrigação de estabelecer formas de enfrentamento dessa violência. 

“A Lei Maria da Penha, apesar de ainda precisar de muitas melhorias, é um instrumento válido para proteger essas mulheres vítimas de violência doméstica. A denúncia é uma forma de enfrentamento desse agressor. É preciso que a sociedade pense nisso como algo que tenha a ver com a própria noção de civilização, porque num lugar em que a mulher é tratada como um ser de segunda categoria, não se pode pensar num país democrático e livre, enquanto esses sujeitos não tiverem igualdade de condições. Mulheres e homens têm formas de ver o mundo diferente. Mas que precisam ser equiparados em termos de cidadania e isso tem a ver com o enfrentamento dessa violência”, conclui a antropóloga.

Número de denúncias

Ainda segundo dados da ONU, na comparação entre os meses de março de 2019 e 2020, o número de denúncias registradas no Ligue 180 cresceu em 17,9%. Em abril, período em que já havia quarentena decretada em todos os estados do país, o aumento registrado foi de 37,6% em relação ao mesmo período do ano passado. O Ligue 180 é a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, do Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos. A linha foi criada em 2005 para receber denúncias de violência contra a mulher, além de fornecer orientação às mulheres sobre seus direitos e sobre a rede de atendimento à mulher.

O Ligue 180 é a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, do Ministério da Mulher da Família e dos Direitos Humanos. A linha foi criada em 2005 para receber denúncias de violência contra a mulher, além de fornecer orientação às mulheres sobre seus direitos e sobre a rede de atendimento à mulher.