Há 31 anos, casamento gay deixa de ser tabu e vira realidade

O primeiro casal gay a oficializar a relação homossexual foi a dos dinamarqueses Axel e Eigil Axgil, em 1989 (Luís Henrique Oliveira/ Revista Cenarium)

02 de outubro de 2020

09:10

Luciana Bezerra — Revista Cenarium

MANAUS — Após 31 anos da Dinamarca ter se tornado o primeiro País a aprovar a união civil entre pessoas do mesmo sexo, o número de casamentos homossexuais pipocou mundo afora. No Brasil aumentou 61,7%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Amazonas registrou, no mesmo período, um crescimento de 40% na união de pessoas do mesmo sexo.

O casal amazonense Luciano Henrique de Oliveira [jornalista], de 26 anos, e Alberto Pereira Martins Filho [personal trainer], de 28, se conheceu em uma academia da cidade, em 2019. De acordo com Luciano, a amizade entre os dois foi florescendo e quando perceberam já estavam trocando alianças de compromisso sério. No entanto, o jornalista pondera quando o assunto é oficialização da união perante a lei.

Luciano Henrique e Alberto Pereira trocam alianças de compromisso durante jantar romântico (Divulgação/Arquivo Pessoal)

“Como uma união estável é um passo muito importante na vida de uma pessoa, nós acreditamos, por ainda sermos jovens, que deve ser muito bem pensada, pois desejamos que seja duradoura, regada à amizade, respeito, fidelidade e amor”, frisa o jornalista.

Já a publicitária Fabiana Loretto e a médica Carla Monteiro oficializaram a união há dois anos. Contudo estão juntas de fato desde 2008, quando se conheceram em um intercâmbio no exterior. Na época, relata a médica, existia o receio de como iria explicar para a família que estava namorando uma mulher após anos se relacionando com homens.

O primeiro País a reconhecer a união civil homoafetiva foi a Dinamarca, em 1989 (Reprodução/ Internet)

“Nossa relação aconteceu de forma inusitada. Eu havia terminado um relacionamento de cinco anos com um rapaz e resolvi tirar um período sabático e segui para um intercâmbio no Canadá por um ano. Conheci a Fabiana durante o voo para aquele País. Nossa amizade foi fortalecendo e um dia ela disse que estava apaixonada por mim, porém, eu também estava gostando dela, mas não sabia que sentimento era aquele e também tinha preconceito. Hoje somos casadas, temos três filhos [cachorros, risos] e somos muito felizes e aceitas por nossas famílias”, relembra a médica.

Carla disse ainda que a história delas teve um final feliz. Mas, nem sempre é assim. Segundo a médica, existem amigos e conhecidos que, infelizmente têm relatos diferente do delas. “Muitos dos meus amigos e conhecidos estão passando ou já passaram por situações vinculadas à abusos, preconceito e injustiça, simplesmente porque se amam”, conclui.

História

O primeiro casal gay a oficializar a relação homossexual foi a dos dinamarqueses Axel e Eigil Axgil, em 1989. O documento foi assinado pela rainha Margrethe II e publicado no dia 7 de junho, na Dinamarca.

Na época, a rainha chancelou uma lei pioneira pelos parlamentares dinamarqueses e desde então, o País escandinavo passou a ser o primeiro do mundo a reconhecer oficialmente a união estável civil entre casais do mesmo sexo.

Certidão de casamento do casal dinamarquês entre Axel e Eigil Axgil (Reprodução/ Internet)

Apesar de devidamente aprovada pelos parlamentares e rubricada pela rainha, a lei só entrou em vigor em 1º de outubro de 1989.

Mesmo assim, o casal já vivia junto há quatro décadas e era bastante conhecido entre aqueles que lutavam pelos direitos da comunidade LGBT: os ativistas Axel Lundahl-Madsen (1915-2011) e Eigil Eskildsen (1922-1995) que, como prova de amor, já haviam adotado o sobrenome Axgil – inventado a partir da junção de seus nomes.

Dados do IBGE

Em 2018, foram registrados 49 casamentos homoafetivos, contra 35 celebrados em 2017. Ainda, segundo dados levantados pelo IBGE, foram 18 registros de casamentos entre homens e 31 casamentos entre mulheres no Amazonas, em 2018. Já em 2017, em torno de 13 casamentos entre homens e 22 entre mulheres haviam sido realizados.

Apesar do crescimento, os dados ainda são menores em comparação aos registros de anos anteriores. Em 2016, 31 casamentos entre homens e 39 entre mulheres foram computados pela entidade, totalizando 70 casos.

Vale lembrar que em maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma nova resolução, de autoria do ministro Joaquim Barbosa, que obriga os cartórios de todo o País a celebrar o casamento civil e converter a união estável homoafetiva em casamento. Naquele ano, foram registrados 3,7 mil em todo o país. Nos quatro anos seguintes, a média foi de 5,4 mil casamentos por ano. Já em 2018 foram 9,5 mil.