Indígenas aprendem a pilotar drones para monitorar territórios em Rondônia

O curso é ofertado em Porto Velho e contempla indígenas das etnias Gavião, Arara, Paiter Suruí, Wari e Uru-Eu-Wau-Wau. (Reprodução/Associação Kanindé)

15 de setembro de 2021

18:09

Iury Lima – Da Cenarium

VILHENA (RO) – Por meio da integração com a tecnologia, cinco povos indígenas de Rondônia ganham uma nova arma para lutar pelos direitos e defesa de territórios que são constantemente invadidos e explorados. O curso “Drones para a Conservação Ambiental” está sendo ofertado em Porto Velho, capital do Estado e comtempla indígenas das etnias Gavião, Arara, Paiter Suruí, Wari e Uru-Eu-Wau-Wau.

As aulas são fruto de uma parceria entre a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, organização sem fins lucrativos que atua em Rondônia, e o WWF-Brasil, que doou equipamentos de monitoramento e prevenção ao fogo, por exemplo, para vários povos das florestas, por meio do projeto “Emergência Amazônia”, que já beneficiou mais de 70 mil pessoas diretamente e está presente em mais de 90 milhões de hectares da maior floresta tropical do mundo.

Em Porto Velho, indígenas de cinco etnias aprendem a pilotar drones para monitorar territórios. (Reprodução/Associação Kanindé)

Fiscalização aérea

Já terminaram o ciclo de treinamento para o manuseio dos equipamentos, os indígenas Gavião, Arara e Paiter Suruí. Para essas populações, a doação de equipamentos tecnológicos de alta qualidade e a capacitação técnica são sinônimos de autonomia, de reafirmação de seus domínios territoriais, além de seu reposicionamento ao próprio local de fala, uma vez que as informações e flagrantes captados vão abrir caminho para cobrar maior efetividade da União na proteção e demarcação de terras, além de políticas públicas eficazes para a preservação da floresta amazônica.

Dessa maneira, a etnia Gavião, ou Ikolen, como se denominam, uma população formada por menos de mil pessoas, que sofreu com diversas doenças desde o primeiro contato com o homem não indígena, poderá, agora, monitorar o território em que habitam na região do município de Ji-Paraná, próximo à divisa com o Mato Grosso.

Indígenas Gavião (Ikolen), na TI Iguarapé Lourdes, em Rondônia. (Reprodução/Pacto das Águas)

Já os Arara (Karo) vão proteger a Terra Indígena (TI) Igarapé Lourdes, ao sul do Estado, com mais facilidade e, os Paiter Suruí, continuarão protegendo os quase 250 mil hectares da TI Sete de Setembro, entre cidades de Rondônia e vizinhas mato-grossenses.

Na próxima quinta-feira, 16, é a vez dos povos Wari e Uru-Eu-Wau-Wau participarem da capacitação. Esta última etnia é formada por um pequeno grupo que não chega ao número de 150 pessoas. Os habitantes da Terra Indígena que leva o mesmo nome estamparam jornais na década de 1970, com episódios marcados por conflitos agrários.

Acostumados a sobreviver, entre eles, o drone já figura um instrumento comum e forte aliado na conservação do ecossistema em que estão inseridos. Os Uru-Eu-Wau-Wau fazem uso de drones desde 2020 e foram uma das comunidades, entre cerca de 140, contempladas com doações de equipamentos para o monitoramento, combate ao fogo e itens de prevenção à Covid-19, em toda a Amazônia, por meio do WWF-Brasil. 

Proteção territorial

No final de agosto, a Justiça Federal de Vilhena (RO), município localizado a 705 quilômetros de Porto Velho, obrigou a Fundação Nacional do Índio (Funai) a reconhecer os limites territoriais de TIs situadas em nove cidades rondonienses:

  • Cabixi;
  • Cerejeiras;
  • Chupinguaia;
  • Colorado do Oeste;
  • Corumbiara;
  • Espigão d’Oeste;
  • Pimenta Bueno;
  • Pimenteiras do Oeste, e
  • Vilhena. 

A decisão também derrubou a Instrução Normativa 09/2020 que possibilitava o registro de propriedades rurais sobrepostas às áreas protegidas que ainda não constavam nos sistemas do governo federal. Na época, o Ministério Público Federal (MPF) considerou que o decreto “liberava a grilagem” e que poderia “alimentar novas disputas por terra”.