Maior apreensão de madeira na história aponta para tragédia ambiental: ‘Dano irreparável’, diz ambientalista

A apreensão de 43.700 toras, ocorrida no oeste do Pará, ao longo dos rios Mamuru e Arapiuns é considerada a maior da história do país (Divulgação/ Agência Pará)

21 de dezembro de 2020

14:12

Gabriel Abreu

MANAUS – Considerada a maior apreensão da história, mais de 130 mil metros cúbicos madeira, retirada da floresta de forma ilegal, foram resgatados pela Polícia Federal (PF) durante a Operação Handroanthus GLO, executada nos últimos sete dias. A ação levantou o debate entre especialistas que apontaram ser um “dano irreparável” ao meio ambiente.

Em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), a PF conseguiu chegar à quantidade de 43.700 toras de madeira no Pará, ao longo dos rios Mamuru e Arapiuns, em uma região que faz fronteira com o Amazonas por meio do município de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus). Pesquisadores ouvidos pela REVISTA CENARIUM comentaram os impactos do crime à floresta.

De acordo com o MPF, as investigações tiveram início em meados de novembro, após a apreensão de uma balsa em Parintins, com 3 mil metros cúbicos de madeira extraídos do Pará.

Informações sobre a origem desse carregamento e análise de imagens de satélite por meio do Sistema Planet levaram a Polícia Federal, em sobrevoos de helicóptero, aos pontos onde foram encontradas as toras de madeira no rio.

Ramais irregulares

O ambientalista Carlos Durigan explicou que a extração ilegal de madeira é feita sem nenhuma boa prática de manejo, o que leva a produzir grandes impactos, seja sobre as espécies exploradas e cortadas, assim como em toda a área onde ocorrem, com a abertura irregular de ramais e picadas para acesso às áreas e extração.

“Na falta de manejo, acabam por extrair grandes árvores que numa área de manejo não seriam retiradas. Muitas delas com centenas de anos
assim uma área com este tipo de exploração”, afirmou o especialista.

Para ele, dificilmente a área voltará a ter a mesma fisionomia já que parte da região passou a ser utilizadas por outras atividades impactantes, como agricultura e pecuária extensiva. “Com essa mudança de cenário, o local desmatado ficam mais propenso a incêndios florestais”, explicou Durigan.

Toras de madeiras apreendida pela PF há um mês no Pará
(João Paulo Guimarães/ Revista Cenarium)

De acordo com o procurador da República Leonardo Galiano, a estimativa inicial em relação ao volume de madeira apreendido é de 131,1 mil metros cúbicos, mas esse número pode ser ainda maior.

O combate à exploração de madeira na floresta Amazônica foi tema de reunião do MPF com Ministério do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na última semana e resultou no encaminhamento de medidas para prevenir a prática do crime na região.

Também foram discutidos os resultados da Operação Arquimedes o impacto da repressão à exploração ilegal de madeira e os índices de desmatamento na Amazônia.

Espécies ameaçadas

A necessidade de inclusão do ipê na lista de espécies florestais ameaçadas de extinção ou em situação de alerta da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (Cites, na sigla em inglês) também foi pauta da reunião entre MPF, MMA e Ibama.

A medida é objeto de procedimento do MPF no Amazonas. O ipê, cujo nome científico é Handroanthus, é a espécie mais explorada da região amazônica, de acordo com dados consolidados da Operação Arquimedes.

O Ministério do Meio Ambiente, o Ibama, o Jardim Botânico do Rio Janeiro e outras instituições estão levantando os dados e identificando os estudos sobre o tema para atender às requisições do MPF, que deverão subsidiar as providências adotadas pelo órgão.

Estatísticas alertam

Em novembro de acordo com dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon, em apenas um mês, foram derrubados 484 km² de área verde. O número é 23% maior se comparado ao mesmo período do ano passado, quando foram desmatados 393 km².

O total desmatado em novembro de 2020 é o maior da série histórica dos últimos dez anos. Vale ressaltar que, há alguns meses, o desmatamento vem batendo recordes, o que preocupa especialistas. 

No ranking dos estados que mais desmataram a Amazônia, o Pará aparece novamente em primeiro lugar, com quase a metade (48%) de todo o desmatamento na Amazônia Legal. Em seguida vem Mato Grosso (19%), Rondônia (10%), Maranhão (9%), Amazonas (8%), Acre (3%), Roraima (2%) e, por último, Amapá (1%).