Mais do que uma artista, Márcia Novo tem sido uma voz na luta pela causa indígena

Engajada, a artista amazonense fez da causa indígena, sua militância social (Divulgação)

05 de outubro de 2020

08:10

Luís Henrique Oliveira e Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – Uma das mais incensadas vozes da música amazonense decidiu arregaçar as mangas para ajudar a causa indígena no Amazonas. Márcia Novo criou o movimento ‘Vidas Indígenas Importam’. Em entrevista à REVISTA CENARIUM, a artista de Manaus explicou as causas do engajamento social.

Ativa na cena manauara, a cantora busca nas raízes amazônicas as inspirações para compor seus trabalhos autorais (Reprodução/ Divulgação)

De acordo com ela, o interesse na causa surgiu no início do ano, por ocasião de um de seus trabalhos, o Eletroboi. “Para esse videoclipe, chamei algumas amigas indígenas para participar, entre elas a Irá Tikuna e foi por conta dela que nasceu o projeto ‘Vidas Indígenas Importam’, recordou.

Por conta da locomoção após a produção, Irá precisava se deslocar para a aldeia urbana em Manaus. “Era uma preocupação nossa saber como a Irá ia chegar em casa, pois ela morava em uma aldeia com mais ou menos uma hora de distância de Manaus. Então, a Irá era uma preocupação que a gente tinha”, relembrou Márcia Novo.

Pedido de ajuda

No desenrolar das gravações, segundo Márcia Novo, veio o pedido de ajuda. “Ela me pediu duas cestas básicas e eu perguntei quantas pessoas tinham na sua comunidade e ela disse: 70. Foi quando eu entendi que precisávamos fazer uma vaquinha entre amigos”, contou.

“Lembro que fomos para o ‘Parque das Tribos’ e cheguei com 10 cestas básicas e lá tinham quase 10 mil pessoas! O detalhe é que os índios do contexto urbano não são reconhecidos como indígenas, logo, eles não têm direitos como indígenas”, observou a cantora.

A iniciativa terminou por virar uma campanha. “Então, percebendo isso, a gente entendeu que não poderia parar. Foi quando eu comecei a jogar na rede social atrás de demais doadores. Foi assim que nasceu o Vidas Indígenas Importam”, resumiu.

Empatia

Márcia Novo na capa de ‘Amazônia Pop’ , um de seus álbuns mais bem produzidos e que marcou uma guinada na carreira da artista (Divulgação)

Questionada sobre a realidade e a proatividade da comunidade musical, ela comentou: “Sei que muitos músicos do Amazonas passaram fome nessa pandemia. É um setor que foi muito afetado, mas também vi muitos amigos da música trabalhando em prol da classe”, comentou.

Sobre outros artistas na causa indígena ela não soube precisar. “Eu não sei se algum músico ou artista amazonense fez algo em prol das comunidades indígenas. Eu acho que a gente, como artista, precisa não só cantar e fazer música, mas ser proativo para além da música, mas isso vai de cada um”, ponderou a artista.

Raízes amazônicas na Vogue Brasil

A militância de Márcia Novo, aliada ao talento, a levaram para as páginas da Vogue Brasil. A artista fez parte do ensaio ‘Guardiões da Floresta’ da edição de setembro. “Me senti muito lisonjeada, porque é uma revista internacional. Meu trabalho, naturalmente, se conectou com o ‘Vidas Indígenas Importam’, avaliou.

A cantora acredita também que sua ‘amazonidade’ influenciou. “Eu sempre estive fincada na cultura regional. beiradão, boi-bumbá, brega, lambada. Minhas maiores referências foram Carrapicho, dona Onete, Chico da Silva e os bois de Parintins”, elencou.

Ela conta que a arte foi libertária em sua vida. “Sou formada em direito e tinha uma grande chance de ser advogada, mas não me arrependo nem um pouco da decisão que eu tomei de não ter tirado a minha OAB”, revelou com bom humor.

Como planos para o futuro, Marcia revela que a criação e produção das máscaras produzidas no Parque das Tribos não irá parar. “Nossas máscaras giraram o mundo. Saíram em capa de revistas internacionais. Elas fazem parte do pacote de kit de higiene, cestas básicas e remédios”, revelou.

Presença constante em grandes shows no Amazonas, Marcia Novo planeja agora, alçar voos internacionais na carreira (Reprodução/ Divulgação)

Foco na maloca

Para os próximos meses, a ideia é estruturar uma das aldeias. “O nosso foco é levantar a maloca da aldeia Iambé, que vai ajudar no fomento do turismo e essa maloca é um símbolo muito importante para a aldeia. O foco de uma maneira geral agora é fomentar a economia”, planejou.

Quanto aos planos da cantora Marcia Novo, ela revela. “Os meus planos continuam os mesmos, eu quero poder contribuir com a minha terra, com as pessoas, com os povos daqui e continuar fazendo uma música que eu gosto de fazer aqui a música da Amazônia”, descreveu.

Entre ativismo e arte, ela não esconde seus objetivos. “Quero com certeza alçar uma carreira internacional. Já morei sete anos em São Paulo e agora quero levar minha música para fora do Brasil, mas ainda é momento de esperar, embora as coisas estejam voltando devagarzinho”, finalizou.